Antes vomitava pesares inacabáveis como rotina
E agora os que me inflam tomam forma de toxinas
A corroer-me a força do caminhar
As palavras não vêm, não gritam, não nada
Não se formam mais em meus devaneios
Nem me auxiliam nos anseios
Que como pedras meu corcundam a alma pesada
Não sei explicar, tampouco convencer
Mal consigo acreditar no que penso ser o certo
Tampouco trazer a um âmbito mais concreto
O tudo que me contorce a lógica pra desenvolver
Não sei mais poetar, nem contar
Não sei mais brincar de eu-lírico
E mal consigo extrair do empírico
Toda a inspiração que me levava a versar
Vão-se os versos, fica a tristeza
Vai-se a beleza, fica a sinceridade
Vai-se a verdade, fica a incerteza
E vai a correnteza a me arrastar pela cidade
Fica a cidade, vai-se a doçura
Fica a frieza, vai-se a paixão
Foge o tesão de fazer-se de cura
Fica a loucura da introversão.
Um dia eu volto pra poesia
Quando e se reencontrá-la por ai
Se nada é como um dia após o outro dia
E se a partir do nada é que tudo se cria
Que eu seja, então, recriado pelo o que ainda não vivi
E que pra mim a poesia volte, um dia
Melhor ainda do que era antes de partir
Pra que eu seja reparido à luz da filosofia
Que tenha a alegria como base de existir
Apesar de, com certa franqueza,
Saber que se não houver tristeza
Não há como haver sentido no ato de sorrir.
(Arthur Valente)
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