Queria poder viver em um mundo
Onde a sede de liberdade
Não sucumbisse de forma tão trágica
Às desesperanças e fracassos
Que a história documenta
Queria ver se erguer a tormenta
Que levaria de forma mágica
Toda a fragilidade
E os medos mais profundos
Cedendo à coragem seus espaços
Queria notar o tempo num novo compasso
Onde o quando, se justo, seria logo
E quando o onde fosse indiferente
Pois, a casa seria em qualquer chão que a comportasse
E a fraternidade seria a substância chave da política
Queria ver nutrida a rebeldia por agora raquítica
Nadar numa corrente de utopias que, por pressa, me afogo
Escrachar o conformismo consciente
Ver os preconceitos mortos e em pedaços
Cedendo o posto à insurgência de classe
Queria tudo pra agora
E é pela pressa que me sinto impotente
Afinal, o tempo do mundo é uma calma senhora
E o tempo da vida é uma explosão adolescente
Tenhamos calma e compaixão com a tal idosa
Pra ajudá-la a caminhar sob nossa supervisão
Sempre valorosa
Mas deixemos de lado a arrogância
Pra não sermos devorados por nosso alcance escasso
Ao assumirmos a ignorância
De querer levá-la nos braços.
(Arthur Valente)