Vai começar a festa!
Vem a primavera, com toda a potência que lhe cabe,
Gritar aos quatro cantos que chega a hora da insurgência
Daqueles que antes só eram convocados a encherem os balões
Dos patrões que, em troca,
Ofereciam-lhes pouco menos que a subsistência
Afirmando que era justo atribuir à miséria
O sentido matéria de sua existência
Eis que surgem dos confins da desesperança
Crianças, ainda pouco experientes,
Mas com o coração efervescente pela mudança
Tão esperada e comemorada
Que ainda se mostra latente, apesar de escrachada
E rebuscada, apesar de coerente
Finalmente o espírito de luta
Mescla-se ao senso de justiça comunitário
E mostra-se pelo esclarecimento do pensamento ordinário
Como a um diamante ainda em forma bruta
Que ganhará a função de relicário
Na medida que não há nada mais sacro
Do que a busca por deixar um cruel sistema em cacos
Para erguer-se outro mais igualitário
A consciência se desdobra em reflexos de genialidade incontestáveis
E agora têm, os poderosos, de escutar a verdade
Que lhes chicoteia tal qual um açoite
Que os povos não lhes servirão mais de bobos da corte
E que os defensores implacáveis da escuridão
Serão passados tanto quanto sua era de noite
Descobrimos, passo a passo, que somos a força motriz
A segurar de pé
Nossos próprios carrascos de má-fé
É primavera, aproveitemos o asé
Pra cortarmos de vez a crueldade pelo pé
E o mal capital pela raiz.
Deixo a visão aos ainda apáticos
E descrentes
Que esse baile plutocrático
Se tomado pela brilhante ralé por agora
Desobediente
Pode até ter final feliz.
Pois que se transforme a flora
E que se aflore a gente.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 21 de maio de 2014
terça-feira, 20 de maio de 2014
Religare
De que vale a liberdade de poder dizer
Que vivo preso
À realidade que me foi ensinada a crer
Por senso
Como sendo a verdade inescapável de se viver?
Que peso...
Desde que comecei a de fato aprender
O quão denso se faz o ser
Ao estar enjaulado à máquina mortífera
E pouquíssimo frutífera
À qual, por vaidade, nomeiam como o viver
Morro todo dia ao não ver saída
Pra esta tão estranha
E contraditória
Forma de vida.
Corro pra encontrar a esperança quase perdida
E a invoco de minhas entranhas
Exaltando-a em minha oratória
Que torna-se morna por tanto já ter sido repetida
Abstraio os torpes valores que a mim são passados
E, desenganado, renovo os critérios
Continuamente
Do sagrado mistério
Que reina sob o barulho dos tambores
Tocados
Que ascende por entre os amores
Trocados
Que adoça a delícia dos sabores
Mesclados
E que ilumina a alma dos esperançados
Deixando-as mais brilhantes
Do que o brilho combinado de todos os cobiçados
Minérios
(Arthur Valente)
Que vivo preso
À realidade que me foi ensinada a crer
Por senso
Como sendo a verdade inescapável de se viver?
Que peso...
Desde que comecei a de fato aprender
O quão denso se faz o ser
Ao estar enjaulado à máquina mortífera
E pouquíssimo frutífera
À qual, por vaidade, nomeiam como o viver
Morro todo dia ao não ver saída
Pra esta tão estranha
E contraditória
Forma de vida.
Corro pra encontrar a esperança quase perdida
E a invoco de minhas entranhas
Exaltando-a em minha oratória
Que torna-se morna por tanto já ter sido repetida
Abstraio os torpes valores que a mim são passados
E, desenganado, renovo os critérios
Continuamente
Do sagrado mistério
Que reina sob o barulho dos tambores
Tocados
Que ascende por entre os amores
Trocados
Que adoça a delícia dos sabores
Mesclados
E que ilumina a alma dos esperançados
Deixando-as mais brilhantes
Do que o brilho combinado de todos os cobiçados
Minérios
(Arthur Valente)
quarta-feira, 23 de abril de 2014
Choque de Realidade
Prepare seu coração, pessoa
Sem metáforas, nem lirismo
Prepare-se que o mundo ai fora é um barco
A ir na contramão da terra nova
Contemplando o conformismo piegas
Deixando a esperança em cacos
E derrubando os sonhos pela proa
Prepara teu ouvido, mente pensante
Que ainda há de ouvir muitos discursos intolerantes
Apesar de refinados
E bem letrados, apesar de pedantes
Prepara tua alma livre, pois logo enxergará a tua prisão
E perceberá que o Não é vício cultural
Assim como fazer o mal a teu semelhante
E que não passarás de um resquício mortal
Por mais que tentes te fazer gigante
Correndo o risco ainda de terminar como vilão
Tanto para o lado que te agrada o sermão
Quanto do outro que tu julgas ignorante
Estamos todos no inferno, disse Dante
E devo-lhes confessar que aqui faz frio
Que é sujo o rio, que é feio o semblante
Tanto quanto vazio
E que é melhor que te preenchas logo de potência
Pra largar de vez aquilo que chamam de sanidade
E entregar-se à demência saudável
Que mora na sensibilidade
Criança, vê bem
Ou enche-te de esperança
Pra manter-se zen
Ou será para sempre apunhalada
Pela lança do desdém.
(Arthur Valente)
Sem metáforas, nem lirismo
Prepare-se que o mundo ai fora é um barco
A ir na contramão da terra nova
Contemplando o conformismo piegas
Deixando a esperança em cacos
E derrubando os sonhos pela proa
Prepara teu ouvido, mente pensante
Que ainda há de ouvir muitos discursos intolerantes
Apesar de refinados
E bem letrados, apesar de pedantes
Prepara tua alma livre, pois logo enxergará a tua prisão
E perceberá que o Não é vício cultural
Assim como fazer o mal a teu semelhante
E que não passarás de um resquício mortal
Por mais que tentes te fazer gigante
Correndo o risco ainda de terminar como vilão
Tanto para o lado que te agrada o sermão
Quanto do outro que tu julgas ignorante
Estamos todos no inferno, disse Dante
E devo-lhes confessar que aqui faz frio
Que é sujo o rio, que é feio o semblante
Tanto quanto vazio
E que é melhor que te preenchas logo de potência
Pra largar de vez aquilo que chamam de sanidade
E entregar-se à demência saudável
Que mora na sensibilidade
Criança, vê bem
Ou enche-te de esperança
Pra manter-se zen
Ou será para sempre apunhalada
Pela lança do desdém.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 9 de abril de 2014
Dos Devaneios
Ai, ai... Bom seria se fossem as trocas comerciais
Como são, num aspecto metafísico,
As trocas emocionais intrínsecas à natureza mais humana
Assim talvez não fossem as trocas transcendentais
Equiparadas às trocas comerciais mundanas
Sendo, portanto, rebaixadas à rotina
E deflagrando inacabáveis cismas
Desde muito tempo atrás
Fazendo-se contrariar pela consciência
Sua essência natural que é tão cigana
Puseram os olhos de ressaca em pagãos altares
E agora andam ressecados pela abstinência
Que brota na ausência
De novos olhares. De novas carências.
De novas experiências que lhes poderiam ser tão complementares
À vivência.
Invejam D. Quixote sem saber que o fazem
E andam no pinote tal qual o velho cavalo empático
Que andava ao sentir o estalar do chicote
Vindo do herói dos lunáticos.
Às vezes se veem como Sanchos
Mas não passam de pança,
Pois lhe falta esperança tanto quanto lhes falta coragem
Pra seguirem viagem
Tendo numa mão a lança da insurreição
E na outra, um escudo de proteção fundido na confiança
Em querer emancipação.
Ai, ai.. Bom seria se ao invés de exaustão
Nos preenchêssemos de amor
E de compaixão
Ao invés da paixão depressiva por ser senhor
Melhor ainda seria se essa fala
Não fosse tão vazia ao ser dita e repetida todo o dia
Pela mesma boca prevenida que ao querer falar,
Cala
E que, ao invés de malas
Carregássemos asas
E voássemos à luz da liberdade
Que lembraria a imensidão do mar, contrastando a neblina
Da cidade
E que ao pousarmos, os que já no chão estivessem
Não precisassem, por convenção, fazer sala
Nem uma atuação de anfitrião rasa
Pois estaríamos todos em casa.
Que bom seria..
Como são, num aspecto metafísico,
As trocas emocionais intrínsecas à natureza mais humana
Assim talvez não fossem as trocas transcendentais
Equiparadas às trocas comerciais mundanas
Sendo, portanto, rebaixadas à rotina
E deflagrando inacabáveis cismas
Desde muito tempo atrás
Fazendo-se contrariar pela consciência
Sua essência natural que é tão cigana
Puseram os olhos de ressaca em pagãos altares
E agora andam ressecados pela abstinência
Que brota na ausência
De novos olhares. De novas carências.
De novas experiências que lhes poderiam ser tão complementares
À vivência.
Invejam D. Quixote sem saber que o fazem
E andam no pinote tal qual o velho cavalo empático
Que andava ao sentir o estalar do chicote
Vindo do herói dos lunáticos.
Às vezes se veem como Sanchos
Mas não passam de pança,
Pois lhe falta esperança tanto quanto lhes falta coragem
Pra seguirem viagem
Tendo numa mão a lança da insurreição
E na outra, um escudo de proteção fundido na confiança
Em querer emancipação.
Ai, ai.. Bom seria se ao invés de exaustão
Nos preenchêssemos de amor
E de compaixão
Ao invés da paixão depressiva por ser senhor
Melhor ainda seria se essa fala
Não fosse tão vazia ao ser dita e repetida todo o dia
Pela mesma boca prevenida que ao querer falar,
Cala
E que, ao invés de malas
Carregássemos asas
E voássemos à luz da liberdade
Que lembraria a imensidão do mar, contrastando a neblina
Da cidade
E que ao pousarmos, os que já no chão estivessem
Não precisassem, por convenção, fazer sala
Nem uma atuação de anfitrião rasa
Pois estaríamos todos em casa.
Que bom seria..
(Arthur Valente)
segunda-feira, 10 de março de 2014
Insônia
Luz baixa de manhã tímida
Que já viera, mas ainda não chegara de fato
E amolece o tato ao vento que sopra
Contra o rosto insone e cansado de desidratar
Em saudade
Queima a alma pouco sã de sua própria demência
Mas não faz alarde a aparência
Que faz da cama seu divã
E forma-se a efervescência
Que toma a filosofia por ciência
E tem por essência servir à consciência
Como vilã
Faz tanto tempo que parece que foi ontem
E o que foi ontem nem lembrava mais de ter sido
Até que o reencontre em outro sono perdido
E que os sentidos se aprontem
Pois não me caberão para serem engolidos
A luz reflete sobre o quadro torto
E no outro mais bem colocado
E ambos parados
Me olham a vê-los com o olhar morto
E deslocado
Como quem olha um barco a zarpar do porto
E vou-me embora pelos quebrados
Da mente
E penso em gente do passado
E do presente
Ficando doente de tão elucidado
E curado de ser prepotente
Pelo repente disritmado
Que são os caminhos curvados
Repletos de paus tortos e desvirtuados
Do senso pré-estipulado
Que é imposto à vivência
Às vezes a saudade dá carência, é verdade
Mas ensina, quase sempre, que a vaidade não é atadura
E que a realidade parece sempre menos dura
Quando prevalece a paciência.
(Arthur Valente)
Que já viera, mas ainda não chegara de fato
E amolece o tato ao vento que sopra
Contra o rosto insone e cansado de desidratar
Em saudade
Queima a alma pouco sã de sua própria demência
Mas não faz alarde a aparência
Que faz da cama seu divã
E forma-se a efervescência
Que toma a filosofia por ciência
E tem por essência servir à consciência
Como vilã
Faz tanto tempo que parece que foi ontem
E o que foi ontem nem lembrava mais de ter sido
Até que o reencontre em outro sono perdido
E que os sentidos se aprontem
Pois não me caberão para serem engolidos
A luz reflete sobre o quadro torto
E no outro mais bem colocado
E ambos parados
Me olham a vê-los com o olhar morto
E deslocado
Como quem olha um barco a zarpar do porto
E vou-me embora pelos quebrados
Da mente
E penso em gente do passado
E do presente
Ficando doente de tão elucidado
E curado de ser prepotente
Pelo repente disritmado
Que são os caminhos curvados
Repletos de paus tortos e desvirtuados
Do senso pré-estipulado
Que é imposto à vivência
Às vezes a saudade dá carência, é verdade
Mas ensina, quase sempre, que a vaidade não é atadura
E que a realidade parece sempre menos dura
Quando prevalece a paciência.
(Arthur Valente)
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Diga lá, meu irmão
O que é esse caos descontrolado?
E esse ódio tão sinceramente exposto
Por estes mascarados eufóricos
Profanadores do comportamento geral?
O que são esses meninos desalmados
Esfomeados de desgosto
Que já sujaram seu histórico
Antes mesmo da idade penal?
O que é esse som reverberado
Invadindo o público que não lhe é posto
Gerando preconceitos retóricos
Apesar de tão gostado pela massa?
O que são essas mortes violentas
Causadas friamente por quem tem posto
Tão cruéis e corpulentas
Por motivo de classe e de raça?
O que é tudo isso no envolto da beleza
Que não quer deixá-la livre
Pra ser o que se é?
O que é toda essa frieza
Sorrindo por trás dos calibres
De uma mãe que mal nos quer?
É o motivo pra sair de casa
Criar asas
E conquistar o tudo que é nosso
Mas que ainda não é.
(Arthur Valente)
E esse ódio tão sinceramente exposto
Por estes mascarados eufóricos
Profanadores do comportamento geral?
O que são esses meninos desalmados
Esfomeados de desgosto
Que já sujaram seu histórico
Antes mesmo da idade penal?
O que é esse som reverberado
Invadindo o público que não lhe é posto
Gerando preconceitos retóricos
Apesar de tão gostado pela massa?
O que são essas mortes violentas
Causadas friamente por quem tem posto
Tão cruéis e corpulentas
Por motivo de classe e de raça?
O que é tudo isso no envolto da beleza
Que não quer deixá-la livre
Pra ser o que se é?
O que é toda essa frieza
Sorrindo por trás dos calibres
De uma mãe que mal nos quer?
É o motivo pra sair de casa
Criar asas
E conquistar o tudo que é nosso
Mas que ainda não é.
(Arthur Valente)
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
A novidade vem da praia
Suo salgado tal qual o suíno
Balbucio besteiras como a um letrado babuíno
E como sou pouco comportado quando vivo
Quando me ignoram as ordens e os hinos
Quando só a mim e a quem me inclino
Por amor, sirvo
Viro bicho civilizadamente selvagem
Deixando descansar um pouco os ombros cansados
De tanto carregar as impalpáveis bagagens
Que me acompanham desde onde alcança o horizonte
Do passado.
E como canto alto e grito e faço e aconteço
E como desfaleço feliz a cada trago
Lembrando que ainda ei de acordar sossegado
Mesmo que doído
Com os carinhos inacabáveis do meu amor
Não mais perdido.
Esqueço como sou alegre e livre por essência
Mas não aqui. Não sobre o areial
Que sustenta o coqueiral a sambar com a cadência
Do vento mesclado em sal.
Mamãe, odoyá
Obrigado por me lavar as partes
As dores pungentes
E me transmitir pelo tato todas as vertentes
Das mais belas artes
E das mais nobres gentes
Salve, Oxóssi
Pela cura das matas
Opostas às pedreiras inacabadas
Da amada cidade
Que é também tão ingrata
Papai Ogun
Dai-me a força de teus braços
E o conforto de tua coragem
Pois sei que não importa qual será a próxima viagem
Nem se a passagem é só de ida
Porque por onde passar-me as imagens
Caminharei de cabeça erguida
Frente ao desconhecido que é em si a vida
Sem pele ou roupagem
(Arthur Valente)
Balbucio besteiras como a um letrado babuíno
E como sou pouco comportado quando vivo
Quando me ignoram as ordens e os hinos
Quando só a mim e a quem me inclino
Por amor, sirvo
Viro bicho civilizadamente selvagem
Deixando descansar um pouco os ombros cansados
De tanto carregar as impalpáveis bagagens
Que me acompanham desde onde alcança o horizonte
Do passado.
E como canto alto e grito e faço e aconteço
E como desfaleço feliz a cada trago
Lembrando que ainda ei de acordar sossegado
Mesmo que doído
Com os carinhos inacabáveis do meu amor
Não mais perdido.
Esqueço como sou alegre e livre por essência
Mas não aqui. Não sobre o areial
Que sustenta o coqueiral a sambar com a cadência
Do vento mesclado em sal.
Mamãe, odoyá
Obrigado por me lavar as partes
As dores pungentes
E me transmitir pelo tato todas as vertentes
Das mais belas artes
E das mais nobres gentes
Salve, Oxóssi
Pela cura das matas
Opostas às pedreiras inacabadas
Da amada cidade
Que é também tão ingrata
Papai Ogun
Dai-me a força de teus braços
E o conforto de tua coragem
Pois sei que não importa qual será a próxima viagem
Nem se a passagem é só de ida
Porque por onde passar-me as imagens
Caminharei de cabeça erguida
Frente ao desconhecido que é em si a vida
Sem pele ou roupagem
(Arthur Valente)
Assinar:
Postagens (Atom)