quarta-feira, 7 de julho de 2010

Café


Na cozinha, preparo um líquido escuro
Esse que para os antigos barões era motivo de orgulho
Mas que para os que realmente trabalhavam para cultivar o tal
Era motivo de dor,
de um modo de vida que não cabe nem a um animal


Bebo lentamente,
Com prazer e satisfação,
Em meus lábios sinto o suor deles
De minha boca desce o sangue inteiro de uma nação


Antes eles lhes davam,de forma precária, comida e onde morar
Trabalhavam incansavelmente, mal podiam repousar
E se por acaso algo não agradasse àquele que lhes ousava maltratar
Em sua pele iam sentir o velho chicote estralar


Já faz tempo,a escravidão acabou
A ilusão da liberdade foi para eles o que restou
Ilusão sim,pois não se tornaram escravos libertados
Na verdade o termo mais apropriado
Seria,talvez,homens livres escravizados

Escravos de um sistema de princípios desiguais
Enquanto o velho barão descansa em sua poltrona
O tal sistema obriga o escravo pobre a trabalhar mais

E por fim,num ponto de vista meu
Enquanto o rico decide se come ou se dorme
A chibata não morreu
Ela só mudou de nome.

(Arthur Valente)

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