segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Hoje

Hoje homenageiam profanadores de crianças
Divinizam diabólicos pastores
Deixando a herança dos dissabores
Às mudas de flores sedentas de esperança

Hoje cantam festa onde reina a fome
E pregam que o ódio tem nome de paz
Fazendo a justiça de bomba de gás
E pisando nos restos do corpos que somem

Hoje proíbem a gente de ser gente
E é hoje mais quente a tensão que o verão
Hoje falta à geração o que sobra no pente
A disparar sementes de medo e opressão

Hoje mentem repetidamente pra criar verdade
E fazem da vaidade seu mais forte refrão
Mas quando a pobre mocidade reflete tal idealização
Ai, com balas e grades, dizem que não
Saudando a apreensão da ideia de igualdade
E tomando a liberdade de quem nem sempre ostenta pão

Hoje trazem a copa que transborda em privilégios
E propagam que a todos será dada de beber
Mas ainda não sabem que sua vaca de poder
Vai logo pro brejo
Quando as mulas dissidentes dos colégios,
Ds igrejas, dos quartéis, e do obedecer
Devorarem o capim dos velhos sacrilégios
Dando espaço ao novo que não tarda a nascer.


(Arthur Valente)

domingo, 5 de janeiro de 2014

Ainda é cedo

Olha lá, moça
Ouve só que canto prosa
Lembra-nos que não esqueçamos das rosas
Mas que também não das poças

E diz ainda, veja só
Que parecem nos engolir
Nos esburacar
Mas que quem nos afunda
E inunda pra depois deixar a esmo
Somos mós mesmos

Ouve bem, flor
Que a cor do mundo é todas mescladas
E que viver é como subir escadas
Alterando-se só o corredor
O corrimão 
E a altura das escadas
Em relação ao chão

Mas te aquieta que do chão não passa
E que se não fosse o chão
Voar não teria graça.

Então voa, passarinho
Mantem-te a cantar como rouxinol
Vivencia todo o pôr-do-sol
Sem medo de ser feliz
E orgulhando-se das cicatrizes
Pois são elas as donas das diretrizes
Pra que tu alcances o Sol
A Lua, além, o que for
E daí, se quiseres, fazes ninho
Com ou sem raízes
Mas sempre com amor.


(Arthur Valente)