domingo, 5 de janeiro de 2014

Ainda é cedo

Olha lá, moça
Ouve só que canto prosa
Lembra-nos que não esqueçamos das rosas
Mas que também não das poças

E diz ainda, veja só
Que parecem nos engolir
Nos esburacar
Mas que quem nos afunda
E inunda pra depois deixar a esmo
Somos mós mesmos

Ouve bem, flor
Que a cor do mundo é todas mescladas
E que viver é como subir escadas
Alterando-se só o corredor
O corrimão 
E a altura das escadas
Em relação ao chão

Mas te aquieta que do chão não passa
E que se não fosse o chão
Voar não teria graça.

Então voa, passarinho
Mantem-te a cantar como rouxinol
Vivencia todo o pôr-do-sol
Sem medo de ser feliz
E orgulhando-se das cicatrizes
Pois são elas as donas das diretrizes
Pra que tu alcances o Sol
A Lua, além, o que for
E daí, se quiseres, fazes ninho
Com ou sem raízes
Mas sempre com amor.


(Arthur Valente)