quarta-feira, 9 de abril de 2014

Dos Devaneios

Ai, ai... Bom seria se fossem as trocas comerciais
Como são, num aspecto metafísico,
As trocas emocionais intrínsecas à natureza mais humana
Assim talvez não fossem as trocas transcendentais
Equiparadas às trocas comerciais mundanas
Sendo, portanto, rebaixadas à rotina
E deflagrando inacabáveis cismas
Desde muito tempo atrás
Fazendo-se contrariar pela consciência
Sua essência natural que é tão cigana

Puseram os olhos de ressaca em pagãos altares
E agora andam ressecados pela abstinência
Que brota na ausência
De novos olhares. De novas carências.
De novas experiências que lhes poderiam ser tão complementares
À vivência.

Invejam D. Quixote sem saber que o fazem
E andam no pinote tal qual o velho cavalo empático
Que andava ao sentir o estalar do chicote
Vindo do herói dos lunáticos.

Às vezes se veem como Sanchos
Mas não passam de pança,
Pois lhe falta esperança tanto quanto lhes falta coragem
Pra seguirem viagem
Tendo numa mão a lança da insurreição
E na outra, um escudo de proteção fundido na confiança
Em querer emancipação.

Ai, ai.. Bom seria se ao invés de exaustão
Nos preenchêssemos de amor
E de compaixão
Ao invés da paixão depressiva por ser senhor

Melhor ainda seria se essa fala
Não fosse tão vazia ao ser dita e repetida todo o dia
Pela mesma boca prevenida que ao querer falar,
Cala
E que, ao invés de malas
Carregássemos asas
E voássemos à luz da liberdade
Que lembraria a imensidão do mar, contrastando a neblina
Da cidade
E que ao pousarmos, os que já no chão estivessem
Não precisassem, por convenção, fazer sala
Nem uma atuação de anfitrião rasa
Pois estaríamos todos em casa.

Que bom seria..


(Arthur  Valente)

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