terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dúvidas

Chamarem-me de anormal
Tornou-se um tanto frequente
Isso porque muito raramente
Aos outros, penso igual

Temos todos aparência padrão
Beleza,do momento atual, depende.
Aquilo que hoje é lindo,amanhã deprimente
Mas afinal,quem define tal distinção?

Agora querem a vestimenta tal
Mas vão mudar brevemente
Vamos sair às compras loucamente
Tornamo-nos zumbis do capital

Longe de mim criticar
Sistema tão justo aparentemente
A cabeça no dinheiro,a mão no batente
Para todo ciclo enfim recomeçar

O importante é somar
Pra que ressaltar o povo carente?
Vais destruir um rosto sorridente
Que feliz,compra até o que não pode pagar?

Talvez eu seja mesmo anormal
Gosto de gastar sim,como toda a gente
Mas às vezes,acredito que de repente
O povo se torna um tanto inconsequente
Esquece-se que há mais no mundo real.

(Arthur Valente)

domingo, 10 de outubro de 2010

Intensidade


Olhava-me,
E como mergulhar em mel
A moça por tras do véu
Fazia-me rasgar o céu
Apenas com seus olhos de mármore

Tocava-me
De forma brusca e violenta
Mantendo-se singela,a sedenta
Pedía-me tão atenta
Que me fizesse seu cárcere

Batía-me,
Mantinha-se em plena calma
Não me feria o corpo,mas a alma
Sobre meu ombro baixo,sua palma
Matou-me a santa,virei mártire

Reencontrei-me,
Em outros olhos ressucitei
Se necessário,mil vezes morrerei
Pois por meus versos voltarei
Sou poeta,sinto tudo em ápice

Embriagava-me,
Passava noites no bar
Agora novamente em santo altar
Mas,pior que minha dor, é o pesar
Daquele que por medo de chorar
Do vinho do amor ,nega o cálice

(Arthur Valente)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Terra de Cegos




Ele voava como uma ave
Com um lápis ganhava o céu
Transformava ácido em mel
Fabricava sonhos de papel
Das portas,ele tinha a chave

Sobrevoava todo o mundo
Sem nem sair de casa
Rasgava o azul com suas asas
Adentrava o horizonte mais profundo

Mas um dia ele caiu
A desilusão o derrubou
O que era antes acabou
Descobriu um mundo sombrio

Nesta terra de tormento
Seus olhos arrancaram
Em suas asas pisaram
Deixaram-no ao relento

Está agora a vagar
Pela selva de concreto
Passa as noites no boteco
Desaprendeu a pensar

Acostumou-se à maldade
Morrerá como um qualquer
Deixará bens e uma mulher
Mas nenhuma dignidade.

(Arthur Valente)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Inferno?

Fazemos piada daquilo tudo,
De tudo aquilo que não tem graça,
Rimos de pobres conteúdos,
Fazemos da verdade,farsa!

Desperdiçamos nossa comida,
Criamos fortalezas por razões singelas,
Que importa a fome por outros vivida?
Tão pouco a violência das favelas

Aqueles que nos fazem mal
Solenemente idolatramos,
E de forma inacreditavelmente natural
Desprezamos à quem amamos

Criamos uma humanidade
De seres desumanos,
Satírizamos uma sociedade
Que nós mesmos criamos

Para pensar e refletir
Não gastamos meio neurônio,
Se o inferno é aqui
Nós somos os demônios.

(Arthur Valente)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Tudo


O tempo
O solo
O vento
O colo
O mantra
O passo
A janta
O amasso
A sorte
A comida
A morte
A vida
O caminho
A flor
O espinho
A dor
Do início ao fim
Mantenho-me persistente
Há um vício em mim
Começo novamente.

(Arthur Valente)

Por que?

Saíste da igreja agora?
Deixaste teu dinheiro suado?
E por que apenas olhas o abandonado
E com desdém lhe nega esmola?

Leste lições messiânicas?
Explique-me então,por favor
Por que chamas por teu Senhor
Se de ti,só palavras satânicas?

Esclareça-me por momento
Afinal,por que desprezas teu irmão?
Por que deixa os seus ao relento?

Não aprendeste nada?
Se essa é tua divina compaixão
Deste reino dos céus abro mão.

(Arthur Valente)

sábado, 31 de julho de 2010

Razão Emocional


A matemática é racional
O sentimento não
Poetismo é pura emoção
Partindo de um princípio contextual

Não teriam os poetas razão?
Tolo,quem crê em tal
Pois de uma forma emocional
Expressa esta,escrita ou oral
Nada mais é
Do que uma letrada equação


Essa mistura tenaz
Em via de ponto prático
De forma eficaz,
Coloca estes,entre os irracionais,
Como os mais célebres matemáticos.

(Arthur Valente)