sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Reciprocidade
Olhaste a fundo minha janela
E viste, sedenta, minha alma nua
E foi quando olhei de volta à tua
Que marcaste meu íntimo e deixaste sequela
E pedi que me devorasses sem dó, nem dizeres
Que me molestasses o corpo a bom grado
Pois senti-me, em teu dorso, completo banhado
Pelo vinho de Baco, embriagado em prazeres
E queria que me amasses sem medo, nem culpa
Que me deixasses drogado em teu cheiro de vida
E que não mais temesses a dor da partida
Pois mesmo esta, de cedo, já encarnara a desculpa
E se assim foi que, então, assim seja
Sem prisões de toque, nem de ciúme
Que o amor nos evoque e nos empunhe
À luta dengosa que a alma deseja.
(Arthur Valente)
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