domingo, 20 de julho de 2014

Ponto Forte

Teus olhos furtivos me roubam a concentração
E me curam a afobação mesmo nos momentos mais agressivos
Deixando-me sempre a condição ininteligível
Que és em mim a própria substância da paixão

Sinto tua falta todos os dias
Falta da arte que és só por existir
Me apertas o peito, sem saber, nas noites mais frias
Contagia-me de poesia que, de ti, é elixir
E transborda lirismo sem usar de uma só caligrafia

Como se não bastasse, refletiu-me em verso
A partir de tua vista tão cautelosa
Ao exalar de tua pena o cheiro da mais doce rosa
Chamou-me de azul neste teu vasto universo
E agora, de modo inverso, devolvo-lhe a menção honrosa
Mas com a certeza que em minha vida teu ingresso
Não caberia na mais sublime prosa

Sinto apreço pelas tuas sutilezas escrachadas
Pelas tuas incertezas ponderadas
E pela tua encantada leveza

Atrai-me tua essência misteriosa
Tua paciência fervorosa
E tua caridosa inteligência

Coloco-me à tua disposição
Mais por necessidade que por opção
Mas quero que fiques à vontade
Pra reconhecer em tua sensibilidade
O quanto é válida essa nossa relação
E já digo, de antemão,
Que se queres saber a verdade
É que não há só uma tua parte
Que não seja inspiração.


(Arthur Valente)

terça-feira, 15 de julho de 2014

Dos Diálogos

Nada denuncia mais do que o olhar
Basta que as janelas se cruzem
Pra que as almas saltem de seu lugar
E se alcancem mutuamente num diálogo silencioso
Mas tão honesto que faz inveja tanto à língua
Quanto ao ato de falar

É pela curva dos olhos que fica mais perceptível
A forma com a qual o ser
Torna-se tudo o que tem capacidade
Para se tornar

A íris age como agente sensível
Mostrando o até então latente querer
Ao entregar sem resistência a verdade
Que de tudo fizera pra não se mostrar

Olhei o teu olhar no meu grudado
E não precisastes mais usar, da fala, um só recurso
Pois o que com ele me foi falado
Não alcançaria dizer nem o mais poético discurso

E falamos tantas vezes sem dizermos quase nada
Por horas escrevemos as mais sublimes confissões
Que saíam como expressivas projeções
Criadas por nossas almas apaixonadas
E exportamos todas as emoções
Sem que precisássemos fazer uso de qualquer linguística ensaiada

Entre nossas janelas agora se criou um elo
Tão fortificado e belo que não há no mundo
Corte suficientemente profundo
Que destrua o ligamento construído pelos gestos mais singelos

Não temos o que temer
Tampouco são nossas inseguranças carregadas de sentido
Confio que seremos, a nós, o melhor que pudermos ser
E que mesmo se um dia ficar o coração partido
Ainda assim encontraremos neste vínculo tão bem construído
A razão mais clara pra continuarmos a viver.


(Arthur Valente)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Contato e Improvisação

Agradecimentos à Larissa Neves - poetiza, musicista, escritora, atriz, roteirista, boniteza e futura historiadora - que me abriu os olhos pra essa vertente artística incrível. Gratidão :)

Corpos balançam em dança
São, primeiro, caricaturas de um elemento
Que mais parece entidade
São o próprio vento
Que num momento é tempestade
E em outro parece que amansa

Depois são amostra de rara leveza
E há algo sutil em seus jogos de olhar
Comunicam-se com demasiada destreza
E há certa ingenuidade latente que atiça
Pra depois ser malícia encoberta em véu sereno

E eis que paira sobre o ar
Como se fossem juntos uma só natureza
Uma atmosfera de beleza
Entre os doces venenos e as brutas carícias
Que não há quem não queira se entregar
À delícia
De sentir-se pleno ou plena
E de marcar a cena
Para si e para sempre
Em seu corpo terreno.


(Arthur Valente)