segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Visão



A verdade diz ser pura
Mas discordam quando dói
A mentira é atadura
Que quando descoberta, corrói

O céu é de bondade
Mas chato e tedioso
Já o inferno, em verdade
É frio e tenebroso

O bem é lindo e nobre
Porém, ingênuo e complicado
Enquanto o mal que é feio e pobre
É mais fácil de ser usado

A beleza da rosa é imponente
Mas morre ao fim do dia
Já o cacto que é resistente
É seco e sem alegria

Quando tudo parece perdido
E a opção tampouco existe
Não se faça abatido
Crie mais, não se limite.

(Arthur Valente)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Vagalumes




Na imensidão do horizonte
Eis que vejo sob a bruma
Tão leve quanto pluma
Algo vem de trás do monte

Destaca-se no escuro
Dançando em tom de claro
Sem limite de anteparo
Tão pequeno e seguro

Porém, de repente
Observo com atenção
Parecia reunião
Poderosa e abragente

E um ponto quase nada
Vem tornar-se um clarão
Luminosa multidão
Uma quase alvorada

E o mais interessante
É que o certo perdeu vez
O escuro se desfez
Por rebeldes tão brilhantes.

(Arthur Valente)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Esclarecimento




Pergunto-me com frequência
Não sei se por insegurança
Até onde minha ideia alcança?
Será que faz diferença?

A indagação me perturba
Me faz rolar a noite inteira
Será minha ideia passageira?
Simples fruto de uma mente desturba?

Percebo que não vou dormir
Caminho até a sala para pensar
Eis, então, que ouço me chamar
Uma voz estranha a grunhir

A voz me diz calmamente
Pra não mais me preocupar
E se põe a discursar
Faz-se muito convincente

Diz que entende o meu penar
Porque todo o poeta é carente
Quer ser ouvido pela gente
Mesmo que venham para criticar

E então ponho-me a perceber
Que não posso temer ser esquecido
Tenho que lutar pra ser ouvido
Mesmo que seja só após morrer.

(Arthur Valente)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Soldados


A farda nos camufla
Camufla a nossa essência
Um exército que marcha
Pela autoviolência

Todos robotizados
Por padrões preconcebidos
Animais aprisionados
Ideais já tão falidos

Preconceitos ensinados
São, por nós, aprendidos
Depois são repassados
E no sangue diluídos

Marionetes somos nós
Manipulados por bandidos
Se soltamos clara voz
Por ninguém somos ouvidos

Mas quando a verdade vier
E as armas forem ao chão
O sol vai se abrir
Far-se-á a revolução.

Esqueceremos então quem fomos
Todas as trevas irão padecer
Seremos tudo que nós somos
Não o que nos mandaram ser.


sábado, 24 de setembro de 2011

Tédio



A tarde voava
O dia tão cinza
Frisava, ranzinza
Que o céu chorava

Chovia eu, também
Alma cansada
Quiçá disfarçada
Nem sei de quem

E lá fora, fumaça
Trapaça do tempo
Tudo mais cinzento
Frio que não passa

Tédio, apareça
Dia obscuro
Caiu de maduro
Na minha cabeça

Mas vale o momento
De desatenção
Montar a visão
Poetizada do tempo.

(Arthur Valente)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Filosofia Barata





Que queres de mim, vida?
Que me jogue a teus pés?
Que me arrisque ao revés?
Por que não me dás saída?

Que queres de mim, Deus?
Que te chame pai amado
Se nunca me vi carregado
Pelos fortes braços teus?

Que queres de mim, razão?
Que te use em meus dilemas
Se em milhares de problemas
Não encontro solução?

Que queres de mim, mulher?
Que te arrepie todo o dorso
E que depois de todo o esforço
Tu te dês à um qualquer?

Que queres de mim, eu?
Que me alimente todo o ego
Sendo que o peso que carrego
Mal me permite ser só meu?

(Arthur Valente)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Poesia da Barata






A barata quando corre
Corre sem ter direção
Se bebesse, era porre
Mas quer mesmo é refeição

Se arrisca e até morre
Por migalhas de pão
Enquanto a moça se socorre
Gritando em cima do balcão

E a pergunta que ocorre
À barata, em reflexão
É: "Por que a lágrima escorre
do monstro em cima do balcão?"

(Arthur Valente)