sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Poema de Victória

Dos cabelos encaracolados castanhos
Sinto-me estranho, como Caetano previu
Ao teu lado me acanho e sinto frio
Mas por tua natureza, me assanho

Dança como se não houvesse nada
E nada parece mesmo dançar assim
Oscila entre sutil e exagerada
Malícia caprichosa em rosto querubim

És tudo que eu aguardava há tanto
Tão fielmente que nem sei se acredito
Se te vejo com outros me irrito
Mas ao te ter comigo, me espanto

E por essas, além das outras, me retrato
Pois é pesado carregar a verdade
Notável como o nome é personalidade
Ganhaste-me com propriedade, no ato.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Bárbara Moça

Morena bonita e danada
Encanta-me teu jeito leve,
Teu sorriso largo e breve
E teu ar de baiana arretada

Cada parte de ti é verso
Mas não de poema em papel passado
Pois a arte é teu rebolado
Tão instigante quanto teu próprio universo

E me cerca de molejos, jeitos, trejeitos
E me afoga em desejo angustiante
Ar de rainha, preponderante
Faz-se radiante até nos defeitos

Oh, baiana minha!
Demoraste tanto a aparecer,
Mas agora me fizeste, a ti, render
Prometo não deixá-lá mais sozinha.

(Arthur Valente)

domingo, 23 de setembro de 2012

Bastidores

Por trás da capa criada
Moldada na fôrma do mundo
Em aparente aspecto vagabundo
É uma criança abandonada

Por trás do sistema falho
Construído para nós, às avessas
Existem grandes cabeças
Preciosidades em meio ao cascalho

Por trás das mentiras contadas
Formuladas para encobrir os defeitos
Existe um Estado de Direito
Que se ausenta aos que não têm nada

Por trás do futuro incerto
Existe uma esperança ascendente
De alterar-se o presente
Passar a frente o hoje decadente
Para um amanhã mais correto

(Arthur Valente)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Arrependimento





Sinto-me sozinho
Deixei-me abandonar
Porque faltei em procurar
Quem me tratava com carinho

A noite fria que agora faz
Desperta em mim a saudade
Dos tempos em que a cidade
Em meio ao caos, me dava paz

E essa forte melancolia
Que me corrói todo o peito
Faz-me querer ser o sujeito
Que acredito ter sido um dia

A escrita se embaralha
Minha mente anda confusa
A nostalgia que me abusa
Traz de volta cada falha

Mas será que tanto errei
A ponto de ser esquecido?
Vi o leite já caído
E confesso que chorei.


(Arthur Valente)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Elo





Mergulhei em tua essência
Quando em teus olhos frisei
E contradisse o que falei
Alterastes minha consciência

No teu olhar doce e complexo
Vi o reflexo da minha alma
Disfarcei-me em véu de calma
Vi a mim mesmo em outro sexo

Quando toquei tua pele nua
Senti, enfim, o que me faltava
Agora em transe me encontrava
Teu corpo meu, minha mente tua

E depois de terminado
O extraordinário que ocorreu
Fui pra longe do calor teu
Certo de nunca ter te deixado.


(Arthur Valente)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Praia





Sob um céu
totalmente estrelado
Sobre um mar
quase céu iluminado
Entre serras
De tom esverdeado
Entre nuvens
De um branco aveludado
Entre corpos
De homens embriagados
Sobre a areia
Que massageia os pés suados
Com emoção
De quem se julga privilegiado

E é notável
Que o mais engraçado
É que, em meio a tal dimensão

No ambiente louvável
Sinto-me mais civilizado
Por não haver civilização.


(Arthur Valente)

terça-feira, 27 de março de 2012

Anteparos




Vejo-me encarcerado
Não por grades de ferro
Mas como em uma toca de lobos
Sendo animal indefeso

Sinto-me limitado
Não por obstáculo interno
Mas como em círculo de bobos
Tendo pensamento coeso

Pego-me desestabilizado
Não porque me intimam com berros
Mas porque vendo-os sem arrobo
Percebo seus conceitos presos.

Percebo-me deslocado
Deste triste mundo externo
E é,por liberdade, meu afobo
Que mantem meu céu aceso.


(Arthur Valente)