quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Escolhas

Eu sou dos que vivem pela vida
E não só pra viver
Eu sou daqueles que encontram a saída
Onde outros tantos jamais vão percorrer

Sou do sexo sem nexo,
Somente pelo prazer
E sou também do amor perverso,
Que vem e vai sem se perder.

Sou dos bares, dos ares da noite da selva de concreto
Sou dos sublimes desafetos,
Que a sociedade insiste em esconder

Bohêmio, bêbado, poeta, vagabundo
Sou o limpo mais imundo
Que se possa conhecer

Eu sou a dor, a doença
Que se faz de cura do ser
Eu sou o despudor e a presença do bem,
Que bom mesmo, jamais vai ser.

(Arthur Valente)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Certeza Incerta


Algumas vidas são breves como suspiros
Outras são como espirros
Soltas pelo vento e ecoando do nosso meio
Ao vácuo da morte,
Que, as vezes, por momento
Seja destino ou questão de sorte
Esquece-se de levar a quem já clama por mamar em teu seio
De quem da foice, já anseia o corte.

Algumas vidas são mortes ambulantes,
Que pegas em flagrante
Desdenhando a própria presença
Caem no abismo do existir, sem ter existência

Mas, afinal, são todas vidas
Que de brincadeira ou seriedade
Vêem-se falidas, quando lhes chega a verdade.

A verdade do fato irrefutável ao ser
De que nada é  mesmo inviável, improvável ou inalcançável
Até o Sol não mais nascer.


(Arthur Valente)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Doces Venenos



Aquilo que parecia ser, não foi
Assim como não era
Do jeito que a gente se pois a crer

E agora, a insônia me consome ao bel-prazer
Que é o mesmo prazer que nos consumia
Enquanto só derretíamos por nos ter

Mas como ter, se nem nos tínhamos?
Se nem nos éramos
Como imaginávamos parecer?

Como ser a voz que pulsa teu coração
Se o meu, por opção,
Já contorce-se ao bater?

Foi tão rápido o momento
Assim como o sentimento
Que entrou sem ser chamado
Pra já logo se estabelecer

E estabeleceu-se invasivo
Libertando o mel corrosivo
Que, ao passo que nos nutre
Adocicando, faz morrer.


(Arthur Valente)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Imperatriz


Olhos verde-mata
Que quase matam-me de desejo
A mim, em ti, vejo
E desnudo-me, sem medo, a capa

Alma do mais sublime reflexo
Entrego-me à arte por ti criada
Tão leve forma quanto ousada
Deixa-me sedento a testar teu sexo

Mal conheço, em fato, tua verdade
Mas já me fizeste crente louco
Dos teus escritos consumo a pouco
Mas de tuas palavras já grito saudade

De teu toque ainda aguardo a chance
Imperatriz, por nome e postura
Manha de moça encoberta em candura
Se passares por mim, que não seja relance

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Fruta


Quero acordar ao teu lado
Com gosto de café fresco
Me enrolar no lençol amassado
Enroscar-me em teu beijo calado
Envolver-te em momento dantesco

Penetrar em teus olhos de noite
Submeter-me a ti, e enfim
Enxugar teu suor alecrim
Deixar que me quebres, me açoites

Chorar teu silêncio vazio
Repleto de angústia escondida
Lavar com amor, tuas feridas
Salivando teu couro vadio

Encher-te de flores e fraudes
Mentir-te paixões verdadeiras
Ganhar-te, a priori, inteira
E perder-te, em segundo, aos alardes.

(Arthur Valente)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Espelho

Homenagem a papai e mamãe...


Me fizeram, apareci
Me criaram, aprendi
Me mimaram, estraguei
Limitaram-me, briguei

Me soltaram, me soltei
Divertiram-me, sorri
Me pararam, esperneei
Mas por fim, obedeci

Me falaram, escutei
Espalhei o que ouvi
Me afastaram, me colei
Me grudaram, então parti

Me chamaram, eu voltei
Seguraram-me, cai
Pelo braço, levantei
Pelo afeto, prossegui

Nominaram-me um rei
Desde a hora em que nasci
Sei, nem sempre mereci
Mas prometo, merecerei

Algum dia voarei
Mas juro, volto aqui
Se precisarem, estarei
Sempre perto, logo ali.

(Arthur Valente)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Inspiração


Às vezes ela some por hora
Sem dizer nada, furtivamente
Deixa-me, assim, de repente
Mostra-se presente e vai embora

E ai, fico a perguntar-me
Onde foi parar a endiabrada
Que me mantém varado a madrugada
E, apesar da espera, faz calar-me?

Talvez ande preguiçosa
Há muito não me visita
Por momento aparece aflita
E depois deixa-me, a caprichosa

Recorro às musas de Camões
Ao romantismo de Álvares de Azevedo
Mas pego-me com o olhar azedo
Pois sem ela, não há paixões

Sem ela não há histórias,
Contos, romances, ou heróis
Do fundo da alma, vem como voz
Que grita por criativas glórias

Oh, inspiração concreta!
Banha-me agora por inteiro!
Faz em mim teu cativeiro,
Pra que eu seja sempre poeta.

(Arthur Valente)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Devaneios de Vodka


E se fosse o sexo, o cantar?
O dançar?
E se fosse a luz do luar
O altar dos deus pagãos?
E se fossem os loucos, sãos?
E se fôssemos todos irmãos?

E se fosse a vida, certa?
E se fosse a força concreta
Alerta em fazer do mundo
Um amor profundo?

Daquele que se presta a explicar
Pela forma de compor e guiar
E faz-se falha a explicação
Pela própria fôrma
Que se molda a ilusão do tempo

Pois nem todas as forças do vento
Podem descrever a alma
Enquanto ser e existência

Mas se quiseres conhecer a essência,
Muita calma, muita calma...
Paciência...
Ausência de medo
Vivência de cedo
E cadência na palma.

(Arthur Valente)