O Valente das palavras e dos versos me deu um abraço quente.
Fez sorrir ao pedir para que ficasse mais alguns segundos, colado em meu peito
Valente das palavras e dos versos, enfrentou a timidez
E me convidou para um dois pra cá, dois pra lá.
Olha, Valente das palavras e dos versos, eu fiquei encantada.
Não que seja novidade meu inebriamento contigo.
Igualmente sou das palavras e dos versos. E dos passos.
Mas não dos passinhos, esses que você me convidou.
E eu sei que não preciso me preocupar com que roupa eu vou.
Existe alguma tempestade cintilada nos teus olhos,
Sorriso que não canso de apreciar.
E as roupas, ai, as roupas, esses deslizantes tecidos...
São as últimas coisas que eu penso
Ao te ver chegar.
(Deborah - 12/11/14)
Pensamentos Rimados
Autorreflexões Depressivas da Madrugada
sábado, 13 de dezembro de 2014
domingo, 16 de novembro de 2014
Homenagem aos Anjos Caídos
Lá do alto da torre de mármore camuflada em concreto
Vivem os anjos da sapiência a debaterem a vida sofrida
Dos povos ainda afogados no lodo terreno
E fazem uso da língua que lhes é tão distinta e rebuscada
Para afirmar que tudo querem limpo
Sem nem ao menos descerem as escadas
E quando vão à terra contemplar suas feridas
Só o fazem sobrevoando com suas asas plumosas bem erguidas
Sentindo-se com aos antigos deuses do Olimpo
E gritando seu ininteligível dialeto
Que são os mais pobres, enquanto sujeitos, a única saída
Mas ainda assim se esgoelam como se comandassem objetos
E tampouco se dão ao trabalho de usar da linguagem comum à vida
Para se fazerem entender aos que dizem guardar afeto.
Depois voltam à morada do esclarecimento
E vão aos pares dizer do que ocorre lá pelo mundo afora
Um ou outro, ás vezes, faz que chora
Outro ou um ri de nervoso
E é geral o sentimento de impotência para com o sofrimento.
"Mas o que será que fazemos de errado? Por que não nos dão atenção?"
O mesmo que questiona, parece não ter notado
Que aqueles e a aquelas com os quais queria estabelecer diálogo
Estavam mais preocupados e nadar atrás de sustento
Para suas irmãs e irmãos.
E, então, no meio de uma dessas assembléias divinas
Onde só se fala a língua dos anjos e, por vezes, se repetem as falas
Sem conseguirem - por incrível que pareça - se entenderem
Alguém se levanta e sugere ao quórum:
"E se abríssemos mão das asas e fôssemos nadando como o resto?"
Silêncio na plenária e entre os corpos a tensão parece que exala
Até que um dos sábios à palavra se inclina:
"Essa proposta é um manifesto que tem por intenção fazer os anjos retrocederem!
Não devemos abrir mão de nossa verdade alcalina!
Pelo contrário, é daqui que damos a chance dos pobres ascenderem!"
Daí que se levanta mais uma vez o primeiro anjo para a réplica ao fórum:
"Mas como podemos lhes ensinar a voar, se nunca vamos ao chão?
Aposto, pois, que aqueles que dizemos querermos salvar dessa vida cretina
Quando nos olham, só sentem o sentimento mais indigesto!"
"Mas como podem nos olhar com tamanha repulsão
Se aqui pensamos para que se livrem de suas sinas?
Somos como eles e elas, mas agora aprendemos, por determinação,
A pensar com a razão, a voar para fim de observação
E a falar a língua mais bela que a todos fascina!
E para que todos possam usufruir dessas possibilidades o nosso constante protesto.
E além de tudo, a sua proposta me parece um tanto quanto assassina!"
Quando o absurdo ascendeu e as palmas vieram contínuas
A esperança de súbito desfaleceu e foi chorar na colina.
Talvez os anjos precisem ter as asas arrancadas pela dura repressão
E que sejam sugados pelo lodo mais funesto
Pra se lembrarem que só se aprende a voar de baixo para cima.
Vivem os anjos da sapiência a debaterem a vida sofrida
Dos povos ainda afogados no lodo terreno
E fazem uso da língua que lhes é tão distinta e rebuscada
Para afirmar que tudo querem limpo
Sem nem ao menos descerem as escadas
E quando vão à terra contemplar suas feridas
Só o fazem sobrevoando com suas asas plumosas bem erguidas
Sentindo-se com aos antigos deuses do Olimpo
E gritando seu ininteligível dialeto
Que são os mais pobres, enquanto sujeitos, a única saída
Mas ainda assim se esgoelam como se comandassem objetos
E tampouco se dão ao trabalho de usar da linguagem comum à vida
Para se fazerem entender aos que dizem guardar afeto.
Depois voltam à morada do esclarecimento
E vão aos pares dizer do que ocorre lá pelo mundo afora
Um ou outro, ás vezes, faz que chora
Outro ou um ri de nervoso
E é geral o sentimento de impotência para com o sofrimento.
"Mas o que será que fazemos de errado? Por que não nos dão atenção?"
O mesmo que questiona, parece não ter notado
Que aqueles e a aquelas com os quais queria estabelecer diálogo
Estavam mais preocupados e nadar atrás de sustento
Para suas irmãs e irmãos.
E, então, no meio de uma dessas assembléias divinas
Onde só se fala a língua dos anjos e, por vezes, se repetem as falas
Sem conseguirem - por incrível que pareça - se entenderem
Alguém se levanta e sugere ao quórum:
"E se abríssemos mão das asas e fôssemos nadando como o resto?"
Silêncio na plenária e entre os corpos a tensão parece que exala
Até que um dos sábios à palavra se inclina:
"Essa proposta é um manifesto que tem por intenção fazer os anjos retrocederem!
Não devemos abrir mão de nossa verdade alcalina!
Pelo contrário, é daqui que damos a chance dos pobres ascenderem!"
Daí que se levanta mais uma vez o primeiro anjo para a réplica ao fórum:
"Mas como podemos lhes ensinar a voar, se nunca vamos ao chão?
Aposto, pois, que aqueles que dizemos querermos salvar dessa vida cretina
Quando nos olham, só sentem o sentimento mais indigesto!"
"Mas como podem nos olhar com tamanha repulsão
Se aqui pensamos para que se livrem de suas sinas?
Somos como eles e elas, mas agora aprendemos, por determinação,
A pensar com a razão, a voar para fim de observação
E a falar a língua mais bela que a todos fascina!
E para que todos possam usufruir dessas possibilidades o nosso constante protesto.
E além de tudo, a sua proposta me parece um tanto quanto assassina!"
Quando o absurdo ascendeu e as palmas vieram contínuas
A esperança de súbito desfaleceu e foi chorar na colina.
Talvez os anjos precisem ter as asas arrancadas pela dura repressão
E que sejam sugados pelo lodo mais funesto
Pra se lembrarem que só se aprende a voar de baixo para cima.
domingo, 2 de novembro de 2014
Conversa Fiada
Não sei quanto a você.
Tudo que tenho são especulações da minha identidade
Há muito acuso a mim mesmo por faltar comigo à verdade
E navego pelo íntimo caçando uma realidade de cada vez
Mas a realidade tá no mundo!
Tudo bem, eu aceito o argumento
Mas me defina por favor de qual mundo falamos no momento
Desse que se apresenta a meus olhos imbuído de sentido
Que a mim serve de explicação?
De um outro mais imaginativo,
Mas que tem lá suas provas de estar vivo
Através de suposição,
Ou do que vive em meu universo criativo
Mas que se reproduz na materialidade, por mim, em cada ação?
Você está confundindo prática com intenção?
Não!
Estou dizendo que os mundos se unem por pontos invisíveis
Mas que não são uma só figura definitiva
Que há sim mais de uma intersecção
Mas que entre todas a possibilidades há incríveis alternativas!
Nossa, quanta ilusão! Que romantismo barato!
Bom, peço perdão por estar um pouco anacrônico, talvez
Na forma de enxergar toda essa composição que me forma
A visão pra além do que relato
Ou talvez pra além do que me cabe relatar de uma só vez
E também me desculpo por acreditar que está dada sim a norma
Mas que esta própria em todos os mundos tem solução
E que só a tem
Porque sofre influência de outros aparatos, apesar de não ser destes refém.
Não tem vergonha de tamanha arrogância sob o véu de contemplação?!
Tenho vergonha de muitas coisas características em mim latentes
Mas, na verdade - se é que isso existe - tal reflexão
Não me toma em constrangimento
Tampouco me serve de corrente para estagnar minha desconstrução
Ou de instrumento para justificar o que em mim precisa se tornar diferente.
Então pra que te serve toda essa categorizarão, senão pra relativizar?
Boa questão. Vou deixar alguns motivos:
Primeiro, me segura em estar vivo ao me lembrar que tenho opção
Segundo, me conforta a orientação que adotei pra que a ela possa ajoelhar
Sem duvidar nem por um segundo de seu crivo
Por terceiro me deixa livre o pensamento pra sonhar
E, por último, mas não menos importante
Me faz lembrar que cada instante é aprendizado mútuo
Que da cada integrante de todos os mundos é agente bruto
A ser lapidado como diamante
Mas que o formato de tal jóia há de ser sempre projeto
E nunca uma constante
Tampouco que existe algo passível de ser por si só certo
Cada ponto variante é sujeito e objeto.
Meio pós-moderno tudo isso, hein?
Pode ser, mas a quem posso mentir?
Também sou fruto do que aprendi
Peça de meu próprio tempo histórico
Mas por essa distinção de mundos sei que estes vão pra além
Do que se pode divagar por qualquer artifício retórico
E eu vou junto desde o momento em que nasci.
Acho toda essa fala uma ladainha deslavada.
Isso é porque minha alma é suja, minha mente é festa
E meu corpo é disfarce
Mas, penso, que dessa união não há quem fuja
E que toda essa figuração é um enlace
Criado pela ineficiência ansiosa da razão.
Mas, de fundo, como todo o poeta, minha fala é cilada
E que, provavelmente, com toda essa digressão
Você não tenha entendido nada.
(Arthur Valente)
Tudo que tenho são especulações da minha identidade
Há muito acuso a mim mesmo por faltar comigo à verdade
E navego pelo íntimo caçando uma realidade de cada vez
Mas a realidade tá no mundo!
Tudo bem, eu aceito o argumento
Mas me defina por favor de qual mundo falamos no momento
Desse que se apresenta a meus olhos imbuído de sentido
Que a mim serve de explicação?
De um outro mais imaginativo,
Mas que tem lá suas provas de estar vivo
Através de suposição,
Ou do que vive em meu universo criativo
Mas que se reproduz na materialidade, por mim, em cada ação?
Você está confundindo prática com intenção?
Não!
Estou dizendo que os mundos se unem por pontos invisíveis
Mas que não são uma só figura definitiva
Que há sim mais de uma intersecção
Mas que entre todas a possibilidades há incríveis alternativas!
Nossa, quanta ilusão! Que romantismo barato!
Bom, peço perdão por estar um pouco anacrônico, talvez
Na forma de enxergar toda essa composição que me forma
A visão pra além do que relato
Ou talvez pra além do que me cabe relatar de uma só vez
E também me desculpo por acreditar que está dada sim a norma
Mas que esta própria em todos os mundos tem solução
E que só a tem
Porque sofre influência de outros aparatos, apesar de não ser destes refém.
Não tem vergonha de tamanha arrogância sob o véu de contemplação?!
Tenho vergonha de muitas coisas características em mim latentes
Mas, na verdade - se é que isso existe - tal reflexão
Não me toma em constrangimento
Tampouco me serve de corrente para estagnar minha desconstrução
Ou de instrumento para justificar o que em mim precisa se tornar diferente.
Então pra que te serve toda essa categorizarão, senão pra relativizar?
Boa questão. Vou deixar alguns motivos:
Primeiro, me segura em estar vivo ao me lembrar que tenho opção
Segundo, me conforta a orientação que adotei pra que a ela possa ajoelhar
Sem duvidar nem por um segundo de seu crivo
Por terceiro me deixa livre o pensamento pra sonhar
E, por último, mas não menos importante
Me faz lembrar que cada instante é aprendizado mútuo
Que da cada integrante de todos os mundos é agente bruto
A ser lapidado como diamante
Mas que o formato de tal jóia há de ser sempre projeto
E nunca uma constante
Tampouco que existe algo passível de ser por si só certo
Cada ponto variante é sujeito e objeto.
Meio pós-moderno tudo isso, hein?
Pode ser, mas a quem posso mentir?
Também sou fruto do que aprendi
Peça de meu próprio tempo histórico
Mas por essa distinção de mundos sei que estes vão pra além
Do que se pode divagar por qualquer artifício retórico
E eu vou junto desde o momento em que nasci.
Acho toda essa fala uma ladainha deslavada.
Isso é porque minha alma é suja, minha mente é festa
E meu corpo é disfarce
Mas, penso, que dessa união não há quem fuja
E que toda essa figuração é um enlace
Criado pela ineficiência ansiosa da razão.
Mas, de fundo, como todo o poeta, minha fala é cilada
E que, provavelmente, com toda essa digressão
Você não tenha entendido nada.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Diálogo Reflexivo
Explodia de ódio ao olhar a torpe figura
Que delirava ao céus pedindo por misericórdia
Não contentava-se em ser da discórdia
O semblante mais claro e a mais pomposa postura
Ainda se dava o direito de chorar amarguras
Como se fosse ele a vítima de sua própria secura
Como se o choro fosse de si uma espécie da paródia
Lembrava-o que tinha sido criado pra ser rei
E que como todo déspota construído não podia sentir
Que cada traço de sua alma era um fragmento da lei
Que rege da sociedade ao ato de oprimir
Que era ele o motivo da violência
E da ausência de suporte a quem não tem o direito de existir
E foi então que ele me disse estar arrependido
Que sendo assim, se pudesse, nem tinha existido
E eu ri agraciado pela facilidade do discurso
Mas sabia que sua vontade não passava de recurso
Pra tentar ser aceito e contemplado pelos que maltratou
E adentrar o universo da dor que jamais o preocupou
"Pois se este é seu desejo, jovem príncipe branco,
Frio e assassino como a própria neve de inverno brusco,
É seu trabalho se quebrar em pedaços minúsculos
E se refazer à luz dos que, por sua existência, viveram a vida em trancos
Construídos socialmente pelo o que nomeia o consenso como essência
Mas, veja bem, que uma vez quebrado o pilar do falso ser
Que, na verdade, é estar,
Não há caminho para o qual se possa voltar e estará fadado
A ficar marcado como um injustiçado
Lutando pra sobreviver
E pra um dia ter seu direito de viver assegurado
E saiba que pra cada pedaço seu despedaçado
Há de vir crescer um pouco mais seu coração
Mas na medida em que puder sentir de fato o mundo em seu entorno
Também aumentará a dor, a cada vez que errar, da frustração
Abrindo mão de sua nobreza injusta e detestável
Se tornará mais nobre de espírito, mais forte e apaixonado
Mas também mais vulnerável
Ao pior que os, assim como você hoje normatizam a diversidade,
Podem fazer pra verem morrer aquilo que no mundo é mais bonito e inabalável
A rama inacabável das possibilidades
Quer lutar pela justiça, pela liberdade e pela nova era?
Então, não espera e começa a se quebrar como mineiro
Mas lembra todo o dia que o mal não morre nunca por inteiro
Que estará sempre a disputar sua alma, por mais que seja ela sincera
Que lembrará sempre dos tempos em que não precisava fingir à regra
Porque era a regra brincando de exceção
Mas não se deixe ajoelhar a tal sermão e foge do poder do dinheiro
E lembra que o desejo de ser aceito não pode ser a fera
Que irá deixar tua bondade cega
E fará com que abandone suas irmãs e irmãos
Para ser, mais uma vez, do exército, não da revolução
Mas dos herdeiros do trono do opressão.
Seu destino nunca cela até que o momento do fim venha
Então não faça pouco de seu esforço, mas não pense que a mudança virá logo
Lembra todo o dia do tudo que está em jogo
Lembra que ser do corpo da resistência depende da sua prática
Lembra que a estratégia não tem importância se não há ação tática
E que ainda vai se magoar muito e principalmente a quem ama
Mas que isso não motivo pra se entregar à norma estática
Perversa e cruel a deixar o mundo, aos vivos, como afundados numa poça de lama
Boa luta, jovem guerreiro
Se apega em quem te demonstra lealdade e carinho
Toma cuidado na trilha, mas saiba que não está sozinho
E não tem pressa que os últimos ainda hão de ser os primeiros."
(Arthur Valente)
Que delirava ao céus pedindo por misericórdia
Não contentava-se em ser da discórdia
O semblante mais claro e a mais pomposa postura
Ainda se dava o direito de chorar amarguras
Como se fosse ele a vítima de sua própria secura
Como se o choro fosse de si uma espécie da paródia
Lembrava-o que tinha sido criado pra ser rei
E que como todo déspota construído não podia sentir
Que cada traço de sua alma era um fragmento da lei
Que rege da sociedade ao ato de oprimir
Que era ele o motivo da violência
E da ausência de suporte a quem não tem o direito de existir
E foi então que ele me disse estar arrependido
Que sendo assim, se pudesse, nem tinha existido
E eu ri agraciado pela facilidade do discurso
Mas sabia que sua vontade não passava de recurso
Pra tentar ser aceito e contemplado pelos que maltratou
E adentrar o universo da dor que jamais o preocupou
"Pois se este é seu desejo, jovem príncipe branco,
Frio e assassino como a própria neve de inverno brusco,
É seu trabalho se quebrar em pedaços minúsculos
E se refazer à luz dos que, por sua existência, viveram a vida em trancos
Construídos socialmente pelo o que nomeia o consenso como essência
Mas, veja bem, que uma vez quebrado o pilar do falso ser
Que, na verdade, é estar,
Não há caminho para o qual se possa voltar e estará fadado
A ficar marcado como um injustiçado
Lutando pra sobreviver
E pra um dia ter seu direito de viver assegurado
E saiba que pra cada pedaço seu despedaçado
Há de vir crescer um pouco mais seu coração
Mas na medida em que puder sentir de fato o mundo em seu entorno
Também aumentará a dor, a cada vez que errar, da frustração
Abrindo mão de sua nobreza injusta e detestável
Se tornará mais nobre de espírito, mais forte e apaixonado
Mas também mais vulnerável
Ao pior que os, assim como você hoje normatizam a diversidade,
Podem fazer pra verem morrer aquilo que no mundo é mais bonito e inabalável
A rama inacabável das possibilidades
Quer lutar pela justiça, pela liberdade e pela nova era?
Então, não espera e começa a se quebrar como mineiro
Mas lembra todo o dia que o mal não morre nunca por inteiro
Que estará sempre a disputar sua alma, por mais que seja ela sincera
Que lembrará sempre dos tempos em que não precisava fingir à regra
Porque era a regra brincando de exceção
Mas não se deixe ajoelhar a tal sermão e foge do poder do dinheiro
E lembra que o desejo de ser aceito não pode ser a fera
Que irá deixar tua bondade cega
E fará com que abandone suas irmãs e irmãos
Para ser, mais uma vez, do exército, não da revolução
Mas dos herdeiros do trono do opressão.
Seu destino nunca cela até que o momento do fim venha
Então não faça pouco de seu esforço, mas não pense que a mudança virá logo
Lembra todo o dia do tudo que está em jogo
Lembra que ser do corpo da resistência depende da sua prática
Lembra que a estratégia não tem importância se não há ação tática
E que ainda vai se magoar muito e principalmente a quem ama
Mas que isso não motivo pra se entregar à norma estática
Perversa e cruel a deixar o mundo, aos vivos, como afundados numa poça de lama
Boa luta, jovem guerreiro
Se apega em quem te demonstra lealdade e carinho
Toma cuidado na trilha, mas saiba que não está sozinho
E não tem pressa que os últimos ainda hão de ser os primeiros."
(Arthur Valente)
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
O Segredo do Segredo
A roupa do rei foi deposta
Cai a casa, ergue-se o parlamento desnudo
A moça veste o que queria despir de costas
O moço tem vergonha do que disse ser graúdo
E a mente da gente toda cansada agora tosta
A casa do parlamento tosta
Cai, do rei, vergonha do que disse ser desnudo
A moça agora toda cansada da mente deposta
E a gente ergue-se, veste a roupa de costas
Foi o que queria despir o moço graúdo
A moça ergue-se de costas
Cai do moço a roupa, a vergonha foi deposta
A casa do rei, o parlamento, a gente tosta
E a mente toda veste o que queria graúdo
Desnudo, a despir, tem do que disse ser cansada agora
A linguagem, por praticidade toda,
Não guarda em si uma só verdade
Mas, ao que se quis ver,
Ao que se possa ler.
Mas, por verdade, a linguagem ao que se quis ler
Não guarda em si ao que se possa ver toda
Uma só praticidade.
A praticidade por toda a linguagem,
Guarda em si uma só verdade,
Não ao que se possa ver
Mas ao se queira ler.
(Arthur Valente)
Cai a casa, ergue-se o parlamento desnudo
A moça veste o que queria despir de costas
O moço tem vergonha do que disse ser graúdo
E a mente da gente toda cansada agora tosta
A casa do parlamento tosta
Cai, do rei, vergonha do que disse ser desnudo
A moça agora toda cansada da mente deposta
E a gente ergue-se, veste a roupa de costas
Foi o que queria despir o moço graúdo
A moça ergue-se de costas
Cai do moço a roupa, a vergonha foi deposta
A casa do rei, o parlamento, a gente tosta
E a mente toda veste o que queria graúdo
Desnudo, a despir, tem do que disse ser cansada agora
A linguagem, por praticidade toda,
Não guarda em si uma só verdade
Mas, ao que se quis ver,
Ao que se possa ler.
Mas, por verdade, a linguagem ao que se quis ler
Não guarda em si ao que se possa ver toda
Uma só praticidade.
A praticidade por toda a linguagem,
Guarda em si uma só verdade,
Não ao que se possa ver
Mas ao se queira ler.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Dos Desabafos
Não ligava muito ao fato
De que durmo como pedra e,
Como pedra, não sonho quando durmo
Porque antes sonhava acordado
Mesmo e apesar do mundo medonho
Que em meu entorno se põe exclamado
E mesmo e apesar do céu acinzentado
Que encobre o sol pacato
Durante o período diurno
Mas ultimamente parece que me empedrei por completo
Tanto que até faço uso de palavra nova e recém-inventada
Porque me falta vocábulo pra conceber onde, como e quando, neste trajeto
Aconteceu de minha sede de sonhar ter sido soterrada
E nem ao menos eu poder saber se encoberta foi pelo concreto
Acho que não.
Acho que talvez deva mudar de ramo, sair da arte
Viver de objetivos plausíveis, de conta no banco
De mentiras bem contadas, de cegueira auto-imposta
Pra nadar num rio de bosta
Achando que é isso mesmo, sei lá,
Que faz parte.
Mas não consigo..
Reza a lenda, diz o poeta, o profeta, tanto faz
Que quando se dá um passo a frente, o único problema
É que não se pode voltar mais atrás
E ai se vive o dilema que fica ali posto
De não saber se é melhor viver ignorante e abraçar o sistema
Ou saber que existe, ter a consciência como lema
E morrer de desgosto.
Mas, veja, mundo feroz, hostil e doente
Que nem todo o mundo é gente, quando vista de cima
Que nem todo o mundo pode escolher ignorar teu discurso prepotente
A qual fazes e desfazes, cria prédios, cria cidades, quebra o clima,
Pra deixar a ti mesmo, ó grande entidade,
Sempre forte e potente.
Dane-se! Quer saber?! Se até os sonhos me roubastes,
Vou viver de esperança, de inspiração, de resistência e conhecimento
Porque sei que esses quatro estandartes
Não importa o tempo, o espaço, nem o momento
Só podes tomar de mim se, enfim,
Me matares.
E digo já que não tenho mais medo da demência
Da repressão, do tormento nem da tua tão amada e tentadora ganância
Tenho medo é de ter medo da tua face e, numa temerosa incoerência,
Ver em ti alguma segurança.
Morro de fome ou do que tu quiseres me matar
Mas morro de consciência tranquila
E te garanto, ó santo patriarca da família
Que antes do fim ainda volto a sonhar.
(Arthur Valente)
De que durmo como pedra e,
Como pedra, não sonho quando durmo
Porque antes sonhava acordado
Mesmo e apesar do mundo medonho
Que em meu entorno se põe exclamado
E mesmo e apesar do céu acinzentado
Que encobre o sol pacato
Durante o período diurno
Mas ultimamente parece que me empedrei por completo
Tanto que até faço uso de palavra nova e recém-inventada
Porque me falta vocábulo pra conceber onde, como e quando, neste trajeto
Aconteceu de minha sede de sonhar ter sido soterrada
E nem ao menos eu poder saber se encoberta foi pelo concreto
Acho que não.
Acho que talvez deva mudar de ramo, sair da arte
Viver de objetivos plausíveis, de conta no banco
De mentiras bem contadas, de cegueira auto-imposta
Pra nadar num rio de bosta
Achando que é isso mesmo, sei lá,
Que faz parte.
Mas não consigo..
Reza a lenda, diz o poeta, o profeta, tanto faz
Que quando se dá um passo a frente, o único problema
É que não se pode voltar mais atrás
E ai se vive o dilema que fica ali posto
De não saber se é melhor viver ignorante e abraçar o sistema
Ou saber que existe, ter a consciência como lema
E morrer de desgosto.
Mas, veja, mundo feroz, hostil e doente
Que nem todo o mundo é gente, quando vista de cima
Que nem todo o mundo pode escolher ignorar teu discurso prepotente
A qual fazes e desfazes, cria prédios, cria cidades, quebra o clima,
Pra deixar a ti mesmo, ó grande entidade,
Sempre forte e potente.
Dane-se! Quer saber?! Se até os sonhos me roubastes,
Vou viver de esperança, de inspiração, de resistência e conhecimento
Porque sei que esses quatro estandartes
Não importa o tempo, o espaço, nem o momento
Só podes tomar de mim se, enfim,
Me matares.
E digo já que não tenho mais medo da demência
Da repressão, do tormento nem da tua tão amada e tentadora ganância
Tenho medo é de ter medo da tua face e, numa temerosa incoerência,
Ver em ti alguma segurança.
Morro de fome ou do que tu quiseres me matar
Mas morro de consciência tranquila
E te garanto, ó santo patriarca da família
Que antes do fim ainda volto a sonhar.
(Arthur Valente)
sábado, 6 de setembro de 2014
Dos Testamentos
Começo este relato-confidência
Anunciando de forma clara em tom de verdade
Que espero ter da vida ainda muitas reticências
Mas que sei que o ponto final fica à cargo da casualidade
Queria dizer que, apesar da pouca idade,
Carrego na memória e no presente já certa vivência
E digo tal coisa com tanta propriedade
Porque já tanto passei desespero, quanto exalei felicidade
E que mesmo aglomerando tantas e tantas presenças
Explodi mais de uma vez de saudade
Queria aproveitar o momento de inspiração
Pra versar sobre o que a mim faria sentido
De acordo com o tudo que sou e tenho vivido
Caso meu espírito perdesse o vestido
Ao qual nomeio como corpo, ou projeção
Ao invés de choros, velas e nostalgia
Gostaria eu que meu próprio velório fosse celebração
Que, regado à célebre batucada provinda da Bahia,
Todos os presentes, juntos, entoassem coros até o nascer do dia
E que enchessem-se de cachaça à revelia
E um feijão preto bem feito pra fim de sustentação
Dando a meu pai Ogun, mestre da simpatia e da rebelião
Uma noite que, ao invés de silenciosa e fria,
Fosse quente, de folia e de célebre oração
Minha consciência e meu espírito já descolados
Frente a uma visão como a que projeto
Poderiam, então, amansados
Fazerem-se livres por completo
E sem a menor preocupação
No fim, gostaria de ser cremado a céu aberto
E, caso sobrassem restos de minha ex-materialidade em decomposição,
Que fossem enterrados sob a selva de concreto
Da qual fui filho tanto desafeto quanto dotado de paixão
No mais, antes de tudo, que sejam dadas as partes de mim que servirem
Para que outros, ou outras, possam persistir
No ato de curtirem
Um pouco mais do que essa vida possa lhes servir.
E já digo, de antemão, que sou e espero ainda poder
Ser grato pelo tudo o que por aqui verei e vi
E principalmente pelos, e pelas, que por aqui
Tive o privilégio de conhecer.
Asé.
Até quando puder, aonde e a quem.
Amém.
(Arthur Valente)
Anunciando de forma clara em tom de verdade
Que espero ter da vida ainda muitas reticências
Mas que sei que o ponto final fica à cargo da casualidade
Queria dizer que, apesar da pouca idade,
Carrego na memória e no presente já certa vivência
E digo tal coisa com tanta propriedade
Porque já tanto passei desespero, quanto exalei felicidade
E que mesmo aglomerando tantas e tantas presenças
Explodi mais de uma vez de saudade
Queria aproveitar o momento de inspiração
Pra versar sobre o que a mim faria sentido
De acordo com o tudo que sou e tenho vivido
Caso meu espírito perdesse o vestido
Ao qual nomeio como corpo, ou projeção
Ao invés de choros, velas e nostalgia
Gostaria eu que meu próprio velório fosse celebração
Que, regado à célebre batucada provinda da Bahia,
Todos os presentes, juntos, entoassem coros até o nascer do dia
E que enchessem-se de cachaça à revelia
E um feijão preto bem feito pra fim de sustentação
Dando a meu pai Ogun, mestre da simpatia e da rebelião
Uma noite que, ao invés de silenciosa e fria,
Fosse quente, de folia e de célebre oração
Minha consciência e meu espírito já descolados
Frente a uma visão como a que projeto
Poderiam, então, amansados
Fazerem-se livres por completo
E sem a menor preocupação
No fim, gostaria de ser cremado a céu aberto
E, caso sobrassem restos de minha ex-materialidade em decomposição,
Que fossem enterrados sob a selva de concreto
Da qual fui filho tanto desafeto quanto dotado de paixão
No mais, antes de tudo, que sejam dadas as partes de mim que servirem
Para que outros, ou outras, possam persistir
No ato de curtirem
Um pouco mais do que essa vida possa lhes servir.
E já digo, de antemão, que sou e espero ainda poder
Ser grato pelo tudo o que por aqui verei e vi
E principalmente pelos, e pelas, que por aqui
Tive o privilégio de conhecer.
Asé.
Até quando puder, aonde e a quem.
Amém.
(Arthur Valente)
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