domingo, 2 de novembro de 2014

Conversa Fiada

Não sei quanto a você.
Tudo que tenho são especulações da minha identidade
Há muito acuso a mim mesmo por faltar comigo à verdade
E navego pelo íntimo caçando uma realidade de cada vez

Mas a realidade tá no mundo!
Tudo bem, eu aceito o argumento
Mas me defina por favor de qual mundo falamos no momento
Desse que se apresenta a meus olhos imbuído de sentido
Que a mim serve de explicação?
De um outro mais imaginativo,
Mas que tem lá suas provas de estar vivo
Através de suposição,
Ou do que vive em meu universo criativo
Mas que se reproduz na materialidade, por mim, em cada ação?

Você está confundindo prática com intenção?
Não!
Estou dizendo que os mundos se unem por pontos invisíveis
Mas que não são uma só figura definitiva
Que há sim mais de uma intersecção
Mas que entre todas a possibilidades há incríveis alternativas!

Nossa, quanta ilusão! Que romantismo barato!
Bom, peço perdão por estar um pouco anacrônico, talvez
Na forma de enxergar toda essa composição que me forma
A visão pra além do que relato
Ou talvez pra além do que me cabe relatar de uma só vez
E também me desculpo por acreditar que está dada sim a norma
Mas que esta própria em todos os mundos tem solução
E que só a tem
Porque sofre influência de outros aparatos, apesar de não ser destes refém.

Não tem vergonha de tamanha arrogância sob o véu de contemplação?!
Tenho vergonha de muitas coisas características em mim latentes
Mas, na verdade - se é que isso existe - tal reflexão
Não me toma em constrangimento
Tampouco me serve de corrente para estagnar minha desconstrução
Ou de instrumento para justificar o que em mim precisa se tornar diferente.

Então pra que te serve toda essa categorizarão, senão pra relativizar?
Boa questão. Vou deixar alguns motivos:
Primeiro, me segura em estar vivo ao me lembrar que tenho opção
Segundo, me conforta a orientação que adotei pra que a ela possa ajoelhar
Sem duvidar nem por um segundo de seu crivo
Por terceiro me deixa livre o pensamento pra sonhar

E, por último, mas não menos importante
Me faz lembrar que cada instante é aprendizado mútuo
Que da cada integrante de todos os mundos é agente bruto
A ser lapidado como diamante
Mas que o formato de tal jóia há de ser sempre projeto
E nunca uma constante
Tampouco que existe algo passível de ser por si só certo
Cada ponto variante é sujeito e objeto.

Meio pós-moderno tudo isso, hein?
Pode ser, mas a quem posso mentir?
Também sou fruto do que aprendi
Peça de meu próprio tempo histórico
Mas por essa distinção de mundos sei que estes vão pra além
Do que se pode divagar por qualquer artifício retórico
E eu vou junto desde o momento em que nasci.

Acho toda essa fala uma ladainha deslavada.

Isso é porque minha alma é suja, minha mente é festa
E meu corpo é disfarce
Mas, penso, que dessa união não há quem fuja
E que toda essa figuração é um enlace
Criado pela ineficiência ansiosa da razão.

Mas, de fundo, como todo o poeta, minha fala é cilada
E que, provavelmente, com toda essa digressão
Você não tenha entendido nada.


(Arthur Valente)


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