quarta-feira, 18 de junho de 2014

Merecimento

A festa agoniante
Se mantém pela mescla da demência
Com o tom cativante

Revela-se no semblante deste jovem
Itinerante
Que me freia o pensamento
Pra pedir um cigarro
Que sarro a sua embriaguez relutante
E sua dócil fala inocente
Por entre o sorriso banguelo farsante

Perdido na praça coberta de verde-amarelo
Cercada de bandeiras entediantes
Que tentam encobrir toda a carência
Causada pela violência
De nós, ignorantes
Parados como cães de audiência
Ao protagonizarmos presença
Babando a fome de frente
No espetáculo do narcisimo galopante
Marco da crueldade intensa

Que momento épico!
Bastou nada e fomos fisgados
E calados pelo mesmo anzol
Mas se até não negar hoje é doença
Dêem-me a sentença
Sou mais um histérico

Afinal, fora o mundo real
É só mais um dia de sol
E é só futebol. Não faz mal.
É só futebol.


(Arthur Valente)