terça-feira, 27 de março de 2012

Anteparos




Vejo-me encarcerado
Não por grades de ferro
Mas como em uma toca de lobos
Sendo animal indefeso

Sinto-me limitado
Não por obstáculo interno
Mas como em círculo de bobos
Tendo pensamento coeso

Pego-me desestabilizado
Não porque me intimam com berros
Mas porque vendo-os sem arrobo
Percebo seus conceitos presos.

Percebo-me deslocado
Deste triste mundo externo
E é,por liberdade, meu afobo
Que mantem meu céu aceso.


(Arthur Valente)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cantiga de boêmio



Vem, meu camarada
Puxa a cadeira
Tem cerveja na geladeira
Podes fazer o que quiseres
Acenda um cigarro,
Fiques à vontade
Se ficares entediado,
Conta-me tuas lamúrias
E vamos beber!
Vamos beber até a dor do mundo
Que nós consome
De gole em gole
Ser ingerida ao fundo
E vamos beber!
Até tudo que nos envolve,
Mesmo o desespero que nunca se dissolve,
Não mais doer.


(Arthur Valente)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Enquanto for...



Seja o tempo enquanto for
Seja pressa
Seja inversa
Seja o homem corredor

Seja a fome enquanto for
Seja Pobreza
Seja Avareza
Seja a falta de sabor

Seja Deus enquanto for
Seja arrogância
Seja ganância
Seja o véu do mal-feitor


(Arthur Valente)