Hoje homenageiam profanadores de crianças
Divinizam diabólicos pastores
Deixando a herança dos dissabores
Às mudas de flores sedentas de esperança
Hoje cantam festa onde reina a fome
E pregam que o ódio tem nome de paz
Fazendo a justiça de bomba de gás
E pisando nos restos do corpos que somem
Hoje proíbem a gente de ser gente
E é hoje mais quente a tensão que o verão
Hoje falta à geração o que sobra no pente
A disparar sementes de medo e opressão
Hoje mentem repetidamente pra criar verdade
E fazem da vaidade seu mais forte refrão
Mas quando a pobre mocidade reflete tal idealização
Ai, com balas e grades, dizem que não
Saudando a apreensão da ideia de igualdade
E tomando a liberdade de quem nem sempre ostenta pão
Hoje trazem a copa que transborda em privilégios
E propagam que a todos será dada de beber
Mas ainda não sabem que sua vaca de poder
Vai logo pro brejo
Quando as mulas dissidentes dos colégios,
Ds igrejas, dos quartéis, e do obedecer
Devorarem o capim dos velhos sacrilégios
Dando espaço ao novo que não tarda a nascer.
(Arthur Valente)