domingo, 23 de setembro de 2012

Bastidores

Por trás da capa criada
Moldada na fôrma do mundo
Em aparente aspecto vagabundo
É uma criança abandonada

Por trás do sistema falho
Construído para nós, às avessas
Existem grandes cabeças
Preciosidades em meio ao cascalho

Por trás das mentiras contadas
Formuladas para encobrir os defeitos
Existe um Estado de Direito
Que se ausenta aos que não têm nada

Por trás do futuro incerto
Existe uma esperança ascendente
De alterar-se o presente
Passar a frente o hoje decadente
Para um amanhã mais correto

(Arthur Valente)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Arrependimento





Sinto-me sozinho
Deixei-me abandonar
Porque faltei em procurar
Quem me tratava com carinho

A noite fria que agora faz
Desperta em mim a saudade
Dos tempos em que a cidade
Em meio ao caos, me dava paz

E essa forte melancolia
Que me corrói todo o peito
Faz-me querer ser o sujeito
Que acredito ter sido um dia

A escrita se embaralha
Minha mente anda confusa
A nostalgia que me abusa
Traz de volta cada falha

Mas será que tanto errei
A ponto de ser esquecido?
Vi o leite já caído
E confesso que chorei.


(Arthur Valente)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Elo





Mergulhei em tua essência
Quando em teus olhos frisei
E contradisse o que falei
Alterastes minha consciência

No teu olhar doce e complexo
Vi o reflexo da minha alma
Disfarcei-me em véu de calma
Vi a mim mesmo em outro sexo

Quando toquei tua pele nua
Senti, enfim, o que me faltava
Agora em transe me encontrava
Teu corpo meu, minha mente tua

E depois de terminado
O extraordinário que ocorreu
Fui pra longe do calor teu
Certo de nunca ter te deixado.


(Arthur Valente)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Praia





Sob um céu
totalmente estrelado
Sobre um mar
quase céu iluminado
Entre serras
De tom esverdeado
Entre nuvens
De um branco aveludado
Entre corpos
De homens embriagados
Sobre a areia
Que massageia os pés suados
Com emoção
De quem se julga privilegiado

E é notável
Que o mais engraçado
É que, em meio a tal dimensão

No ambiente louvável
Sinto-me mais civilizado
Por não haver civilização.


(Arthur Valente)

terça-feira, 27 de março de 2012

Anteparos




Vejo-me encarcerado
Não por grades de ferro
Mas como em uma toca de lobos
Sendo animal indefeso

Sinto-me limitado
Não por obstáculo interno
Mas como em círculo de bobos
Tendo pensamento coeso

Pego-me desestabilizado
Não porque me intimam com berros
Mas porque vendo-os sem arrobo
Percebo seus conceitos presos.

Percebo-me deslocado
Deste triste mundo externo
E é,por liberdade, meu afobo
Que mantem meu céu aceso.


(Arthur Valente)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cantiga de boêmio



Vem, meu camarada
Puxa a cadeira
Tem cerveja na geladeira
Podes fazer o que quiseres
Acenda um cigarro,
Fiques à vontade
Se ficares entediado,
Conta-me tuas lamúrias
E vamos beber!
Vamos beber até a dor do mundo
Que nós consome
De gole em gole
Ser ingerida ao fundo
E vamos beber!
Até tudo que nos envolve,
Mesmo o desespero que nunca se dissolve,
Não mais doer.


(Arthur Valente)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Enquanto for...



Seja o tempo enquanto for
Seja pressa
Seja inversa
Seja o homem corredor

Seja a fome enquanto for
Seja Pobreza
Seja Avareza
Seja a falta de sabor

Seja Deus enquanto for
Seja arrogância
Seja ganância
Seja o véu do mal-feitor


(Arthur Valente)