quarta-feira, 21 de maio de 2014

Prólogo

Vai começar a festa!
Vem a primavera, com toda a potência que lhe cabe,
Gritar aos quatro cantos que chega a hora da insurgência
Daqueles que antes só eram convocados a encherem os balões
Dos patrões que, em troca,
Ofereciam-lhes pouco menos que a subsistência
Afirmando que era justo atribuir à miséria
O sentido matéria de sua existência

Eis que surgem dos confins da desesperança
Crianças, ainda pouco experientes,
Mas com o coração efervescente pela mudança
Tão esperada e comemorada
Que ainda se mostra latente, apesar de escrachada
E rebuscada, apesar de coerente

Finalmente o espírito de luta
Mescla-se ao senso de justiça comunitário
E mostra-se pelo esclarecimento do pensamento ordinário
Como a um diamante ainda em forma bruta
Que ganhará a função de relicário
Na medida que não há nada mais sacro
Do que a busca por deixar um cruel sistema em cacos
Para erguer-se outro mais igualitário

A consciência se desdobra em reflexos de genialidade incontestáveis
E agora têm, os poderosos, de escutar a verdade
Que lhes chicoteia tal qual um açoite
Que os povos não lhes servirão mais de bobos da corte
E que os defensores implacáveis da escuridão
Serão passados tanto quanto sua era de noite

Descobrimos, passo a passo, que somos a força motriz
A segurar de pé
Nossos próprios carrascos de má-fé

É primavera, aproveitemos o asé
Pra cortarmos de vez a crueldade pelo pé
E o mal capital pela raiz.

Deixo a visão aos ainda apáticos
E descrentes
Que esse baile plutocrático
Se tomado pela brilhante ralé por agora
Desobediente
Pode até ter final feliz.

Pois que se transforme a flora
E que se aflore a gente.



(Arthur Valente)