quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Cigana


Menina dos olhos mistério
Meiga, cativa e formosa
Lisa a pele tão cheirosa
Beleza de rosa, real em critério

Sorriso doce e suave
Charme raro e dengoso
Corpo seguro em que pouso
Quase como se pousasse nave

Hospedo-me em ti e não saio
Concentro-me em tua alma de abismo
E é por querer que ando e caio

Pois és a alegria da vida
Em teu altar faço meu batismo
Em ti entro, sem querer saída.


(Arthur Valente)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Libertário

Homenagem a um grande poeta amigo que veio lá da "metrópole" conquistar o mundo. Espero que goste...
 
Assim como quero fruto e flor
Quero a paz que ainda me falta
Vim de longe, Cruz de Malta
Aventurando-me sem temor

Contemplei o esplendor
Do mar aberto, a terra nova
Desta aqui já fui senhor,
Hoje faço-me peralta

Minha lamúria sente dor
Pela alegria que deles salta

Mas que leveza pura
E que beleza rara
Deste povo que expõe na cara
Risos com destra cura

No samba, achei meu ópio
Meu sossego musicado
Desapego dedilhado
Libertando a mim próprio

Não nego que me bate a saudade
Do chão amado em que me criei
Trago de Lisboa, o estandarte
E para sempre carregarei

Mas não me limito às bandeiras
Nem aos costumes a mim impostos
Sou poeta luso dos portos
Livre das mentiras corriqueiras

Navegar sempre conciso
Pelo mar ou pela folha
Alguns o fazem por escolha
E eu, porque preciso

E que para sempre livre, eu cante
Que caminhe por todo o planeta
E quando, enfim, faltar-me caneta
Regresso à pátria como gigante.


(Arthur Valente)


Aos Dedicados

Não era grande o espaço
Mas sim a atitude aplicada
Que com esforço, passo a passo
Mostrava-se recompensada

Todos lutando unidos
Armados até os dentes do coração
Que abre-se a dedicação
Sem pressão de ser punido

E modifica-se o ambiente
mais claro, limpo, contente
Resplandece compaixão

E vê-se dos soldados valentes
Gritarem os espíritos estridentes
Emudecendo os latidos do mundo cão

E esperam os presentes
De fato, em plena ação
Que se faça abrangente, como já foi
Tal exemplo de gratidão.

(Arthur Valente)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Contemplação

Do céu faço chão, pois
Caminho entre estrelas desalinhadas
Totalmente despovoadas
E Impreganadas de sedução

Calmaria reflexiva
Que só o universo pode oferecer
Caminho entre estrelas desalinhadas
Porque o asfalto já não traz tanto prazer

Pois são tantas as noitadas
E as bebedeiras descontroladas
Que de desprendido, passei a me prender

Caminho por estrelas desalinhadas
Sem saber, e sem querer saber ao certo
Até onde posso percorrer

E adentro sozinho em tal jornada
Pois, somente a sós consigo me reconhecer

E varo em claro as madrugadas
Contemplando as luzes pelo céu a se mover

Faço trajetória desgovernada
Caminhando entre estrelas desalinhadas
Que, por fim, já apagadas
Dão lugar ao alvorecer.

Caminho até o sol nascer
E não lastimo sua chegada
Pois quando a noite vir me ter
Cantarei feliz à esfera prateada
E por estreladas desalinhadas
Volto a me locomer.

(Arthur Valente)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Poema de Victória

Dos cabelos encaracolados castanhos
Sinto-me estranho, como Caetano previu
Ao teu lado me acanho e sinto frio
Mas por tua natureza, me assanho

Dança como se não houvesse nada
E nada parece mesmo dançar assim
Oscila entre sutil e exagerada
Malícia caprichosa em rosto querubim

És tudo que eu aguardava há tanto
Tão fielmente que nem sei se acredito
Se te vejo com outros me irrito
Mas ao te ter comigo, me espanto

E por essas, além das outras, me retrato
Pois é pesado carregar a verdade
Notável como o nome é personalidade
Ganhaste-me com propriedade, no ato.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Bárbara Moça

Morena bonita e danada
Encanta-me teu jeito leve,
Teu sorriso largo e breve
E teu ar de baiana arretada

Cada parte de ti é verso
Mas não de poema em papel passado
Pois a arte é teu rebolado
Tão instigante quanto teu próprio universo

E me cerca de molejos, jeitos, trejeitos
E me afoga em desejo angustiante
Ar de rainha, preponderante
Faz-se radiante até nos defeitos

Oh, baiana minha!
Demoraste tanto a aparecer,
Mas agora me fizeste, a ti, render
Prometo não deixá-lá mais sozinha.

(Arthur Valente)

domingo, 23 de setembro de 2012

Bastidores

Por trás da capa criada
Moldada na fôrma do mundo
Em aparente aspecto vagabundo
É uma criança abandonada

Por trás do sistema falho
Construído para nós, às avessas
Existem grandes cabeças
Preciosidades em meio ao cascalho

Por trás das mentiras contadas
Formuladas para encobrir os defeitos
Existe um Estado de Direito
Que se ausenta aos que não têm nada

Por trás do futuro incerto
Existe uma esperança ascendente
De alterar-se o presente
Passar a frente o hoje decadente
Para um amanhã mais correto

(Arthur Valente)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Arrependimento





Sinto-me sozinho
Deixei-me abandonar
Porque faltei em procurar
Quem me tratava com carinho

A noite fria que agora faz
Desperta em mim a saudade
Dos tempos em que a cidade
Em meio ao caos, me dava paz

E essa forte melancolia
Que me corrói todo o peito
Faz-me querer ser o sujeito
Que acredito ter sido um dia

A escrita se embaralha
Minha mente anda confusa
A nostalgia que me abusa
Traz de volta cada falha

Mas será que tanto errei
A ponto de ser esquecido?
Vi o leite já caído
E confesso que chorei.


(Arthur Valente)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Elo





Mergulhei em tua essência
Quando em teus olhos frisei
E contradisse o que falei
Alterastes minha consciência

No teu olhar doce e complexo
Vi o reflexo da minha alma
Disfarcei-me em véu de calma
Vi a mim mesmo em outro sexo

Quando toquei tua pele nua
Senti, enfim, o que me faltava
Agora em transe me encontrava
Teu corpo meu, minha mente tua

E depois de terminado
O extraordinário que ocorreu
Fui pra longe do calor teu
Certo de nunca ter te deixado.


(Arthur Valente)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Praia





Sob um céu
totalmente estrelado
Sobre um mar
quase céu iluminado
Entre serras
De tom esverdeado
Entre nuvens
De um branco aveludado
Entre corpos
De homens embriagados
Sobre a areia
Que massageia os pés suados
Com emoção
De quem se julga privilegiado

E é notável
Que o mais engraçado
É que, em meio a tal dimensão

No ambiente louvável
Sinto-me mais civilizado
Por não haver civilização.


(Arthur Valente)

terça-feira, 27 de março de 2012

Anteparos




Vejo-me encarcerado
Não por grades de ferro
Mas como em uma toca de lobos
Sendo animal indefeso

Sinto-me limitado
Não por obstáculo interno
Mas como em círculo de bobos
Tendo pensamento coeso

Pego-me desestabilizado
Não porque me intimam com berros
Mas porque vendo-os sem arrobo
Percebo seus conceitos presos.

Percebo-me deslocado
Deste triste mundo externo
E é,por liberdade, meu afobo
Que mantem meu céu aceso.


(Arthur Valente)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cantiga de boêmio



Vem, meu camarada
Puxa a cadeira
Tem cerveja na geladeira
Podes fazer o que quiseres
Acenda um cigarro,
Fiques à vontade
Se ficares entediado,
Conta-me tuas lamúrias
E vamos beber!
Vamos beber até a dor do mundo
Que nós consome
De gole em gole
Ser ingerida ao fundo
E vamos beber!
Até tudo que nos envolve,
Mesmo o desespero que nunca se dissolve,
Não mais doer.


(Arthur Valente)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Enquanto for...



Seja o tempo enquanto for
Seja pressa
Seja inversa
Seja o homem corredor

Seja a fome enquanto for
Seja Pobreza
Seja Avareza
Seja a falta de sabor

Seja Deus enquanto for
Seja arrogância
Seja ganância
Seja o véu do mal-feitor


(Arthur Valente)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Incoerências





O padre reza
O padre enfeza
A criança indefesa
Que não quer mais rezar

O pastor caça
O caçador ameaça
As ovelhas que de pirraça
Não querem mais se alinhar

O homem morre
Porque de homem gosta
E o pastor aposta
Na palavra do padre falador
Que disse que quem falou
Pra atirar no Homo de costas
Foi o próprio Senhor


(Arthur Valente)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Visão



A verdade diz ser pura
Mas discordam quando dói
A mentira é atadura
Que quando descoberta, corrói

O céu é de bondade
Mas chato e tedioso
Já o inferno, em verdade
É frio e tenebroso

O bem é lindo e nobre
Porém, ingênuo e complicado
Enquanto o mal que é feio e pobre
É mais fácil de ser usado

A beleza da rosa é imponente
Mas morre ao fim do dia
Já o cacto que é resistente
É seco e sem alegria

Quando tudo parece perdido
E a opção tampouco existe
Não se faça abatido
Crie mais, não se limite.

(Arthur Valente)