domingo, 4 de dezembro de 2011

Vagalumes




Na imensidão do horizonte
Eis que vejo sob a bruma
Tão leve quanto pluma
Algo vem de trás do monte

Destaca-se no escuro
Dançando em tom de claro
Sem limite de anteparo
Tão pequeno e seguro

Porém, de repente
Observo com atenção
Parecia reunião
Poderosa e abragente

E um ponto quase nada
Vem tornar-se um clarão
Luminosa multidão
Uma quase alvorada

E o mais interessante
É que o certo perdeu vez
O escuro se desfez
Por rebeldes tão brilhantes.

(Arthur Valente)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Esclarecimento




Pergunto-me com frequência
Não sei se por insegurança
Até onde minha ideia alcança?
Será que faz diferença?

A indagação me perturba
Me faz rolar a noite inteira
Será minha ideia passageira?
Simples fruto de uma mente desturba?

Percebo que não vou dormir
Caminho até a sala para pensar
Eis, então, que ouço me chamar
Uma voz estranha a grunhir

A voz me diz calmamente
Pra não mais me preocupar
E se põe a discursar
Faz-se muito convincente

Diz que entende o meu penar
Porque todo o poeta é carente
Quer ser ouvido pela gente
Mesmo que venham para criticar

E então ponho-me a perceber
Que não posso temer ser esquecido
Tenho que lutar pra ser ouvido
Mesmo que seja só após morrer.

(Arthur Valente)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Soldados


A farda nos camufla
Camufla a nossa essência
Um exército que marcha
Pela autoviolência

Todos robotizados
Por padrões preconcebidos
Animais aprisionados
Ideais já tão falidos

Preconceitos ensinados
São, por nós, aprendidos
Depois são repassados
E no sangue diluídos

Marionetes somos nós
Manipulados por bandidos
Se soltamos clara voz
Por ninguém somos ouvidos

Mas quando a verdade vier
E as armas forem ao chão
O sol vai se abrir
Far-se-á a revolução.

Esqueceremos então quem fomos
Todas as trevas irão padecer
Seremos tudo que nós somos
Não o que nos mandaram ser.


sábado, 24 de setembro de 2011

Tédio



A tarde voava
O dia tão cinza
Frisava, ranzinza
Que o céu chorava

Chovia eu, também
Alma cansada
Quiçá disfarçada
Nem sei de quem

E lá fora, fumaça
Trapaça do tempo
Tudo mais cinzento
Frio que não passa

Tédio, apareça
Dia obscuro
Caiu de maduro
Na minha cabeça

Mas vale o momento
De desatenção
Montar a visão
Poetizada do tempo.

(Arthur Valente)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Filosofia Barata





Que queres de mim, vida?
Que me jogue a teus pés?
Que me arrisque ao revés?
Por que não me dás saída?

Que queres de mim, Deus?
Que te chame pai amado
Se nunca me vi carregado
Pelos fortes braços teus?

Que queres de mim, razão?
Que te use em meus dilemas
Se em milhares de problemas
Não encontro solução?

Que queres de mim, mulher?
Que te arrepie todo o dorso
E que depois de todo o esforço
Tu te dês à um qualquer?

Que queres de mim, eu?
Que me alimente todo o ego
Sendo que o peso que carrego
Mal me permite ser só meu?

(Arthur Valente)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Poesia da Barata






A barata quando corre
Corre sem ter direção
Se bebesse, era porre
Mas quer mesmo é refeição

Se arrisca e até morre
Por migalhas de pão
Enquanto a moça se socorre
Gritando em cima do balcão

E a pergunta que ocorre
À barata, em reflexão
É: "Por que a lágrima escorre
do monstro em cima do balcão?"

(Arthur Valente)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Flagelos



Os mesmos que,com frieza,
Riem de minha embriaguez
Embriagam-se de tristeza
Por manterem a lucidez.

Meu amor,
Não ouça o que lhe dizem
Não deixe que lhe pisem

Somos o remédio inválido
E singelamente cálido
Das feridas do mundo

Mergulhando ao fundo
Nos fazendo imundos
Querendo que estas cicatrizem

O autoflagelo, a destruição corporal
Às vezes como elo espiritual
não me fazem tão mal quanto o mundo que vivo

Quanto às bandeiras que sirvo
Quanto aos caminhos que sigo
Quanto ao choro de um amigo.

(Arthur Valente)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Célebres



Cultos escritores
Notáveis prosadores
Talentos apagados
Destruídos, criticados
Por reles faladores

Paisagistas sonhadores
Fantásticos pintores
Socialmente marginalizados
Tristes, maltratados
Pelos maus entendedores

Músicos encantadores
Artistas inovadores
Todos descartados
Sendo desperdiçados
Entre máquinas e vapores

Belos Fingidores
Péssimos atores
Solenemente endeusados.
Teria a arte se tranformado
Num castelo dos horrores?

(Arthur Valente)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Depressão




Um homem vivido
Viverá mais o quê
Quando não houver vida
Naquilo que ele vê?

Quanto vale a dor
Que aos poucos demole
E de gole em gole
Destrói seu portador?

O que faz um visionário
Entregar-se à cegueira?
Seria história traiçoeira?
Quem sabe conto do vigário?

O coitado passa a se perguntar
Quando tropeça e vai ao chão
Onde estará a inspiração
Que me fará levantar?

(Arthur Valente)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Mudança




Que importa a cor da pele
Quando a alma voa?
Se o ego repele
A consciência ressoa

Que importa o sexo
Quando é feito bem?
O gosto é complexo
Mas que mal tem?

Que importa o alguém
Quando em meio ao plural?
Planejar um comum bem
Frente ao constante mal

Que importa o que se pensa
Se o pensamento é fechado?
Orgulha-se a falsa crença
Do fiel alienado.

Que importa este dizer
Se não para ser refletido?
A razão mostra ao ser
O que passou batido

E que se mostre a ação
Como relfexo do pensar
Maus conceitos cairão
Para um melhor se levantar.

(Arthur Valente)

sábado, 4 de junho de 2011

Sonho


O céu manifesta-se e canta
Estrelas resplandecem dançando
O azul lunar vai se modificando
dando lugar à rubra manta

as flores beiram um sol lilás
nascem do mais alto pico montanhoso
cheiro doce, leve e sedoso
fabricam grandiosos e impalpáveis chás

O branco da terra adormece a pele
como a própria neve daqui faz
vasta,clara,poderosa e sagaz
o feio invisível, triste, se repele

o horizonte não surge sem um porquê
tampouco dá lugar à escuridão
as nuvens, rosas, de larga extensão
são maciças, maleáveis, de papel marchê

crianças brincam, felizes, nuas
a grande Alegria tem forte odor
os seres cativos degustam o Amor
que passa sorrindo por todas as ruas

O mundo não gira e não se mantém parado
a inércia passara bem longe dali
banana, maçã, caju e caqui
exalam um anil de toque aveludado

O mar, por si só, é inerente ao chão
A prata e ouro, opacos e despercebidos
o paraíso de todos permanece unido
onde a própria morte se rende à submissão.


sábado, 28 de maio de 2011

Carne Viva


Sem dor e sem receio
Do prazer que bate à porta
Somos linha mais que torta
Um só,meio a meio

Somos elo em carne viva
Presos por tesão estridente
Entre o suor e a saliva
Entre línguas e dentes

Desfrutamo-nos a vontade
Adrenalina estufando o peito
Transcedemos em deleito
Escapando da realidade

Explodimos a cada toque
Digladiando sutilmente
Procuramos gozo ardente
Querendo o mais intenso choque

O frio não incomoda
Nem tampouco o calor
Não temos padrão ou moda
Desdenhamos o amor

Quando quase finalmente
Externamos forte suspirar
Nos queremos eternamente
Enquanto o momento durar.


domingo, 22 de maio de 2011

Solidariedade Comedida



Sozinho
Seja só ou acompanhado
Afinal,quem estará ao lado
Lá pelo fim do caminho?

Somos tão carentes
Tão incrívelmente sociáveis
Procurando relações estáveis
Para sermos lembrados eternamente

E seremos?
Não,claro que não
Mas divagando tal ação
Intenção nobre,pelo menos

Sejamos,então,ponderados
Temos sim que conviver
Porém,sem esquecer
Que estamos aos nossos cuidados


E se tivermos de arriscar
Por qualquer outro alguém
Lembremos que,heroísmo convém,
Quando há razão para lutar.


(Arthur Valente)

terça-feira, 26 de abril de 2011

Duas Caras


Procuram respostas em frases feitas
Fazem promessas que não podem cumprir
E fingem se iludir com propositais desfeitas
Porque sabem que iludem quando querem persuadir

Esperam o bem a todo instante
Como se fossem tão bons quanto dizem ser
Escondem seus defeitos repugnantes
Num véu de virtudes que nunca virão a ter

Se demonstram descontentes
E até incoerentes
Quando procuram se defender

Mal sabem tais inconsequentes
Que por trás da máscara benevolente
São tão maus quanto um humano pode ser.

(Arthur Valente)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Desabafo




Por que tantos por quês?
Por que eles precisam tanto saber?
É errado, por um acaso, eu fazer
algo simplesmente por querer?

Dizem que eu tenho que esclarecer
Que tenho que me fazer entender
Mas não quero ter que dar um parecer
Sempre que alguém decidir me compreender

Que me deixem, em paz, viver
Minhas escolhas sou eu quem deve fazer
E se eu errar,pelo menos hei de aprender
Pois no fim, não quero me arrepender

O prazer pelo prazer
O tesão pelo tesão
Disposição para vencer
Liberdade em primeira mão

Procurando sempre aprender
Expandir a visão
Unindo o ser com o ter
E fazendo valer minha opinião.

(Arthur Valente)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Meus pêsames


O homem precisa comer
E não se importa de matar
Contanto que seja para saciar
Sua fome de poder

O homem precisa vencer
Não importa o que vai enfrentar
Muito menos o que o leva à lutar
Contanto que depois, possa se envaidecer

O homem precisa saber
Fazer a boca dos outros calar
Quer, com conhecimento, mostrar
Aos reles mortais que é um divino ser

Talvez, só falte ao homem perceber
Que um dia tudo, para ele, vai acabar
E quando esse dia, enfim, chegar
Quem sabe note que, sua vida, só o fez perder.

(Arthur Valente)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cores



Primeiro era o vermelho
Os músculos acentuados
Os nus corpos suados
Enganados por espelhos

Chega o branco, então
Vindo de longínqua distância
Traz consigo a ganância
E um projeto de civilização

Por terceiro, o preto
Tirado a força do lar
Trazido arrastado pelo mar
Compôs cultura do alto do gueto


Veio o amarelo,por fim
Com seus olhos puxados e caídos
Sua inteligência sensata,povo unido
que largou tudo,para completar a miscigenação assim.

E quem somos nós afinal?
Qual a cor do homem brasileiro?
Somos um pedaço do mundo inteiro
Um arco-íris sem igual.

(Arthur Valente)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Face Política






Vou à televisão
Aparento ser decente
E com discurso convincente
Engano toda uma nação

Demonstro seriedade
Finjo lutar pelos teus
Só ligo para interesses meus
Desconheço dignidade

E continuo sempre assim
Me contradizendo em ações
Não ligo para o que dizem de mim

Não me importo,pois no fim
Quando chegarem as eleições
Tu acabarás votando em mim.


(Arthur Valente)