Quando a alma se fecha em suas próprias amarguras
As palavras se aquietam, os gestos são brutos
O corpo grita em silêncio como se estivesse em luto
E o frio dá aos beijos antes molhados uma fúnebre secura
Os corpos parecem distantes, os olhares parecem carrascos
A poesia perde importância na hora que deveria mais importar
Os olhos secam de medo quando deveriam só desaguar
E o gosto morre de tédio pra dar lugar a todos os ascos
O céu acinzenta quando aberto
E parece espelho
Quando encoberto
O futuro antes sublime e incerto
Forma-se um pentelho
E ascende desafeto
Todo o desabafo soa como vitimista
Todo o altruísmo parece forçado
Todo o amor some sem deixar pista
E de amor fica o âmago esfomeado
O mundo parece não ter jeito
O peito parece trancafiado
Os conceitos gritam desenganados
Invalidados ficam todos os feitos
Perde-se a esperança entre mundos de juras
Mas se mantém viva como ao corpo cansado
A vida parece ter se dissipado
Mas é fase, é momento
Já já passa o tormento
Logo o presente vira passado
E alma se liberta de suas próprias amarguras.
(Arthur Valente)
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