segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Das (Des)Esperanças

Ando cansado de minha estupidez
Pois me sinto fadado à nudez de alma
Travestida em discurso otimista proletário
Discursado em vocabulário burguês lírico
Recheado de insensatez quando empírico
E clamando calma
Mesmo se é o ódio aclamado
Sendo este por mim julgado, de quando em vez

E pego-me em questionamento raso
Pois não sei se é o mundo mais contraditório
Ou se eu sou a contradição do acaso
Que busca no aglomerado de repertório
E insatisfação
A construção do que não fora planejado
E, por não ter planejamento neste atual estado
Parece isento de estar errado
À luz de uma engajada socialização

Pois, por si só, faz-se abastado
Num posicionamento cercado
Pela falta de cercas e de segregação

Ah! Que bonito seria...
Mas também ando cansado do belo
Pois me basta viver dia após dia
Para notar que o bonito desfila singelo
Numa infeliz expressão de sorriso amarelo
E forçada apatia

É triste pensar o que pode ser pior
Quando o pior parece já estar sendo
E reclamo a tristeza que já sei de cor
Vendido à ilusão de que não me vendo

E aos pouco vai meu suor
Se rendendo
Ao sangue espesso derramado
Pelo sedento desalmado poder maior.


(Arthur Valente)

3 comentários:

  1. Lindo e especial como os outros. Me toca especialmente o ritmo nesse poema. Faz lembrar um pouco de uma canção de Zé Ramalho, "Canção agalopada". Talvez se musicasse também...

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  2. Muito bom, tu tem muito talento cara, parabéns

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  3. Vou ouvir o som, Cá... De repente... Ô, bro, valeu mesmo!

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