Acho graça nos radicais sectários
Pois fecham a si mesmos
Em seus imutáveis ideais
Encondendo-os sob um véu arbitrário
Guardando suas jóias atemporais
Seus pedestais
Em intocáveis e ilhados armários
E os vejo gritando e brigando
Pelo alimento do ego
Mascarando o Devir em traje chato
E insensato
Dado que, como dividir o pão,
Degladiando-se ainda pelo prato?
Procuram o ideal na pureza
Pra que emerja como se fosse divino
E entram em conflitos contínuos
Desprovidos de clareza
Perdidos em seus dogmas
E desígnios
Como a plebe de discurso falido
Voltando-se ao ar de nobreza
Pois, se posso opinar
Descarto a pureza imposta
Ao encontrar a verdadeira grandeza
Na mistura
Como ao poeta que é branco na crosta
Mas no núcleo de ser
Veste-se em pele escura
Escrevendo o que da alma brota
Inteligível só pela busca do ascender
Da língua
Mas mais belo pelas rasuras
Pela míngua de frieza, de pudor
E mais sábio por se deixar criticar
Que desfrutemos do nosso livre sonhar
Em sublime e apaixonada aspiração
Mas lembremos que o caminhar
Só será evolução
Quando nos propusermos a ouvir
E aprender com a dita outra visão
E que só pode ouvir quem espera o falar
E que dar atenção é querer progredir
E que progressão social é amar
A imperfeição do viver
Atentando-se à beleza do criar
E, enfatizo, do servir
Sem ser servo, nem barão
Sem presunção de antever
O que ainda não se sabe se será
Mas num aglomerado de respeito
E abertura
Pra se encontrar a união das conjunturas
E dos sujeitos
Construindo, a despeito do ultrapassado
A Revolução
Para o que há muito se tem lutado
E que sempre deve ser lembrado
Sendo acesso ilimitado e compaixão
Chega de querer liberdade
Pela segregação
Viva a individualidade sim!
Mas só se chega ao fim
Na concepção de Marx a Bakunin
Pela cooperação.
(Arthur Valente)
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