Olha lá, moça
Ouve só que canto prosa
Lembra-nos que não esqueçamos das rosas
Mas que também não das poças
E diz ainda, veja só
Que parecem nos engolir
Nos esburacar
Mas que quem nos afunda
E inunda pra depois deixar a esmo
Somos mós mesmos
Ouve bem, flor
Que a cor do mundo é todas mescladas
E que viver é como subir escadas
Alterando-se só o corredor
O corrimão
E a altura das escadas
Em relação ao chão
Mas te aquieta que do chão não passa
E que se não fosse o chão
Voar não teria graça.
Então voa, passarinho
Mantem-te a cantar como rouxinol
Vivencia todo o pôr-do-sol
Sem medo de ser feliz
E orgulhando-se das cicatrizes
Pois são elas as donas das diretrizes
Pra que tu alcances o Sol
A Lua, além, o que for
E daí, se quiseres, fazes ninho
Com ou sem raízes
Mas sempre com amor.
(Arthur Valente)