terça-feira, 15 de julho de 2014

Dos Diálogos

Nada denuncia mais do que o olhar
Basta que as janelas se cruzem
Pra que as almas saltem de seu lugar
E se alcancem mutuamente num diálogo silencioso
Mas tão honesto que faz inveja tanto à língua
Quanto ao ato de falar

É pela curva dos olhos que fica mais perceptível
A forma com a qual o ser
Torna-se tudo o que tem capacidade
Para se tornar

A íris age como agente sensível
Mostrando o até então latente querer
Ao entregar sem resistência a verdade
Que de tudo fizera pra não se mostrar

Olhei o teu olhar no meu grudado
E não precisastes mais usar, da fala, um só recurso
Pois o que com ele me foi falado
Não alcançaria dizer nem o mais poético discurso

E falamos tantas vezes sem dizermos quase nada
Por horas escrevemos as mais sublimes confissões
Que saíam como expressivas projeções
Criadas por nossas almas apaixonadas
E exportamos todas as emoções
Sem que precisássemos fazer uso de qualquer linguística ensaiada

Entre nossas janelas agora se criou um elo
Tão fortificado e belo que não há no mundo
Corte suficientemente profundo
Que destrua o ligamento construído pelos gestos mais singelos

Não temos o que temer
Tampouco são nossas inseguranças carregadas de sentido
Confio que seremos, a nós, o melhor que pudermos ser
E que mesmo se um dia ficar o coração partido
Ainda assim encontraremos neste vínculo tão bem construído
A razão mais clara pra continuarmos a viver.


(Arthur Valente)