segunda-feira, 22 de julho de 2013

Autopia

Aos amigos do parque. Aos parceiros da vida... Aos agentes da mudança.


A Natureza há de ascender
Mas não pra posse, pois já reina livre
Há de reivindicar-se como mãe maior do ser
Como a fonte vital que ao crescer, nutre
E não há quem não se cative a ver
Que só por ela realmente se vive

Pensam alguns que ela se ausentara
Mas presente está, sem estar
Se não nota, para e repara
E se discorda, por que respirar?

Somos a prole ingrata
Da única rainha que merece trono
Somos o progresso da perda de sono
A raspar felicidades entre vácuos e latas

Mas, como fomos destruidores de nós mesmos!
Pois nós, em conjunto, somos trindade verdadeira
Os pais, os filhos e a espiritualidade
Partes integrantes de um mesmo seio
Natureza dispersa e inteira

Onde agora bebe a vaidade
Que amanhã embriague-se a palmeira
E que sobre o mal da humanidade
Nasça um pé de seringueira.

(Arthur Valente)

sábado, 13 de julho de 2013

Querido Juízo Diário

Ja fui calmo, eufórico e tempestuoso
Já fui salmo, filosófico e religioso
Já fui cético, patético e presunçoso
Já fui criança, adolescente e idoso

Já fui caminho, atalho e perdido
Já fui cascalho e pedra preciosa
Já fui babaca de atitudes honrosas
Já fui honrado, desgarrado e descabido

Já fui poeta, alienado e artista
Já fui modéstia e arrogância puras
Já fui doença sem remédio ou cura
E já fui doçura a esnobar a violência

Já fui vigarista, honesto e enganado
Apartidário, oposição e governista
Já fui lesado por nobres oportunistas
E calculistas com outros renegados

Já fui anarquista, comunista, utopia
Não fui nazista, porque isso não sei ser
Já fui blindado pela sede de vencer
E vulnerável por faltar-me valentia


Já fui passagem, estadia, volta e ida
Já fui azar, inércia, vontade e sorte
Já fui saída às peripécias da morte
E a entrada pro melhor que há na vida

Aos que questionam o que sou por completo
Sou concreto e abstrato em alquimia
Como posso ser, na vida, algo certo
Se incerto fui, e todo o resto, em um só dia?

(Arthur Valente)

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Desabafo Analítico do Indigesto

A beleza da vida, hei de lembrar
Está contida na imperfeição contínua
Na alteração repentina que busca alcançar
A plenitude a que tudo se inclina
Sem nunca se planificar.
Pois pra cada cena, ato, momento
Sopra o vento de uma forma única
E não há de existir véu ou túnica
Que protejam o velho rabugento
Já passado
A se tornar só um contento ultrapassado
Amaldiçoado em ser deixado
Quase como fosse calúnia
Reprimido em seu repertório lento
Pobre, intolerante e transtornado
O caos, por essência
É o parto da mudança
A dor ansiosa da paciência
Que convulsiona-se sem cadência
Pra atrair a sonhada bonança
É a válvula de ação da descrença
Pro que já não mais avança
Ou um pedido de desistência
Ou um gesto de resistência
Ao mestre-sala que dança
Não mais por liderança
Mas por orgulho torpe e teimosa persistência.
Pois não hei de esquecer também
Que o perigo da constante inconstância
É sujar-se em intolerância
Com sua sucessora que logo vem
E que não mais por temperança
Nos destemperemos a crer na violência
Dos que sentenciam nossa potência
Paixão, eloquência
E convicção na crença do novo em ascenção
À fala tímida e mansa.
Que não nos calemos quando o novo gritar
E bradar que agora é sua vez de agir
Pois nasce este pelo o que nos fizeram engolir
E vive para que aprendamos finalmente
A mastigar.

(Arthur Valente)