terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Aos Poetas


Poeta de vida e de morte
Escrevo porque sinto, porque penso e porque sou
Rabisco minhas fraquezas, pois assim sinto-me forte
E declamo meus pesares, procurando alçar voo

Sou político, escrachado, diplomático e violento
Livre pensador, por momento, enjaulado
Encontro cores soltas nos dias mais cinzentos
E caminho contra o vento junto aos nobres rejeitados

Simpático, atraente, indiferente e invisível
Saliente e tímido com as mulheres que almejo
Por vezes aclamado, e outras imperceptível
Vou de lobo prepotente a assustado caranguejo

Expondo meus critérios, admiro quem me ouve
Mas ressalto ainda mais os que me fazem ouvir
Minha arte é flor que nasce, pra cozida, virar couve
Sou o conjunto disso tudo e o que me falta descobrir.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Escolhas

Eu sou dos que vivem pela vida
E não só pra viver
Eu sou daqueles que encontram a saída
Onde outros tantos jamais vão percorrer

Sou do sexo sem nexo,
Somente pelo prazer
E sou também do amor perverso,
Que vem e vai sem se perder.

Sou dos bares, dos ares da noite da selva de concreto
Sou dos sublimes desafetos,
Que a sociedade insiste em esconder

Bohêmio, bêbado, poeta, vagabundo
Sou o limpo mais imundo
Que se possa conhecer

Eu sou a dor, a doença
Que se faz de cura do ser
Eu sou o despudor e a presença do bem,
Que bom mesmo, jamais vai ser.

(Arthur Valente)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Certeza Incerta


Algumas vidas são breves como suspiros
Outras são como espirros
Soltas pelo vento e ecoando do nosso meio
Ao vácuo da morte,
Que, as vezes, por momento
Seja destino ou questão de sorte
Esquece-se de levar a quem já clama por mamar em teu seio
De quem da foice, já anseia o corte.

Algumas vidas são mortes ambulantes,
Que pegas em flagrante
Desdenhando a própria presença
Caem no abismo do existir, sem ter existência

Mas, afinal, são todas vidas
Que de brincadeira ou seriedade
Vêem-se falidas, quando lhes chega a verdade.

A verdade do fato irrefutável ao ser
De que nada é  mesmo inviável, improvável ou inalcançável
Até o Sol não mais nascer.


(Arthur Valente)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Doces Venenos



Aquilo que parecia ser, não foi
Assim como não era
Do jeito que a gente se pois a crer

E agora, a insônia me consome ao bel-prazer
Que é o mesmo prazer que nos consumia
Enquanto só derretíamos por nos ter

Mas como ter, se nem nos tínhamos?
Se nem nos éramos
Como imaginávamos parecer?

Como ser a voz que pulsa teu coração
Se o meu, por opção,
Já contorce-se ao bater?

Foi tão rápido o momento
Assim como o sentimento
Que entrou sem ser chamado
Pra já logo se estabelecer

E estabeleceu-se invasivo
Libertando o mel corrosivo
Que, ao passo que nos nutre
Adocicando, faz morrer.


(Arthur Valente)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Imperatriz


Olhos verde-mata
Que quase matam-me de desejo
A mim, em ti, vejo
E desnudo-me, sem medo, a capa

Alma do mais sublime reflexo
Entrego-me à arte por ti criada
Tão leve forma quanto ousada
Deixa-me sedento a testar teu sexo

Mal conheço, em fato, tua verdade
Mas já me fizeste crente louco
Dos teus escritos consumo a pouco
Mas de tuas palavras já grito saudade

De teu toque ainda aguardo a chance
Imperatriz, por nome e postura
Manha de moça encoberta em candura
Se passares por mim, que não seja relance

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Fruta


Quero acordar ao teu lado
Com gosto de café fresco
Me enrolar no lençol amassado
Enroscar-me em teu beijo calado
Envolver-te em momento dantesco

Penetrar em teus olhos de noite
Submeter-me a ti, e enfim
Enxugar teu suor alecrim
Deixar que me quebres, me açoites

Chorar teu silêncio vazio
Repleto de angústia escondida
Lavar com amor, tuas feridas
Salivando teu couro vadio

Encher-te de flores e fraudes
Mentir-te paixões verdadeiras
Ganhar-te, a priori, inteira
E perder-te, em segundo, aos alardes.

(Arthur Valente)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Espelho

Homenagem a papai e mamãe...


Me fizeram, apareci
Me criaram, aprendi
Me mimaram, estraguei
Limitaram-me, briguei

Me soltaram, me soltei
Divertiram-me, sorri
Me pararam, esperneei
Mas por fim, obedeci

Me falaram, escutei
Espalhei o que ouvi
Me afastaram, me colei
Me grudaram, então parti

Me chamaram, eu voltei
Seguraram-me, cai
Pelo braço, levantei
Pelo afeto, prossegui

Nominaram-me um rei
Desde a hora em que nasci
Sei, nem sempre mereci
Mas prometo, merecerei

Algum dia voarei
Mas juro, volto aqui
Se precisarem, estarei
Sempre perto, logo ali.

(Arthur Valente)