sábado, 14 de setembro de 2013

Aos novos jesuítas

Começo este trecho amargurado com o espírito às avessas Porque me torturo ao querer me sentir amado E amo tanto que me pego dançando em ódio árduo Sendo eu, pela vida, um completo esfomeado Ansioso e cansado a ponto de quase meter-me um tiro na cabeça
Ah... Que bom não estar armado... Mesmo não sabendo se o jargão é por questão de real defesa Ou só acostumado a ver a vida como superação
Única frente ao que chamamos de incerteza
Mas, bom, o que seria do humano, senão a eterna contradição? Onde um republicano apaixonado resgata, Num discurso recatado A fome, do desalmado, de ser cidadão Pra depois, já tronado e com nome Descarado, meter-se a dar ordenação Como um rei auto-intitulado Sendo , assim, mais um despótico renomado
Por academias de alienação
E ai me pego entre os conflitos da dialética histórica Pois são tantos os pontos cegos e os de vista E creio que me intelectualizo cotidianamente Pra vomitar, em seguida, numa poética retórica Vinculada pelo ego e pela eufórica mente
Que se engana ao se ver como lógica Pois nega de si mesma o poder dissidente Que vem da ótica do crente Junto à interpretação realística, Mas relativista e metafórica Como é mesmo o mundo e a gente.
E ai, bom, sou burro, disso sei E quanto mais vejo que li, o que estudei Mas me repito em citações daqueles que não conheci E mais almejo caminhos por onde mal ou nunca passei
Posso dizer que vivi, e que um dia morrerei Mas, perdão, meu saber concreto para por ai E há de haver ainda quem contradiga estas às quais nomeio Como leis Porque sempre há de haver quem seja contrário
Que bom, assim somos todos vigários aflitos Que deixarão filhos e escritos Para a próxima leva de revoltados proletários Neo-libertários de urros e gritos Acumuladores de vocabulário burguesado Ou bibliotecários exaltados e sem formação
Ou faremos revolução, como bichos, como burros Pra que os próximos caminhem sem montar Em seus próprios irmãos
Pra que, otimizando o especular,
Entre estes tais urros de libertação Aprendam, como deveríamos, em primeira mão Que instruir a socialização Nada mais é que amar.
Fim do sermão.


(Arthur Valente)