sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Oração à Bonança

Deságua o mundo em nosso entorno
Jogados estamos sem refúgio, nem resguardo
Olho-te o rosto molhado
E penso que a chuva não é mais que adorno
Frente ao nosso choro desenfreado

E era claro, que em meio ao breu
Haveríamos, finalmente, de desnudar
Aquilo que entendemos, individualmente, como eu
Pra que o nós tomasse lugar

Depois que passara a tormenta
Finalmente pude confiar em teus dizeres
E finalmente tu me compreenderas os atos
E percebemos, penso, que apesar da forma violenta
O conteúdo é, no centro, amor do mais fino trato
E na margem a explosão mais sincera dos prazeres

Em teus olhos de verde-água doce
Cai de cabeça e fui nadar dentro de ti
Afoguei-me em tua história, fosse ela qual fosse,
E notei que em teu corpo, minha alma fundi

És a consciência viva de um deus africano
Mas a tua projeção carrega um traço germânico
E vejo que mesmo em teus movimentos mais mecânicos
Há um espaço de vida oceânico
No qual nadaria a perder de vista mais de um ano

Encanta-me a tua fala concisa e empoderada
Conforta-me o teu jeito meigo de tratar quem amas
Fortifica-me a tua existência gigante e inflamada
E me excita teu saber em agir na cama

Cada parte tua é Sol do mais brilhante
Cada toque é explosão atômica de gozo
E mesmo quando expurgas o que é, a ti, mais angustiante
Vejo em ti o retrato vivo de um ser tão maravilhoso
Como jamais havia visto antes

Espero que daquela noite de tempestade
Venham frutos firmes e adocicados como a tua fala
Pra que o choro, numa próxima, seja só de saudade
E pra que sejamos, um do outro, amuleto e mandala
Deixando para o quarto, cozinha, chuveiro e sala
E não mais para uma quase-vala
Todo o, não mais doloroso, mas prazeroso alarde.



(Arthur Valente)

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