terça-feira, 1 de outubro de 2013

Semi-Deusa


Uau! Que belo desenho vivo!
Olhei teus traços e segurei o queixo já caído
E o coração, por empenho, disparado
E por tão extasiado ao reconhecer teu ser engrandecido
Peguei-me reflexivo e maravilhado
Ao imaginar teu esboço estético
Sendo planejado, construído, trabalhado e lapidado
Por seres proféticos, providos do invisível idealizado
E que, penso, queriam contigo
Deixar registrado
Uma verdadeira arte caminhando
Entre os simples e humanos arquétipos 

Sendo o teu sorriso tão incrível
E mesclado com maestria e cuidado
Às tuas sardas e aos teus olhos apertados
Mas dotados do traço mais expressivo
E teus cabelos encaracolados
Que de tão magistralmente delineados
Seriam considerados, se atentados fossem, 
Subversivos

Mas não sei bem qual é a tua entidade mãe. Ou pai
Porque tua cor denuncia uma filha de Tupã
Mas de teu sorrir, abre-se, da alma, o apetite 
E eis, então, que Afrodite sai
Porém, em tua pele macia em critério sinto Oxum e Nanã
E do teu jeito mistério, Iansã grita
Bradando a chuva do ser que instiga e cai

Já de teus beijos molhados, bem dados
Sinto a explosão do dionisíaco
Que me faz correr pelo paradisíaco
Nu de essência e sossegado
Enquanto o mundo cru que roda ao lado
Parece, em tua cadência, ter parado

E ai, me vens com tuas obras fantásticas
E perco meu ar ao notar
Tua sensível habilidade
De entender o que dizem os olhos a vagar
Espalhados e gritando o inaudível
Pela torpe cidade

E ainda, de querer reproduzi-los para as artes plásticas
Num jeito próprio que me invade e conquista
E ponho-me, a eles, como autista
Pois me fazem querer não parar de olhar

Tu és a beleza que de tão majestosa
Quase me persuade a crer que é criada
E, pela própria natureza grandiosa
És também criadora das mais talentosas
E encantadas

Não falei de teus lábios, nem de tuas pernas
Porque, num senso que acho ser sábio
Se falasse de ti por inteira
Esta versada brincadeira seria eterna

Digo só, por fim
Que, por mim, continuo a contemplar-te
E tocar-te se, quando e como for possível
Pois do néctar que és, como arte, estou passível 
Ao sentir sede, quando longe, num desejo intensamente incerto
E ao me embriagar, em cada tua parte,
Quando perto.


(Arthur Valente)

Nenhum comentário:

Postar um comentário