O mundo é macro, dizem
Quando se olha de cima
Mas parece pouco perto do universo sacro
Guardado sob as retinas dos meninos
E das meninas.
E dizem que o mundo é micro
Aos olhos nus mortais
Mas parece ser muito mais
Quando visto pelos olhares oblíquos
Das ressacas de paz.
Só quem capta Capitú
De fato, ao Ubuntu
Se adapta.
E dizem que o mundo é são
Dentro do possível
Como se fosse plausível
De alguma tangível referência
Ver nos conjuntos complexos
E profundos
Qualquer padrão de consciência.
São é quem mora na casinha da ilusão
Pra não gritar sermão pelas pracinhas
Nem gracinhas, ou groselhas, de Lobão.
E dizem que o mundo é piada
Que tem graça por ser nada
Perto do Todo
Mas o Todo é só um nome
Não sente frio, nem sente fome
Nem sê vê boiando em lodo
Sei, pois, que é o mundo
O melhor, mesmo imundo
Que se achara em mil sóis
E que o pior que há nele
Não vem desse, nem daquele
Mas do pior que há em nós.
(Arthur Valente)
domingo, 8 de dezembro de 2013
sábado, 30 de novembro de 2013
Céu de diamantes
Lembro como se fosse agora
Pois teus ensinamentos guardo em mim
Como se guarda a própria vida
E dizia-me assim, a minha querida
Pra ter paciência de crer que o fim
É só um ciclo terminado que, sem demora,
Há de se ver reiniciado num outro
Menos ruim
Até que o melhor venha de vez
Não por ser, mas porque nos tornamos
Apesar de nossa ânsia, através do anos
Maiores em nossa pequenês
Desconstrutores de nossas intolerâncias
E sabotadores de nossa arrogância
Infantil e torpe de pequeno-burguês
Chega a hora, creio eu
Sem receio mais de ter esperança
De colhermos a bonança
Que estes tempos de tempestade
Apesar do cansaço e do alarde
Em meio a cruel cidade
Fortaleceu
Minha rainha retorna ao trono
Depois de tanto lembrar como é ser da plebe
Volta também, um pouco mais, meu sono
Ao conceber que, de novo,
Das cinzas elas se ergue.
Seja bem-vinda Luz do latim
Que venha me iluminar como sempre fez
E prometo a ti, assim como a mim,
Que se juntos caminharmos mais uma vez
Os ciclos serão fracos, tal como as tempestades
E não haverão mais grades
Contra a nossa alegre e louca
Lucidez.
(Arthur Valente)
Pois teus ensinamentos guardo em mim
Como se guarda a própria vida
E dizia-me assim, a minha querida
Pra ter paciência de crer que o fim
É só um ciclo terminado que, sem demora,
Há de se ver reiniciado num outro
Menos ruim
Até que o melhor venha de vez
Não por ser, mas porque nos tornamos
Apesar de nossa ânsia, através do anos
Maiores em nossa pequenês
Desconstrutores de nossas intolerâncias
E sabotadores de nossa arrogância
Infantil e torpe de pequeno-burguês
Chega a hora, creio eu
Sem receio mais de ter esperança
De colhermos a bonança
Que estes tempos de tempestade
Apesar do cansaço e do alarde
Em meio a cruel cidade
Fortaleceu
Minha rainha retorna ao trono
Depois de tanto lembrar como é ser da plebe
Volta também, um pouco mais, meu sono
Ao conceber que, de novo,
Das cinzas elas se ergue.
Seja bem-vinda Luz do latim
Que venha me iluminar como sempre fez
E prometo a ti, assim como a mim,
Que se juntos caminharmos mais uma vez
Os ciclos serão fracos, tal como as tempestades
E não haverão mais grades
Contra a nossa alegre e louca
Lucidez.
(Arthur Valente)
Dos Cantos Mitológicos
Dos impérios passados
Maiores que os titãs, em pleno alarde
E mais escuras que o reino de Hades
Erguem-se as muralhas de fúria
Pois são, num negro aglomerado,
Os povos unidos e irados
Contra os reis auto-intitulados
Prestes a morrerem afogados
Em suas próprias injúrias
E é Eros que lhes inspira a união
E vêm gritando, loucos, os coros de Marte
Propagando, roucos, por toda a parte
Palavras de ordem e caos pra que a tirania
Caia morta no chão
E espalha-se, a revolta, por toda a terra
Com mais bravura que os antigos heróis
Mais brilhante que mil sóis
É a alvorada da nova era
E hão de cair os comandantes
Os falsos profetas maledicentes
Com suas verdades confusas
E serão não mais que pedra
Como se olhassem nos olhos de serpente
Da própria medusa
E num avante, toda a gente
Vai tomar os postos seus
Num negro bloco de dimensão gigante
Mais forte e temido que qualquer deus
E cai o representante do deus hebreu
Delirante em sua própria má fé
E se ouve dos confins da massa ralé
Que chegara o tempo de Prometeu.
(Arthur Valente)
Maiores que os titãs, em pleno alarde
E mais escuras que o reino de Hades
Erguem-se as muralhas de fúria
Pois são, num negro aglomerado,
Os povos unidos e irados
Contra os reis auto-intitulados
Prestes a morrerem afogados
Em suas próprias injúrias
E é Eros que lhes inspira a união
E vêm gritando, loucos, os coros de Marte
Propagando, roucos, por toda a parte
Palavras de ordem e caos pra que a tirania
Caia morta no chão
E espalha-se, a revolta, por toda a terra
Com mais bravura que os antigos heróis
Mais brilhante que mil sóis
É a alvorada da nova era
E hão de cair os comandantes
Os falsos profetas maledicentes
Com suas verdades confusas
E serão não mais que pedra
Como se olhassem nos olhos de serpente
Da própria medusa
E num avante, toda a gente
Vai tomar os postos seus
Num negro bloco de dimensão gigante
Mais forte e temido que qualquer deus
E cai o representante do deus hebreu
Delirante em sua própria má fé
E se ouve dos confins da massa ralé
Que chegara o tempo de Prometeu.
(Arthur Valente)
domingo, 17 de novembro de 2013
Arte em Conjunto - Frito e Cru
Cores fortes em fundo roxo
Visão mesclada e tonta em tons
Corpo leve e ombros frouxos
Dança a imagem como quase som
Mata virgem, experiente
Sintonia de ambiente
Que me rende ao ter vertigem
Pois desnorteia de tão bonita
E religa, pois transcende
E como grita a paz ao silenciar
A mente pouco antes barulhenta
Pela fisionomia violenta
Que a cidade tanto faz a vir
Por ela se manifestar
E como grita o mundo por arte
Se a arte o é, sem tirar nem por?
Muda-se a linguagem para expor
Como se cortássemos o sabor em partes
A la carte
Pra quem tem fome, e todos têm,
De beleza e de amor
Oremos só à mãe maior
Que ela se segure em pé
Contra a má fé de nossa torpe intervenção
Pois não fosse o que ela é,
Sendo em todo, em si, o melhor
Nós não seríamos, não
Nem eles algum dia serão
(Bárbara Lopes e Arthur Valente)
Recomendado: www.flickr.com/babilonia (Bárbara Lopes)
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Mudança de Script
Fecham-se as cortinas, intervalo
Saem todos, menos um
Muda a cena, zum-zum-zum
Vaza o velho pelo ralo
Entra o novo num segundo
Muda o mundo, fica a vista
Olha tudo como autista
Passa o ser a ser fecundo
Planta a praia, o vento, o sol
Colhe calma, amor e fé
Flui o íntimo como a maré
E pesca a paz sem ter anzol
Capoeira joga em dança
Luta, aprende e cai na areia
Pulsa o mar vermelho em veias
E cantarola a vida mansa
Desce do palco, vai pra rua
Usa e abusa a pele nua
Acha graça no ranzinza
Vai do cinza ao prata-lua
E renasce o protagonista
Ganha brilho e vivência
Vai e conquista experiência
Pra fazer da selva-de-pedra, pista
De malandro em essência
De poeta na potência
E com cadência de sambista.
Saravá!
Viva a vida!
Viva o maior do teatros que permite
A todos serem artistas
Pois só nela a história resiste
Sem precisar de roteirista.
(Arthur Valente)
Saem todos, menos um
Muda a cena, zum-zum-zum
Vaza o velho pelo ralo
Entra o novo num segundo
Muda o mundo, fica a vista
Olha tudo como autista
Passa o ser a ser fecundo
Planta a praia, o vento, o sol
Colhe calma, amor e fé
Flui o íntimo como a maré
E pesca a paz sem ter anzol
Capoeira joga em dança
Luta, aprende e cai na areia
Pulsa o mar vermelho em veias
E cantarola a vida mansa
Desce do palco, vai pra rua
Usa e abusa a pele nua
Acha graça no ranzinza
Vai do cinza ao prata-lua
E renasce o protagonista
Ganha brilho e vivência
Vai e conquista experiência
Pra fazer da selva-de-pedra, pista
De malandro em essência
De poeta na potência
E com cadência de sambista.
Saravá!
Viva a vida!
Viva o maior do teatros que permite
A todos serem artistas
Pois só nela a história resiste
Sem precisar de roteirista.
(Arthur Valente)
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Arte em Conjunto - Magreza de Alma
Canseira da vida que morre
Depressão anda em alta
Magreza sofrida na alma
Sentido de calma corre em falta
Falta amor pra nutrir o ser
Falta o elixir que socorre a dor
Falta cor pra que me ponha a crer
Que não serei absorvida pelo mundo exterior
Ou, ao inverso,
Por meu profundo universo interior.
Verso em desenho
E me empenho, pois só peço
Que meu sofrer morra imerso
No fundo de esperança que ainda detenho.
(Ananda Trezena e Arthur Valente)
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Aula de Biologia
Voa, passarinho
Beija a flor e traga o cálice
Pra servir de táxi ao poder criador
Que a mãe natura fornece no ápice
Invariável de todo o seu amor.
Vem semente, cai do alto
Mas vai longe do berço que lhe era, antes, tranquilo
Pois, se ficas perto da tua inicial protetora
Progenitora
Será ela a autora de tua morte precoce
Sem vacilo
Mas acalma-te, pois basta do esquilo
Uma enterrada entre longos saltos
E um desapego da posse
Que tua força encantadora resiste.
E vira agente da vida, sob a úmida terra
E até merda, em ti, virará poética
Para te adubar e te fazer ascender na mais perfeita estética
E continuar o ciclo caótico, mas ordenado em grandeza profética
Que, a não ser pelo bicho violento que porta a serra,
Nunca se encerra.
(Arthur Valente)
Beija a flor e traga o cálice
Pra servir de táxi ao poder criador
Que a mãe natura fornece no ápice
Invariável de todo o seu amor.
Vem semente, cai do alto
Mas vai longe do berço que lhe era, antes, tranquilo
Pois, se ficas perto da tua inicial protetora
Progenitora
Será ela a autora de tua morte precoce
Sem vacilo
Mas acalma-te, pois basta do esquilo
Uma enterrada entre longos saltos
E um desapego da posse
Que tua força encantadora resiste.
E vira agente da vida, sob a úmida terra
E até merda, em ti, virará poética
Para te adubar e te fazer ascender na mais perfeita estética
E continuar o ciclo caótico, mas ordenado em grandeza profética
Que, a não ser pelo bicho violento que porta a serra,
Nunca se encerra.
(Arthur Valente)
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Espelho Desgastado
O poeta é o mais burro entre todos os bichos
Pois, como o jumento, solta intermináveis urros de reclamação
E faz pouco de todos os nichos que habita
E se adapta
Pois é um eterno insatifeito consigo próprio
Ao mesmo tempo em que exalta a si mesmo e a todo o restante
Que alcança sua demente visão.
Aberração
Da contradição insensata que é viver como se fosse vocação
E se deixar pisar como se fosse barata
E é batata que vai morrer, mais dia ou menos dia,
Afogado em sua torpe mania de não saber lidar com sua efervescente
Indecente e vadia paixão.
É o inútil, inexato e inconstante
A mula que empaca ao ignorar o berrante
Brincando de alpaca ao cuspir de amor
E engasgar de dor num próximo instante.
Entediante por viver da rotina desregrada
Afinal, quem aguenta tanta mudança? Tanta esperança por nada?
Tanta vontade de ser criança encantada que por ter a mente ocupada
Numa frenética e caótica dança
Esquece-se de manter atenta ao fato de que não pode alcançar
Ao menos, não desta forma desordenada,
Mais do que seu braço alcança.
Assumo a imbecilidade.
Não me sigam, nem me ouçam.
Não sou nada além da vaidade do ser combinada
Às sensações abstratas que de mim se apossam.
Não sou inteligente, nem inteligível
Não sei sintetizar mais do que já me fora deglutido
Após tanta mastigação do que não pode nem ser crível
Nem ensinado, tampouco sabido.
Ouçam os pragmáticos e os cientistas
Pois de nada servem os idealistas sonhadores e empáticos.
São, como eu, os piores enganadores
Pois são, fazendo-se guerreiros, trovadores estáticos.
Apocalíptico sou mais por gosto, talvez
Que por desgosto de assistir ao declínio do concretismo
Cético e crítico, mas só com o que de fato sismo
Proletário, revoltado e revolucionário
Mas burguês.
Sou pau - de-virar-tripa! - pois já nasci torto e desendireitado
Indesejado até por quem diz me amar
E vivente afinco, todo o dia, quase morto
Ativo e invariavelmente cansado.
Assim sou e já aviso pra não haver mais enganação
E só não peço perdão porque, como se não bastasse, por fim
Sou também mal-educado.
(Arthur Valente)
Pois, como o jumento, solta intermináveis urros de reclamação
E faz pouco de todos os nichos que habita
E se adapta
Pois é um eterno insatifeito consigo próprio
Ao mesmo tempo em que exalta a si mesmo e a todo o restante
Que alcança sua demente visão.
Aberração
Da contradição insensata que é viver como se fosse vocação
E se deixar pisar como se fosse barata
E é batata que vai morrer, mais dia ou menos dia,
Afogado em sua torpe mania de não saber lidar com sua efervescente
Indecente e vadia paixão.
É o inútil, inexato e inconstante
A mula que empaca ao ignorar o berrante
Brincando de alpaca ao cuspir de amor
E engasgar de dor num próximo instante.
Entediante por viver da rotina desregrada
Afinal, quem aguenta tanta mudança? Tanta esperança por nada?
Tanta vontade de ser criança encantada que por ter a mente ocupada
Numa frenética e caótica dança
Esquece-se de manter atenta ao fato de que não pode alcançar
Ao menos, não desta forma desordenada,
Mais do que seu braço alcança.
Assumo a imbecilidade.
Não me sigam, nem me ouçam.
Não sou nada além da vaidade do ser combinada
Às sensações abstratas que de mim se apossam.
Não sou inteligente, nem inteligível
Não sei sintetizar mais do que já me fora deglutido
Após tanta mastigação do que não pode nem ser crível
Nem ensinado, tampouco sabido.
Ouçam os pragmáticos e os cientistas
Pois de nada servem os idealistas sonhadores e empáticos.
São, como eu, os piores enganadores
Pois são, fazendo-se guerreiros, trovadores estáticos.
Apocalíptico sou mais por gosto, talvez
Que por desgosto de assistir ao declínio do concretismo
Cético e crítico, mas só com o que de fato sismo
Proletário, revoltado e revolucionário
Mas burguês.
Sou pau - de-virar-tripa! - pois já nasci torto e desendireitado
Indesejado até por quem diz me amar
E vivente afinco, todo o dia, quase morto
Ativo e invariavelmente cansado.
Assim sou e já aviso pra não haver mais enganação
E só não peço perdão porque, como se não bastasse, por fim
Sou também mal-educado.
(Arthur Valente)
sábado, 26 de outubro de 2013
Dos Registros
Passei
Despassado, mas gritante
E intenso
Como samba-enredo
Parei
Determinado a deixar-te
Cantante mesmo em silêncio
De sempre e desde cedo
Saltei
Ao topo da felicidade
Num instante, de azedo
Fiquei doce, por ti cercado
Versei
Em teu grimório abençoado
Como amante apaixonado
Pra que mesmo se distante,
Talvez infelizmente
Penso que mesmo se acabado
Nosso pulsar por agora enlaçado
Estarei aqui escrito e registrado
Contente, mesmo se triste
E presente
Mesmo se passado.
(Arthur Valente)
Despassado, mas gritante
E intenso
Como samba-enredo
Parei
Determinado a deixar-te
Cantante mesmo em silêncio
De sempre e desde cedo
Saltei
Ao topo da felicidade
Num instante, de azedo
Fiquei doce, por ti cercado
Versei
Em teu grimório abençoado
Como amante apaixonado
Pra que mesmo se distante,
Talvez infelizmente
Penso que mesmo se acabado
Nosso pulsar por agora enlaçado
Estarei aqui escrito e registrado
Contente, mesmo se triste
E presente
Mesmo se passado.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Pelo Privilégio Público
Chorei ouvindo um tal Chico
Pela voz, pelo poema
Mas mais pela lembrança
De uma tão doce infância
Que me serve de emblema
Ao compará-la aos atuais problemas
Com os quais tanto implico
E notar que, num paradoxal dilema,
Fui e sou, apesar do furo colossal nas finanças,
Comparado aos mais pisados pelo sistema
Muito rico
Pois, privilegiado sou ao ser vivido
De conhecimento aprendido sendo ou não estudado
Numa terra de perdidos e lesados
Por seus presentes e por seus passados,
E mais ainda por seus empregos desafortunados
E por suas fortunas de ouros perdidos,
Falidos e roubados
Assumo meu amor, meu desejo
Pela cor verde que ao passar, vejo
E digo, pois, que de tão linda
Vem-me remediar o fraquejo
E manter-me são
Porém, reconheço que, apesar do ser não ser só de pão
Esse, quando falta, mata a sanidade
E coloca o íntimo abaixo do cão
Portanto, devo dizer, em verdade
Que deste não grito a necessidade
Ao menos não ainda
Como em muitas mesas dos campos e das cidades
Sedentas e jogadas à falta de opção
Contrastando a terra mesma de Oxum encharcada
E da seca depravada que mutila a gente coitada
Do sertão
Tenho sorte de estar, agora,entre os coqueirais nutridos
Mas, ao olhá-los, encontro seu histórico ambíguo
Pois carregam bacias de sangue
Sob a areia
Sangue este deixado por artérias e veias,
Bebido e tristemente degustado
Pela miséria feia
Que afronta e massacra entre guetos e cadeias
Principalmente os de pele mangue
Abençoado sou, há quem diga
Mas peço atenção
A esta ensinada e propagada expressão
Aos desnutridos de corpo e de coração
Que a bênção só será quando for por todos conseguida
E quando não mais houver esquecimento divino
Acerca do brejo
E por conta da percepção à qual me inclino
Grito de dor aos meus pobres irmãos
De amor e de comida
Para que a mão de punhos cerrados
Seja finalmente erguida
E daí, em pública condenação,
Caem os privilégios.
(Arthur Valente)
Pela voz, pelo poema
Mas mais pela lembrança
De uma tão doce infância
Que me serve de emblema
Ao compará-la aos atuais problemas
Com os quais tanto implico
E notar que, num paradoxal dilema,
Fui e sou, apesar do furo colossal nas finanças,
Comparado aos mais pisados pelo sistema
Muito rico
Pois, privilegiado sou ao ser vivido
De conhecimento aprendido sendo ou não estudado
Numa terra de perdidos e lesados
Por seus presentes e por seus passados,
E mais ainda por seus empregos desafortunados
E por suas fortunas de ouros perdidos,
Falidos e roubados
Assumo meu amor, meu desejo
Pela cor verde que ao passar, vejo
E digo, pois, que de tão linda
Vem-me remediar o fraquejo
E manter-me são
Porém, reconheço que, apesar do ser não ser só de pão
Esse, quando falta, mata a sanidade
E coloca o íntimo abaixo do cão
Portanto, devo dizer, em verdade
Que deste não grito a necessidade
Ao menos não ainda
Como em muitas mesas dos campos e das cidades
Sedentas e jogadas à falta de opção
Contrastando a terra mesma de Oxum encharcada
E da seca depravada que mutila a gente coitada
Do sertão
Tenho sorte de estar, agora,entre os coqueirais nutridos
Mas, ao olhá-los, encontro seu histórico ambíguo
Pois carregam bacias de sangue
Sob a areia
Sangue este deixado por artérias e veias,
Bebido e tristemente degustado
Pela miséria feia
Que afronta e massacra entre guetos e cadeias
Principalmente os de pele mangue
Abençoado sou, há quem diga
Mas peço atenção
A esta ensinada e propagada expressão
Aos desnutridos de corpo e de coração
Que a bênção só será quando for por todos conseguida
E quando não mais houver esquecimento divino
Acerca do brejo
E por conta da percepção à qual me inclino
Grito de dor aos meus pobres irmãos
De amor e de comida
Para que a mão de punhos cerrados
Seja finalmente erguida
E daí, em pública condenação,
Caem os privilégios.
(Arthur Valente)
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Semi-Deusa
Uau! Que belo desenho vivo!
Olhei teus traços e segurei o queixo já caído
E o coração, por empenho, disparado
E por tão extasiado ao reconhecer teu ser engrandecido
Peguei-me reflexivo e maravilhado
Ao imaginar teu esboço estético
Sendo planejado, construído, trabalhado e lapidado
Por seres proféticos, providos do invisível idealizado
E que, penso, queriam contigo
Deixar registrado
Uma verdadeira arte caminhando
Entre os simples e humanos arquétipos
Sendo o teu sorriso tão incrível
E mesclado com maestria e cuidado
Às tuas sardas e aos teus olhos apertados
Mas dotados do traço mais expressivo
E teus cabelos encaracolados
Que de tão magistralmente delineados
Seriam considerados, se atentados fossem,
Subversivos
Mas não sei bem qual é a tua entidade mãe. Ou pai
Porque tua cor denuncia uma filha de Tupã
Mas de teu sorrir, abre-se, da alma, o apetite
E eis, então, que Afrodite sai
Porém, em tua pele macia em critério sinto Oxum e Nanã
E do teu jeito mistério, Iansã grita
Bradando a chuva do ser que instiga e cai
Já de teus beijos molhados, bem dados
Sinto a explosão do dionisíaco
Que me faz correr pelo paradisíaco
Nu de essência e sossegado
Enquanto o mundo cru que roda ao lado
Parece, em tua cadência, ter parado
E ai, me vens com tuas obras fantásticas
E perco meu ar ao notar
Tua sensível habilidade
De entender o que dizem os olhos a vagar
Espalhados e gritando o inaudível
Pela torpe cidade
E ainda, de querer reproduzi-los para as artes plásticas
Num jeito próprio que me invade e conquista
E ponho-me, a eles, como autista
Pois me fazem querer não parar de olhar
Tu és a beleza que de tão majestosa
Quase me persuade a crer que é criada
E, pela própria natureza grandiosa
És também criadora das mais talentosas
E encantadas
Não falei de teus lábios, nem de tuas pernas
Porque, num senso que acho ser sábio
Se falasse de ti por inteira
Esta versada brincadeira seria eterna
Digo só, por fim
Que, por mim, continuo a contemplar-te
E tocar-te se, quando e como for possível
Pois do néctar que és, como arte, estou passível
Ao sentir sede, quando longe, num desejo intensamente incerto
E ao me embriagar, em cada tua parte,
Quando perto.
(Arthur Valente)
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Autocrítica ao Todo
Acho graça nos radicais sectários
Pois fecham a si mesmos
Em seus imutáveis ideais
Encondendo-os sob um véu arbitrário
Guardando suas jóias atemporais
Seus pedestais
Em intocáveis e ilhados armários
E os vejo gritando e brigando
Pelo alimento do ego
Mascarando o Devir em traje chato
E insensato
Dado que, como dividir o pão,
Degladiando-se ainda pelo prato?
Procuram o ideal na pureza
Pra que emerja como se fosse divino
E entram em conflitos contínuos
Desprovidos de clareza
Perdidos em seus dogmas
E desígnios
Como a plebe de discurso falido
Voltando-se ao ar de nobreza
Pois, se posso opinar
Descarto a pureza imposta
Ao encontrar a verdadeira grandeza
Na mistura
Como ao poeta que é branco na crosta
Mas no núcleo de ser
Veste-se em pele escura
Escrevendo o que da alma brota
Inteligível só pela busca do ascender
Da língua
Mas mais belo pelas rasuras
Pela míngua de frieza, de pudor
E mais sábio por se deixar criticar
Que desfrutemos do nosso livre sonhar
Em sublime e apaixonada aspiração
Mas lembremos que o caminhar
Só será evolução
Quando nos propusermos a ouvir
E aprender com a dita outra visão
E que só pode ouvir quem espera o falar
E que dar atenção é querer progredir
E que progressão social é amar
A imperfeição do viver
Atentando-se à beleza do criar
E, enfatizo, do servir
Sem ser servo, nem barão
Sem presunção de antever
O que ainda não se sabe se será
Mas num aglomerado de respeito
E abertura
Pra se encontrar a união das conjunturas
E dos sujeitos
Construindo, a despeito do ultrapassado
A Revolução
Para o que há muito se tem lutado
E que sempre deve ser lembrado
Sendo acesso ilimitado e compaixão
Chega de querer liberdade
Pela segregação
Viva a individualidade sim!
Mas só se chega ao fim
Na concepção de Marx a Bakunin
Pela cooperação.
(Arthur Valente)
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Às Mudas Arrancadas
Vi o pútrido representado pela inocência
De quem perdeu, de cedo, a confiança
Vi os choros mudos de carência
Bradarem, em coro, a violência
Sofrida na infância
Não vi seus rostos, mas suas almas
Grandiosas como só as de criança
Diminuídas pela matança
De sua ingênua e livre calma
Prenderam-nas no mundo do cinza
Onde o choro não sai e o tempo não para
Onde uma vez só dor vem e não sara
E onde o exemplo de maldoso faz cara
Tão monstruosa e profanadora quanto ranzinza
Chorei por elas todas e pelo resto
Pois não tentem convencê-las do amor quando já crescidas!
Depois das marcas, tão profundas feridas
Que lhes deixaram o semblante indigesto
Nada lhe passou a ser mais nefasto do que nós
A voz do futuro se cala em traumática vergonha
Pois mostraram-lhe que anda, por aqui, só
Cercada de exceções regradas e medonhas
Como vai este futuro
Poder um dia desfrutar do dionisíaco
Se lhe mostraram o que chamamos, em geral, paradisíaco
Como a uma cela infernal de medos
Cercada de muros?
Peso-me por elas e por todos
Pois nosso lodo é mais espesso
E nossa moral concreta em gesso
Nossa não, perdão
A moral a qual somos avessos, por imposição
Prova a cada dia que não só passara da idade
Mas que não serve nem de rodo, nem de balde
E assim ganha o lodo mais densidade
E afoga-nos em desumanização.
(Arthur Valente)
De quem perdeu, de cedo, a confiança
Vi os choros mudos de carência
Bradarem, em coro, a violência
Sofrida na infância
Não vi seus rostos, mas suas almas
Grandiosas como só as de criança
Diminuídas pela matança
De sua ingênua e livre calma
Prenderam-nas no mundo do cinza
Onde o choro não sai e o tempo não para
Onde uma vez só dor vem e não sara
E onde o exemplo de maldoso faz cara
Tão monstruosa e profanadora quanto ranzinza
Chorei por elas todas e pelo resto
Pois não tentem convencê-las do amor quando já crescidas!
Depois das marcas, tão profundas feridas
Que lhes deixaram o semblante indigesto
Nada lhe passou a ser mais nefasto do que nós
A voz do futuro se cala em traumática vergonha
Pois mostraram-lhe que anda, por aqui, só
Cercada de exceções regradas e medonhas
Como vai este futuro
Poder um dia desfrutar do dionisíaco
Se lhe mostraram o que chamamos, em geral, paradisíaco
Como a uma cela infernal de medos
Cercada de muros?
Peso-me por elas e por todos
Pois nosso lodo é mais espesso
E nossa moral concreta em gesso
Nossa não, perdão
A moral a qual somos avessos, por imposição
Prova a cada dia que não só passara da idade
Mas que não serve nem de rodo, nem de balde
E assim ganha o lodo mais densidade
E afoga-nos em desumanização.
(Arthur Valente)
sábado, 14 de setembro de 2013
Aos novos jesuítas
Começo este trecho amargurado com o espírito às avessas
Porque me torturo ao querer me sentir amado
E amo tanto que me pego dançando em ódio árduo
Sendo eu, pela vida, um completo esfomeado
Ansioso e cansado a ponto de quase meter-me um tiro na cabeça
Ah... Que bom não estar armado... Mesmo não sabendo se o jargão é por questão de real defesa Ou só acostumado a ver a vida como superação
Única frente ao que chamamos de incerteza
Ah... Que bom não estar armado... Mesmo não sabendo se o jargão é por questão de real defesa Ou só acostumado a ver a vida como superação
Única frente ao que chamamos de incerteza
Mas, bom, o que seria do humano, senão a eterna contradição?
Onde um republicano apaixonado resgata,
Num discurso recatado
A fome, do desalmado, de ser cidadão
Pra depois, já tronado e com nome
Descarado, meter-se a dar ordenação
Como um rei auto-intitulado
Sendo , assim, mais um despótico renomado
Por academias de alienação
Por academias de alienação
E ai me pego entre os conflitos da dialética histórica
Pois são tantos os pontos cegos e os de vista
E creio que me intelectualizo cotidianamente
Pra vomitar, em seguida, numa poética retórica
Vinculada pelo ego e pela eufórica mente
Que se engana ao se ver como lógica Pois nega de si mesma o poder dissidente Que vem da ótica do crente Junto à interpretação realística, Mas relativista e metafórica Como é mesmo o mundo e a gente.
Que se engana ao se ver como lógica Pois nega de si mesma o poder dissidente Que vem da ótica do crente Junto à interpretação realística, Mas relativista e metafórica Como é mesmo o mundo e a gente.
E ai, bom, sou burro, disso sei
E quanto mais vejo que li, o que estudei
Mas me repito em citações daqueles que não conheci
E mais almejo caminhos por onde mal ou nunca passei
Posso dizer que vivi, e que um dia morrerei Mas, perdão, meu saber concreto para por ai E há de haver ainda quem contradiga estas às quais nomeio Como leis Porque sempre há de haver quem seja contrário
Que bom, assim somos todos vigários aflitos Que deixarão filhos e escritos Para a próxima leva de revoltados proletários Neo-libertários de urros e gritos Acumuladores de vocabulário burguesado Ou bibliotecários exaltados e sem formação
Posso dizer que vivi, e que um dia morrerei Mas, perdão, meu saber concreto para por ai E há de haver ainda quem contradiga estas às quais nomeio Como leis Porque sempre há de haver quem seja contrário
Que bom, assim somos todos vigários aflitos Que deixarão filhos e escritos Para a próxima leva de revoltados proletários Neo-libertários de urros e gritos Acumuladores de vocabulário burguesado Ou bibliotecários exaltados e sem formação
Ou faremos revolução, como bichos, como burros
Pra que os próximos caminhem sem montar
Em seus próprios irmãos
Pra que, otimizando o especular,
Entre estes tais urros de libertação Aprendam, como deveríamos, em primeira mão Que instruir a socialização Nada mais é que amar.
Pra que, otimizando o especular,
Entre estes tais urros de libertação Aprendam, como deveríamos, em primeira mão Que instruir a socialização Nada mais é que amar.
Fim do sermão.
(Arthur Valente)
(Arthur Valente)
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Um Daqueles Subjetivamente Objetivos
Por que amo? Por quê?
Por que sinto que quero perto?
E deixo que venha a dor ao ser discreto
Pois quero, o que não posso dizer?
Por que clamo por prazer?
Eu sei, somos íntimos,
Mas pra quê?
Se mal me deixa chegar em teu ser
E me intimido, de forma que me apresso
A finalmente te ter.
Sem sucesso e com tentativas inexatas
Perco-me em cantadas baratas
E promovo sugestões insensatas
Na vontade inapta de te ver derreter
E como queria que fosse minha
Não, não! Mentira mesquinha. Perdão
Queria que fôssemos um só no colchão
E que víssemos, juntos, o dia renascer
Sem pressão de ser
Nem de obrigação
Mas só por satisfação
De saber que fomos e somos
Sendo o todo, nós, serão
O verão mais caloroso
Que o amor já viu nascer
Ave, merecer!
Salva-me da mercê,
Pois ponho-me em tua mão
E de teu coração
Nada espero, mas tudo quero
Bater.
(Arthur Valente)
(Arthur Valente)
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Ao filósofo boêmio canino
Sinto-me como um velho sábio
Ancião de memória
Mas sou tão novo de história
E de glórias, diga-se de passagem,
Quanto aos mais novos de minha geração
Aos quais reconheço, mesmo que avesso
Em certa ocasião,
A reflexão de minha própria imagem
Pois sou um pão francês
Em meio ao que estupidamente nomeio
De pães de mês
Mas, ora, que enganação
Pois quando nos passarmos à mão do freguês
Sem coração
As diferenças em nossas essências
Serão apenas objetos de apreensão
Pra decidirem a quem comerão primeiro
E seremos mastigados, deglutidos
Digeridos e em ação descomidos
Pela nossa própria desunião
Sou um chão de bagagem
Mas, pesado em meu próprio peso
Um animal pobre e indefeso
Crendo manter em si preso
O novo de mutada linhagem
Êta, molecagem! Êta, afobamento!
De querer ser homem por ter tantas primaveras
Pré-designadas como amadurecimento
Em quase todas as esferas
Num sistema de ensinada vassalagem
Não exatamente como antigamente era
Talvez mais inteligente seja esta
Subliminarmente mais severa
Mais convincente
Ah... Que pena do mundo!
Que pena de mim, da gente
Que pena que a humanidade
Contenta-se em ser demente
Por crer em diabos fecundos
Travestidos de celibatários cristãos
Enquanto chama de moribundo
Quem tem carência de opção
Às ladradas do cão, meu uivo descamba
Por querer barulho
E faço tal homenagem ao irmão de samba
De renovação e de bagulho
Pra que não nos calemos
Pois, pequenos, ah, não! Não somos
Somos inteiros Axé
Fé e inspiração
Paixão pela luta e pela reconstrução
Somos, meu querido barão da ralé
Um realismo místico
Entre outros ismos artísticos
Somos galliardismo
E bem sabes o que isto é
Em ascensão.
(Arthur Valente)
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
O brilho de Aurora
Bochechas rosadas, olhinhos azuis
Tão clara e esperada como a própria luz
Que com semblante de alvorada se faz calor pleno
Num amor tão sereno que à alma seduz
Pureza grandiosa em corpo ainda pequeno
Que por bocejos amenos nos doa a alegria
De ansiarmos lampejos de vidência e fantasia
Na cadência dengosa de te imaginar crescendo
E são os lábios vermelhos, tão mais que amoras
E os trejeitos tão doces que nos nutrem de vida
E em troca, como pilares, te manteremos erguida
Pois brilhante e querida sempre serás
Tenaz e bem-vinda por todas as horas
Como a própria paz de agora em ascensão
Linda e sublime tal qual explosão
De emoção e de fé
E, claro, de Aurora.
(Arthur Valente)
Tão clara e esperada como a própria luz
Que com semblante de alvorada se faz calor pleno
Num amor tão sereno que à alma seduz
Pureza grandiosa em corpo ainda pequeno
Que por bocejos amenos nos doa a alegria
De ansiarmos lampejos de vidência e fantasia
Na cadência dengosa de te imaginar crescendo
E são os lábios vermelhos, tão mais que amoras
E os trejeitos tão doces que nos nutrem de vida
E em troca, como pilares, te manteremos erguida
Pois brilhante e querida sempre serás
Tenaz e bem-vinda por todas as horas
Como a própria paz de agora em ascensão
Linda e sublime tal qual explosão
De emoção e de fé
E, claro, de Aurora.
(Arthur Valente)
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Memórias de uma milícia atual
Homens-demônio trajados de farda
Fardados de ódio e de falta de dúvida
Armados com fogo, esperando ordens súbitas
De reis despóticos, contra a plebe enganada
Meirinhos do novo século, capitães-do-mato
Seculares por proverem ao povo o choque
Pois sendo brutos no ato e no toque
Contrariam-se à existência num torpe desacato
E quem são estes empregados do engenho?
Do engenhoso poder maior aristocrático
Que com sarcásticos risos, demonstram empenho
Em pisar abotinados no Estado Democrático
Respiraremos quando seguirem nova rota
Contra choque, milícia e falta de senso
E ai, formando-se um exército imenso
Por fim, a opressão institucional bate as botas.
(Arthur Valente)
Reciprocidade
Olhaste a fundo minha janela
E viste, sedenta, minha alma nua
E foi quando olhei de volta à tua
Que marcaste meu íntimo e deixaste sequela
E pedi que me devorasses sem dó, nem dizeres
Que me molestasses o corpo a bom grado
Pois senti-me, em teu dorso, completo banhado
Pelo vinho de Baco, embriagado em prazeres
E queria que me amasses sem medo, nem culpa
Que me deixasses drogado em teu cheiro de vida
E que não mais temesses a dor da partida
Pois mesmo esta, de cedo, já encarnara a desculpa
E se assim foi que, então, assim seja
Sem prisões de toque, nem de ciúme
Que o amor nos evoque e nos empunhe
À luta dengosa que a alma deseja.
(Arthur Valente)
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Das (Des)Esperanças
Ando cansado de minha estupidez
Pois me sinto fadado à nudez de alma
Travestida em discurso otimista proletário
Discursado em vocabulário burguês lírico
Recheado de insensatez quando empírico
E clamando calma
Mesmo se é o ódio aclamado
Sendo este por mim julgado, de quando em vez
E pego-me em questionamento raso
Pois não sei se é o mundo mais contraditório
Ou se eu sou a contradição do acaso
Que busca no aglomerado de repertório
E insatisfação
A construção do que não fora planejado
E, por não ter planejamento neste atual estado
Parece isento de estar errado
À luz de uma engajada socialização
Pois, por si só, faz-se abastado
Num posicionamento cercado
Pela falta de cercas e de segregação
Ah! Que bonito seria...
Mas também ando cansado do belo
Pois me basta viver dia após dia
Para notar que o bonito desfila singelo
Numa infeliz expressão de sorriso amarelo
E forçada apatia
É triste pensar o que pode ser pior
Quando o pior parece já estar sendo
E reclamo a tristeza que já sei de cor
Vendido à ilusão de que não me vendo
E aos pouco vai meu suor
Se rendendo
Ao sangue espesso derramado
Pelo sedento desalmado poder maior.
(Arthur Valente)
Pois me sinto fadado à nudez de alma
Travestida em discurso otimista proletário
Discursado em vocabulário burguês lírico
Recheado de insensatez quando empírico
E clamando calma
Mesmo se é o ódio aclamado
Sendo este por mim julgado, de quando em vez
E pego-me em questionamento raso
Pois não sei se é o mundo mais contraditório
Ou se eu sou a contradição do acaso
Que busca no aglomerado de repertório
E insatisfação
A construção do que não fora planejado
E, por não ter planejamento neste atual estado
Parece isento de estar errado
À luz de uma engajada socialização
Pois, por si só, faz-se abastado
Num posicionamento cercado
Pela falta de cercas e de segregação
Ah! Que bonito seria...
Mas também ando cansado do belo
Pois me basta viver dia após dia
Para notar que o bonito desfila singelo
Numa infeliz expressão de sorriso amarelo
E forçada apatia
É triste pensar o que pode ser pior
Quando o pior parece já estar sendo
E reclamo a tristeza que já sei de cor
Vendido à ilusão de que não me vendo
E aos pouco vai meu suor
Se rendendo
Ao sangue espesso derramado
Pelo sedento desalmado poder maior.
(Arthur Valente)
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Reforma
Estendo meu credo intangível
Ao passo que me fixo em solo palpável
Pois mostra-se notável o invisível
Na medida mesma que o concreto, questionável
O irrisório camufla-se de impossível
Pelo ponto cego de quem julga ser onisciente
E o utópico grita ser concebível
Pela voz inaudível dos velhos, mas notórios dissidentes
E travam-se os dentes às ações escusas
E mescla-se o ódio ao desejo de amar
Sendo a liberdade a rainha das musas
Compete aos seus amantes a fúria do mar
Mas quando não sendo tempestade
Acalmo-me pela busca do que não está
Temperando pra dar gosto de verdade
Ao que ainda se dá por cru
Sem a impetulância do que é imposto
Vou, por fim, parafrasear
Pois sim, vi chover e vi relampear
Mas manteve-se intocável a suportar
Num protesto simbólico de corpo nu
Exposto em véu latente o mais belo céu azul.
(Arthur Valente)
Ao passo que me fixo em solo palpável
Pois mostra-se notável o invisível
Na medida mesma que o concreto, questionável
O irrisório camufla-se de impossível
Pelo ponto cego de quem julga ser onisciente
E o utópico grita ser concebível
Pela voz inaudível dos velhos, mas notórios dissidentes
E travam-se os dentes às ações escusas
E mescla-se o ódio ao desejo de amar
Sendo a liberdade a rainha das musas
Compete aos seus amantes a fúria do mar
Mas quando não sendo tempestade
Acalmo-me pela busca do que não está
Temperando pra dar gosto de verdade
Ao que ainda se dá por cru
Sem a impetulância do que é imposto
Vou, por fim, parafrasear
Pois sim, vi chover e vi relampear
Mas manteve-se intocável a suportar
Num protesto simbólico de corpo nu
Exposto em véu latente o mais belo céu azul.
(Arthur Valente)
sábado, 3 de agosto de 2013
Ao Libertário Negro
Um pobre, negro-mulato
Sem aparato, nem cobre
Um rubro-negro guerreiro em fato
Ogun incarnado em louvor
Ao amor livre e sensato
Refletindo a justiça no ato
Tal qual um retrato de Xangô
Herói da plebe oprimida
Utópico só por ter sido
Morreu sem ter morrido
Pois seu nome ecoa engrandecido
Por todo o atento ouvido
Que alarde ao ver saída
No canto renascido
Da liberdade antes perdida
Professor em oratória
Da história, tens tutela
Não daquela morta escória
Que colou-te em fria cela
Nem da outra de monstro porte
Que celou, por fim, tua morte
Mas daquela rica em glória
De cautela e de trabalho
Pelo teu amado povo
Ao qual fostes bravo escudo
E até quando em frangalhos
Nem assim ficastes mudo
Por tua densa vida bela
De batalha e sacrifício
De mudança como ofício
Marighella, te saúdo.
(Arthur Valente)
Sem aparato, nem cobre
Um rubro-negro guerreiro em fato
Ogun incarnado em louvor
Ao amor livre e sensato
Refletindo a justiça no ato
Tal qual um retrato de Xangô
Herói da plebe oprimida
Utópico só por ter sido
Morreu sem ter morrido
Pois seu nome ecoa engrandecido
Por todo o atento ouvido
Que alarde ao ver saída
No canto renascido
Da liberdade antes perdida
Professor em oratória
Da história, tens tutela
Não daquela morta escória
Que colou-te em fria cela
Nem da outra de monstro porte
Que celou, por fim, tua morte
Mas daquela rica em glória
De cautela e de trabalho
Pelo teu amado povo
Ao qual fostes bravo escudo
E até quando em frangalhos
Nem assim ficastes mudo
Por tua densa vida bela
De batalha e sacrifício
De mudança como ofício
Marighella, te saúdo.
(Arthur Valente)
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Autopia
Aos amigos do parque. Aos parceiros da vida... Aos agentes da mudança.
A Natureza há de ascender
Mas não pra posse, pois já reina livre
Há de reivindicar-se como mãe maior do ser
Como a fonte vital que ao crescer, nutre
E não há quem não se cative a ver
Que só por ela realmente se vive
Pensam alguns que ela se ausentara
Mas presente está, sem estar
Se não nota, para e repara
E se discorda, por que respirar?
Somos a prole ingrata
Da única rainha que merece trono
Somos o progresso da perda de sono
A raspar felicidades entre vácuos e latas
Mas, como fomos destruidores de nós mesmos!
Pois nós, em conjunto, somos trindade verdadeira
Os pais, os filhos e a espiritualidade
Partes integrantes de um mesmo seio
Natureza dispersa e inteira
Onde agora bebe a vaidade
Que amanhã embriague-se a palmeira
E que sobre o mal da humanidade
Nasça um pé de seringueira.
(Arthur Valente)
A Natureza há de ascender
Mas não pra posse, pois já reina livre
Há de reivindicar-se como mãe maior do ser
Como a fonte vital que ao crescer, nutre
E não há quem não se cative a ver
Que só por ela realmente se vive
Pensam alguns que ela se ausentara
Mas presente está, sem estar
Se não nota, para e repara
E se discorda, por que respirar?
Somos a prole ingrata
Da única rainha que merece trono
Somos o progresso da perda de sono
A raspar felicidades entre vácuos e latas
Mas, como fomos destruidores de nós mesmos!
Pois nós, em conjunto, somos trindade verdadeira
Os pais, os filhos e a espiritualidade
Partes integrantes de um mesmo seio
Natureza dispersa e inteira
Onde agora bebe a vaidade
Que amanhã embriague-se a palmeira
E que sobre o mal da humanidade
Nasça um pé de seringueira.
(Arthur Valente)
sábado, 13 de julho de 2013
Querido Juízo Diário
Ja fui calmo, eufórico e tempestuoso
Já fui salmo, filosófico e religioso
Já fui cético, patético e presunçoso
Já fui criança, adolescente e idoso
Já fui caminho, atalho e perdido
Já fui cascalho e pedra preciosa
Já fui babaca de atitudes honrosas
Já fui honrado, desgarrado e descabido
Já fui poeta, alienado e artista
Já fui modéstia e arrogância puras
Já fui doença sem remédio ou cura
E já fui doçura a esnobar a violência
Já fui vigarista, honesto e enganado
Apartidário, oposição e governista
Já fui lesado por nobres oportunistas
E calculistas com outros renegados
Já fui anarquista, comunista, utopia
Não fui nazista, porque isso não sei ser
Já fui blindado pela sede de vencer
E vulnerável por faltar-me valentia
Já fui passagem, estadia, volta e ida
Já fui azar, inércia, vontade e sorte
Já fui saída às peripécias da morte
E a entrada pro melhor que há na vida
Aos que questionam o que sou por completo
Sou concreto e abstrato em alquimia
Como posso ser, na vida, algo certo
Se incerto fui, e todo o resto, em um só dia?
(Arthur Valente)
Já fui salmo, filosófico e religioso
Já fui cético, patético e presunçoso
Já fui criança, adolescente e idoso
Já fui caminho, atalho e perdido
Já fui cascalho e pedra preciosa
Já fui babaca de atitudes honrosas
Já fui honrado, desgarrado e descabido
Já fui poeta, alienado e artista
Já fui modéstia e arrogância puras
Já fui doença sem remédio ou cura
E já fui doçura a esnobar a violência
Já fui vigarista, honesto e enganado
Apartidário, oposição e governista
Já fui lesado por nobres oportunistas
E calculistas com outros renegados
Já fui anarquista, comunista, utopia
Não fui nazista, porque isso não sei ser
Já fui blindado pela sede de vencer
E vulnerável por faltar-me valentia
Já fui passagem, estadia, volta e ida
Já fui azar, inércia, vontade e sorte
Já fui saída às peripécias da morte
E a entrada pro melhor que há na vida
Aos que questionam o que sou por completo
Sou concreto e abstrato em alquimia
Como posso ser, na vida, algo certo
Se incerto fui, e todo o resto, em um só dia?
(Arthur Valente)
segunda-feira, 8 de julho de 2013
Desabafo Analítico do Indigesto
A beleza da vida, hei de lembrar
Está contida na imperfeição contínua
Na alteração repentina que busca alcançar
A plenitude a que tudo se inclina
Sem nunca se planificar.
Pois pra cada cena, ato, momento
Sopra o vento de uma forma única
E não há de existir véu ou túnica
Que protejam o velho rabugento
Já passado
A se tornar só um contento ultrapassado
Amaldiçoado em ser deixado
Quase como fosse calúnia
Reprimido em seu repertório lento
Pobre, intolerante e transtornado
Sopra o vento de uma forma única
E não há de existir véu ou túnica
Que protejam o velho rabugento
Já passado
A se tornar só um contento ultrapassado
Amaldiçoado em ser deixado
Quase como fosse calúnia
Reprimido em seu repertório lento
Pobre, intolerante e transtornado
O caos, por essência
É o parto da mudança
A dor ansiosa da paciência
Que convulsiona-se sem cadência
Pra atrair a sonhada bonança
É o parto da mudança
A dor ansiosa da paciência
Que convulsiona-se sem cadência
Pra atrair a sonhada bonança
É a válvula de ação da descrença
Pro que já não mais avança
Ou um pedido de desistência
Ou um gesto de resistência
Ao mestre-sala que dança
Não mais por liderança
Mas por orgulho torpe e teimosa persistência.
Pro que já não mais avança
Ou um pedido de desistência
Ou um gesto de resistência
Ao mestre-sala que dança
Não mais por liderança
Mas por orgulho torpe e teimosa persistência.
Pois não hei de esquecer também
Que o perigo da constante inconstância
É sujar-se em intolerância
Com sua sucessora que logo vem
Que o perigo da constante inconstância
É sujar-se em intolerância
Com sua sucessora que logo vem
E que não mais por temperança
Nos destemperemos a crer na violência
Dos que sentenciam nossa potência
Paixão, eloquência
E convicção na crença do novo em ascenção
À fala tímida e mansa.
Nos destemperemos a crer na violência
Dos que sentenciam nossa potência
Paixão, eloquência
E convicção na crença do novo em ascenção
À fala tímida e mansa.
Que não nos calemos quando o novo gritar
E bradar que agora é sua vez de agir
Pois nasce este pelo o que nos fizeram engolir
E vive para que aprendamos finalmente
A mastigar.
E bradar que agora é sua vez de agir
Pois nasce este pelo o que nos fizeram engolir
E vive para que aprendamos finalmente
A mastigar.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 5 de junho de 2013
And I'm feeling good
Cigarro, cachaçada
Ressaca de blues
Um sarro, um sorriso de farsa
Cuspidos e escarrados
Em pus
Um céu negro como Nina
Um velho tempo que se inclina
Ao novo boa praça
Resplandecendo luz
É um novo dia, mas o dom é o mesmo
E se tentaram me deixar a esmo
Enganaram-se em jus
Porque já não mais calado
Alcanço o dia rebuscado
Sem medo de ser ofuscado
E pondo-me guiado
Ao calor solar que
Em meu corpo cansado
Se alastra e se conduz
Deixe que renasça
Deixa, que passa
Passado, presente
Futuro proeminente
Que nasce da semente
Que eu, indigente
Solenemente, só de pirraça
Pus.
(Arthur Valente)
quinta-feira, 30 de maio de 2013
Sem Querido
Era uma daquelas
Que, apesar de bela
Não sei bem se queria
Ai, sem querer
Juntei realidade e fantasia
Entre conto e poesia
Feitos à luz da janela
Escrevi sobre sorte sofrida
Sobre corte e ferida
Sobre vida e sobre morte
E zen,
No escuro que faz-se de açoite
Produzi contra os muros da noite
Ao lado de ninguém
Até o alvorecer
Ao final, por bem,
Fui cair feliz
E se sem querer, quis
Sem querer, me refiz
Aprendiz a crescer
E tudo a quem,
Bem, mas sem querer
Eterniza-te acaso
Faz-me refém
Mas só por ser,
Sem querer,
Amém
(Arthur Valente)
Que, apesar de bela
Não sei bem se queria
Ai, sem querer
Juntei realidade e fantasia
Entre conto e poesia
Feitos à luz da janela
Escrevi sobre sorte sofrida
Sobre corte e ferida
Sobre vida e sobre morte
E zen,
No escuro que faz-se de açoite
Produzi contra os muros da noite
Ao lado de ninguém
Até o alvorecer
Ao final, por bem,
Fui cair feliz
E se sem querer, quis
Sem querer, me refiz
Aprendiz a crescer
E tudo a quem,
Bem, mas sem querer
Eterniza-te acaso
Faz-me refém
Mas só por ser,
Sem querer,
Amém
(Arthur Valente)
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Canto de despedida
Eu vou
Vou como Caetano sugeriu
Como Jack escreveu
Como foram Chris, Bob e Jim
Vou como a estrela que caiu
Como um louco no apogeu
Que busca somente
Buscar um fim
Vou como se vai
Como se deveria ir
Desbravando meu íntimo
Meu Abel, meu Caim
Vou como quem sai
Como quem só quer sumir
Criando, quieto, meu ritmo
Que não aguenta mais guardar-se em mim
Vou fundo, de cabeça
Mas, ah! Sem hipocrisia
Vou leve, como poesia
Querendo que a vida aconteça!
Vou por ser criança
Por ter me faltado crescer
Por ser, estar e crer
Que em mim ainda há esperança
Vou por ser fraco
Por ser ignorante e pobre
Por não trocar-me por cobre
E por já ter o semblante opaco
Vou por ter perdido o gosto
Por faltar-me vontade
Porque vivo em infeliz cidade
E pela infelicidade tomar-me o posto
Vou porque me mandaram
Porque fui deixado
Pois já só e destroçado
Me viram em cacos e pisaram
Vou pra não ir de vez
Pra ainda tentar manter-me são
Pra não mais juntar as mãos
E orar minha invalidez.
(Arthur Valente)
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Aos Poetas
Poeta de vida e de morte
Escrevo porque sinto, porque penso e porque sou
Rabisco minhas fraquezas, pois assim sinto-me forte
E declamo meus pesares, procurando alçar voo
Sou político, escrachado, diplomático e violento
Livre pensador, por momento, enjaulado
Encontro cores soltas nos dias mais cinzentos
E caminho contra o vento junto aos nobres rejeitados
Simpático, atraente, indiferente e invisível
Saliente e tímido com as mulheres que almejo
Por vezes aclamado, e outras imperceptível
Vou de lobo prepotente a assustado caranguejo
Expondo meus critérios, admiro quem me ouve
Mas ressalto ainda mais os que me fazem ouvir
Minha arte é flor que nasce, pra cozida, virar couve
Sou o conjunto disso tudo e o que me falta descobrir.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Escolhas
Eu sou dos que vivem pela vida
E não só pra viver
Eu sou daqueles que encontram a saída
Onde outros tantos jamais vão percorrer
Sou do sexo sem nexo,
Somente pelo prazer
E sou também do amor perverso,
Que vem e vai sem se perder.
Sou dos bares, dos ares da noite da selva de concreto
Sou dos sublimes desafetos,
Que a sociedade insiste em esconder
Bohêmio, bêbado, poeta, vagabundo
Sou o limpo mais imundo
Que se possa conhecer
Eu sou a dor, a doença
Que se faz de cura do ser
Eu sou o despudor e a presença do bem,
Que bom mesmo, jamais vai ser.
(Arthur Valente)
E não só pra viver
Eu sou daqueles que encontram a saída
Onde outros tantos jamais vão percorrer
Sou do sexo sem nexo,
Somente pelo prazer
E sou também do amor perverso,
Que vem e vai sem se perder.
Sou dos bares, dos ares da noite da selva de concreto
Sou dos sublimes desafetos,
Que a sociedade insiste em esconder
Bohêmio, bêbado, poeta, vagabundo
Sou o limpo mais imundo
Que se possa conhecer
Eu sou a dor, a doença
Que se faz de cura do ser
Eu sou o despudor e a presença do bem,
Que bom mesmo, jamais vai ser.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Certeza Incerta
Algumas vidas são breves como suspiros
Outras são como espirros
Soltas pelo vento e ecoando do nosso meio
Ao vácuo da morte,
Que, as vezes, por momento
Seja destino ou questão de sorte
Esquece-se de levar a quem já clama por mamar em teu seio
De quem da foice, já anseia o corte.
Algumas vidas são mortes ambulantes,
Que pegas em flagrante
Desdenhando a própria presença
Caem no abismo do existir, sem ter existência
Mas, afinal, são todas vidas
Que de brincadeira ou seriedade
Vêem-se falidas, quando lhes chega a verdade.
A verdade do fato irrefutável ao ser
De que nada é mesmo inviável, improvável ou inalcançável
Até o Sol não mais nascer.
(Arthur Valente)
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Doces Venenos
Aquilo que parecia ser, não foi
Assim como não era
Do jeito que a gente se pois a crer
E agora, a insônia me consome ao bel-prazer
Que é o mesmo prazer que nos consumia
Enquanto só derretíamos por nos ter
Mas como ter, se nem nos tínhamos?
Se nem nos éramos
Como imaginávamos parecer?
Como ser a voz que pulsa teu coração
Se o meu, por opção,
Já contorce-se ao bater?
Foi tão rápido o momento
Assim como o sentimento
Que entrou sem ser chamado
Pra já logo se estabelecer
E estabeleceu-se invasivo
Libertando o mel corrosivo
Que, ao passo que nos nutre
Adocicando, faz morrer.
(Arthur Valente)
domingo, 27 de janeiro de 2013
Imperatriz
Olhos verde-mata
Que quase matam-me de desejo
A mim, em ti, vejo
E desnudo-me, sem medo, a capa
Alma do mais sublime reflexo
Entrego-me à arte por ti criada
Tão leve forma quanto ousada
Deixa-me sedento a testar teu sexo
Mal conheço, em fato, tua verdade
Mas já me fizeste crente louco
Dos teus escritos consumo a pouco
Mas de tuas palavras já grito saudade
De teu toque ainda aguardo a chance
Imperatriz, por nome e postura
Manha de moça encoberta em candura
Se passares por mim, que não seja relance
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
A Fruta
Quero acordar ao teu lado
Com gosto de café fresco
Me enrolar no lençol amassado
Enroscar-me em teu beijo calado
Envolver-te em momento dantesco
Penetrar em teus olhos de noite
Submeter-me a ti, e enfim
Enxugar teu suor alecrim
Deixar que me quebres, me açoites
Chorar teu silêncio vazio
Repleto de angústia escondida
Lavar com amor, tuas feridas
Salivando teu couro vadio
Encher-te de flores e fraudes
Mentir-te paixões verdadeiras
Ganhar-te, a priori, inteira
E perder-te, em segundo, aos alardes.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Espelho
Homenagem a papai e mamãe...
Me fizeram, apareci
Me criaram, aprendi
Me mimaram, estraguei
Limitaram-me, briguei
Me soltaram, me soltei
Divertiram-me, sorri
Me pararam, esperneei
Mas por fim, obedeci
Me falaram, escutei
Espalhei o que ouvi
Me afastaram, me colei
Me grudaram, então parti
Me chamaram, eu voltei
Seguraram-me, cai
Pelo braço, levantei
Pelo afeto, prossegui
Nominaram-me um rei
Desde a hora em que nasci
Sei, nem sempre mereci
Mas prometo, merecerei
Algum dia voarei
Mas juro, volto aqui
Se precisarem, estarei
Sempre perto, logo ali.
(Arthur Valente)
Me fizeram, apareci
Me criaram, aprendi
Me mimaram, estraguei
Limitaram-me, briguei
Me soltaram, me soltei
Divertiram-me, sorri
Me pararam, esperneei
Mas por fim, obedeci
Me falaram, escutei
Espalhei o que ouvi
Me afastaram, me colei
Me grudaram, então parti
Me chamaram, eu voltei
Seguraram-me, cai
Pelo braço, levantei
Pelo afeto, prossegui
Nominaram-me um rei
Desde a hora em que nasci
Sei, nem sempre mereci
Mas prometo, merecerei
Algum dia voarei
Mas juro, volto aqui
Se precisarem, estarei
Sempre perto, logo ali.
(Arthur Valente)
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Inspiração
Às vezes ela some por hora
Sem dizer nada, furtivamente
Deixa-me, assim, de repente
Mostra-se presente e vai embora
E ai, fico a perguntar-me
Onde foi parar a endiabrada
Que me mantém varado a madrugada
E, apesar da espera, faz calar-me?
Talvez ande preguiçosa
Há muito não me visita
Por momento aparece aflita
E depois deixa-me, a caprichosa
Recorro às musas de Camões
Ao romantismo de Álvares de Azevedo
Mas pego-me com o olhar azedo
Pois sem ela, não há paixões
Sem ela não há histórias,
Contos, romances, ou heróis
Do fundo da alma, vem como voz
Que grita por criativas glórias
Oh, inspiração concreta!
Banha-me agora por inteiro!
Faz em mim teu cativeiro,
Pra que eu seja sempre poeta.
(Arthur Valente)
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Devaneios de Vodka
E se fosse o sexo, o cantar?
O dançar?
E se fosse a luz do luar
O altar dos deus pagãos?
E se fossem os loucos, sãos?
E se fôssemos todos irmãos?
E se fosse a vida, certa?
E se fosse a força concreta
Alerta em fazer do mundo
Um amor profundo?
Daquele que se presta a explicar
Pela forma de compor e guiar
E faz-se falha a explicação
Pela própria fôrma
Que se molda a ilusão do tempo
Pois nem todas as forças do vento
Podem descrever a alma
Enquanto ser e existência
Mas se quiseres conhecer a essência,
Muita calma, muita calma...
Paciência...
Ausência de medo
Vivência de cedo
E cadência na palma.
(Arthur Valente)
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