quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Canto de despedida


Eu vou
Vou como Caetano sugeriu
Como Jack escreveu
Como foram Chris, Bob e Jim

Vou como a estrela que caiu
Como um louco no apogeu
Que busca somente
Buscar um fim

Vou como se vai
Como se deveria ir
Desbravando meu íntimo
Meu Abel, meu Caim

Vou como quem sai
Como quem só quer sumir
Criando, quieto, meu ritmo
Que não aguenta mais guardar-se em mim

Vou fundo, de cabeça
Mas, ah! Sem hipocrisia
Vou leve, como poesia
Querendo que a vida aconteça!

Vou por ser criança
Por ter me faltado crescer
Por ser, estar e crer
Que em mim ainda há esperança

Vou por ser fraco
Por ser ignorante e pobre
Por não trocar-me por cobre
E por já ter o semblante opaco

Vou por ter perdido o gosto
Por faltar-me vontade
Porque vivo em infeliz cidade
E pela infelicidade tomar-me o posto

Vou porque me mandaram
Porque fui deixado
Pois já só e destroçado
Me viram em cacos e pisaram

Vou pra não ir de vez
Pra ainda tentar manter-me são
Pra não mais juntar as mãos
E orar minha invalidez.


(Arthur Valente)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Aos Poetas


Poeta de vida e de morte
Escrevo porque sinto, porque penso e porque sou
Rabisco minhas fraquezas, pois assim sinto-me forte
E declamo meus pesares, procurando alçar voo

Sou político, escrachado, diplomático e violento
Livre pensador, por momento, enjaulado
Encontro cores soltas nos dias mais cinzentos
E caminho contra o vento junto aos nobres rejeitados

Simpático, atraente, indiferente e invisível
Saliente e tímido com as mulheres que almejo
Por vezes aclamado, e outras imperceptível
Vou de lobo prepotente a assustado caranguejo

Expondo meus critérios, admiro quem me ouve
Mas ressalto ainda mais os que me fazem ouvir
Minha arte é flor que nasce, pra cozida, virar couve
Sou o conjunto disso tudo e o que me falta descobrir.