Voa, passarinho
Beija a flor e traga o cálice
Pra servir de táxi ao poder criador
Que a mãe natura fornece no ápice
Invariável de todo o seu amor.
Vem semente, cai do alto
Mas vai longe do berço que lhe era, antes, tranquilo
Pois, se ficas perto da tua inicial protetora
Progenitora
Será ela a autora de tua morte precoce
Sem vacilo
Mas acalma-te, pois basta do esquilo
Uma enterrada entre longos saltos
E um desapego da posse
Que tua força encantadora resiste.
E vira agente da vida, sob a úmida terra
E até merda, em ti, virará poética
Para te adubar e te fazer ascender na mais perfeita estética
E continuar o ciclo caótico, mas ordenado em grandeza profética
Que, a não ser pelo bicho violento que porta a serra,
Nunca se encerra.
(Arthur Valente)
terça-feira, 29 de outubro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Espelho Desgastado
O poeta é o mais burro entre todos os bichos
Pois, como o jumento, solta intermináveis urros de reclamação
E faz pouco de todos os nichos que habita
E se adapta
Pois é um eterno insatifeito consigo próprio
Ao mesmo tempo em que exalta a si mesmo e a todo o restante
Que alcança sua demente visão.
Aberração
Da contradição insensata que é viver como se fosse vocação
E se deixar pisar como se fosse barata
E é batata que vai morrer, mais dia ou menos dia,
Afogado em sua torpe mania de não saber lidar com sua efervescente
Indecente e vadia paixão.
É o inútil, inexato e inconstante
A mula que empaca ao ignorar o berrante
Brincando de alpaca ao cuspir de amor
E engasgar de dor num próximo instante.
Entediante por viver da rotina desregrada
Afinal, quem aguenta tanta mudança? Tanta esperança por nada?
Tanta vontade de ser criança encantada que por ter a mente ocupada
Numa frenética e caótica dança
Esquece-se de manter atenta ao fato de que não pode alcançar
Ao menos, não desta forma desordenada,
Mais do que seu braço alcança.
Assumo a imbecilidade.
Não me sigam, nem me ouçam.
Não sou nada além da vaidade do ser combinada
Às sensações abstratas que de mim se apossam.
Não sou inteligente, nem inteligível
Não sei sintetizar mais do que já me fora deglutido
Após tanta mastigação do que não pode nem ser crível
Nem ensinado, tampouco sabido.
Ouçam os pragmáticos e os cientistas
Pois de nada servem os idealistas sonhadores e empáticos.
São, como eu, os piores enganadores
Pois são, fazendo-se guerreiros, trovadores estáticos.
Apocalíptico sou mais por gosto, talvez
Que por desgosto de assistir ao declínio do concretismo
Cético e crítico, mas só com o que de fato sismo
Proletário, revoltado e revolucionário
Mas burguês.
Sou pau - de-virar-tripa! - pois já nasci torto e desendireitado
Indesejado até por quem diz me amar
E vivente afinco, todo o dia, quase morto
Ativo e invariavelmente cansado.
Assim sou e já aviso pra não haver mais enganação
E só não peço perdão porque, como se não bastasse, por fim
Sou também mal-educado.
(Arthur Valente)
Pois, como o jumento, solta intermináveis urros de reclamação
E faz pouco de todos os nichos que habita
E se adapta
Pois é um eterno insatifeito consigo próprio
Ao mesmo tempo em que exalta a si mesmo e a todo o restante
Que alcança sua demente visão.
Aberração
Da contradição insensata que é viver como se fosse vocação
E se deixar pisar como se fosse barata
E é batata que vai morrer, mais dia ou menos dia,
Afogado em sua torpe mania de não saber lidar com sua efervescente
Indecente e vadia paixão.
É o inútil, inexato e inconstante
A mula que empaca ao ignorar o berrante
Brincando de alpaca ao cuspir de amor
E engasgar de dor num próximo instante.
Entediante por viver da rotina desregrada
Afinal, quem aguenta tanta mudança? Tanta esperança por nada?
Tanta vontade de ser criança encantada que por ter a mente ocupada
Numa frenética e caótica dança
Esquece-se de manter atenta ao fato de que não pode alcançar
Ao menos, não desta forma desordenada,
Mais do que seu braço alcança.
Assumo a imbecilidade.
Não me sigam, nem me ouçam.
Não sou nada além da vaidade do ser combinada
Às sensações abstratas que de mim se apossam.
Não sou inteligente, nem inteligível
Não sei sintetizar mais do que já me fora deglutido
Após tanta mastigação do que não pode nem ser crível
Nem ensinado, tampouco sabido.
Ouçam os pragmáticos e os cientistas
Pois de nada servem os idealistas sonhadores e empáticos.
São, como eu, os piores enganadores
Pois são, fazendo-se guerreiros, trovadores estáticos.
Apocalíptico sou mais por gosto, talvez
Que por desgosto de assistir ao declínio do concretismo
Cético e crítico, mas só com o que de fato sismo
Proletário, revoltado e revolucionário
Mas burguês.
Sou pau - de-virar-tripa! - pois já nasci torto e desendireitado
Indesejado até por quem diz me amar
E vivente afinco, todo o dia, quase morto
Ativo e invariavelmente cansado.
Assim sou e já aviso pra não haver mais enganação
E só não peço perdão porque, como se não bastasse, por fim
Sou também mal-educado.
(Arthur Valente)
sábado, 26 de outubro de 2013
Dos Registros
Passei
Despassado, mas gritante
E intenso
Como samba-enredo
Parei
Determinado a deixar-te
Cantante mesmo em silêncio
De sempre e desde cedo
Saltei
Ao topo da felicidade
Num instante, de azedo
Fiquei doce, por ti cercado
Versei
Em teu grimório abençoado
Como amante apaixonado
Pra que mesmo se distante,
Talvez infelizmente
Penso que mesmo se acabado
Nosso pulsar por agora enlaçado
Estarei aqui escrito e registrado
Contente, mesmo se triste
E presente
Mesmo se passado.
(Arthur Valente)
Despassado, mas gritante
E intenso
Como samba-enredo
Parei
Determinado a deixar-te
Cantante mesmo em silêncio
De sempre e desde cedo
Saltei
Ao topo da felicidade
Num instante, de azedo
Fiquei doce, por ti cercado
Versei
Em teu grimório abençoado
Como amante apaixonado
Pra que mesmo se distante,
Talvez infelizmente
Penso que mesmo se acabado
Nosso pulsar por agora enlaçado
Estarei aqui escrito e registrado
Contente, mesmo se triste
E presente
Mesmo se passado.
(Arthur Valente)
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Pelo Privilégio Público
Chorei ouvindo um tal Chico
Pela voz, pelo poema
Mas mais pela lembrança
De uma tão doce infância
Que me serve de emblema
Ao compará-la aos atuais problemas
Com os quais tanto implico
E notar que, num paradoxal dilema,
Fui e sou, apesar do furo colossal nas finanças,
Comparado aos mais pisados pelo sistema
Muito rico
Pois, privilegiado sou ao ser vivido
De conhecimento aprendido sendo ou não estudado
Numa terra de perdidos e lesados
Por seus presentes e por seus passados,
E mais ainda por seus empregos desafortunados
E por suas fortunas de ouros perdidos,
Falidos e roubados
Assumo meu amor, meu desejo
Pela cor verde que ao passar, vejo
E digo, pois, que de tão linda
Vem-me remediar o fraquejo
E manter-me são
Porém, reconheço que, apesar do ser não ser só de pão
Esse, quando falta, mata a sanidade
E coloca o íntimo abaixo do cão
Portanto, devo dizer, em verdade
Que deste não grito a necessidade
Ao menos não ainda
Como em muitas mesas dos campos e das cidades
Sedentas e jogadas à falta de opção
Contrastando a terra mesma de Oxum encharcada
E da seca depravada que mutila a gente coitada
Do sertão
Tenho sorte de estar, agora,entre os coqueirais nutridos
Mas, ao olhá-los, encontro seu histórico ambíguo
Pois carregam bacias de sangue
Sob a areia
Sangue este deixado por artérias e veias,
Bebido e tristemente degustado
Pela miséria feia
Que afronta e massacra entre guetos e cadeias
Principalmente os de pele mangue
Abençoado sou, há quem diga
Mas peço atenção
A esta ensinada e propagada expressão
Aos desnutridos de corpo e de coração
Que a bênção só será quando for por todos conseguida
E quando não mais houver esquecimento divino
Acerca do brejo
E por conta da percepção à qual me inclino
Grito de dor aos meus pobres irmãos
De amor e de comida
Para que a mão de punhos cerrados
Seja finalmente erguida
E daí, em pública condenação,
Caem os privilégios.
(Arthur Valente)
Pela voz, pelo poema
Mas mais pela lembrança
De uma tão doce infância
Que me serve de emblema
Ao compará-la aos atuais problemas
Com os quais tanto implico
E notar que, num paradoxal dilema,
Fui e sou, apesar do furo colossal nas finanças,
Comparado aos mais pisados pelo sistema
Muito rico
Pois, privilegiado sou ao ser vivido
De conhecimento aprendido sendo ou não estudado
Numa terra de perdidos e lesados
Por seus presentes e por seus passados,
E mais ainda por seus empregos desafortunados
E por suas fortunas de ouros perdidos,
Falidos e roubados
Assumo meu amor, meu desejo
Pela cor verde que ao passar, vejo
E digo, pois, que de tão linda
Vem-me remediar o fraquejo
E manter-me são
Porém, reconheço que, apesar do ser não ser só de pão
Esse, quando falta, mata a sanidade
E coloca o íntimo abaixo do cão
Portanto, devo dizer, em verdade
Que deste não grito a necessidade
Ao menos não ainda
Como em muitas mesas dos campos e das cidades
Sedentas e jogadas à falta de opção
Contrastando a terra mesma de Oxum encharcada
E da seca depravada que mutila a gente coitada
Do sertão
Tenho sorte de estar, agora,entre os coqueirais nutridos
Mas, ao olhá-los, encontro seu histórico ambíguo
Pois carregam bacias de sangue
Sob a areia
Sangue este deixado por artérias e veias,
Bebido e tristemente degustado
Pela miséria feia
Que afronta e massacra entre guetos e cadeias
Principalmente os de pele mangue
Abençoado sou, há quem diga
Mas peço atenção
A esta ensinada e propagada expressão
Aos desnutridos de corpo e de coração
Que a bênção só será quando for por todos conseguida
E quando não mais houver esquecimento divino
Acerca do brejo
E por conta da percepção à qual me inclino
Grito de dor aos meus pobres irmãos
De amor e de comida
Para que a mão de punhos cerrados
Seja finalmente erguida
E daí, em pública condenação,
Caem os privilégios.
(Arthur Valente)
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Semi-Deusa
Uau! Que belo desenho vivo!
Olhei teus traços e segurei o queixo já caído
E o coração, por empenho, disparado
E por tão extasiado ao reconhecer teu ser engrandecido
Peguei-me reflexivo e maravilhado
Ao imaginar teu esboço estético
Sendo planejado, construído, trabalhado e lapidado
Por seres proféticos, providos do invisível idealizado
E que, penso, queriam contigo
Deixar registrado
Uma verdadeira arte caminhando
Entre os simples e humanos arquétipos
Sendo o teu sorriso tão incrível
E mesclado com maestria e cuidado
Às tuas sardas e aos teus olhos apertados
Mas dotados do traço mais expressivo
E teus cabelos encaracolados
Que de tão magistralmente delineados
Seriam considerados, se atentados fossem,
Subversivos
Mas não sei bem qual é a tua entidade mãe. Ou pai
Porque tua cor denuncia uma filha de Tupã
Mas de teu sorrir, abre-se, da alma, o apetite
E eis, então, que Afrodite sai
Porém, em tua pele macia em critério sinto Oxum e Nanã
E do teu jeito mistério, Iansã grita
Bradando a chuva do ser que instiga e cai
Já de teus beijos molhados, bem dados
Sinto a explosão do dionisíaco
Que me faz correr pelo paradisíaco
Nu de essência e sossegado
Enquanto o mundo cru que roda ao lado
Parece, em tua cadência, ter parado
E ai, me vens com tuas obras fantásticas
E perco meu ar ao notar
Tua sensível habilidade
De entender o que dizem os olhos a vagar
Espalhados e gritando o inaudível
Pela torpe cidade
E ainda, de querer reproduzi-los para as artes plásticas
Num jeito próprio que me invade e conquista
E ponho-me, a eles, como autista
Pois me fazem querer não parar de olhar
Tu és a beleza que de tão majestosa
Quase me persuade a crer que é criada
E, pela própria natureza grandiosa
És também criadora das mais talentosas
E encantadas
Não falei de teus lábios, nem de tuas pernas
Porque, num senso que acho ser sábio
Se falasse de ti por inteira
Esta versada brincadeira seria eterna
Digo só, por fim
Que, por mim, continuo a contemplar-te
E tocar-te se, quando e como for possível
Pois do néctar que és, como arte, estou passível
Ao sentir sede, quando longe, num desejo intensamente incerto
E ao me embriagar, em cada tua parte,
Quando perto.
(Arthur Valente)
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Autocrítica ao Todo
Acho graça nos radicais sectários
Pois fecham a si mesmos
Em seus imutáveis ideais
Encondendo-os sob um véu arbitrário
Guardando suas jóias atemporais
Seus pedestais
Em intocáveis e ilhados armários
E os vejo gritando e brigando
Pelo alimento do ego
Mascarando o Devir em traje chato
E insensato
Dado que, como dividir o pão,
Degladiando-se ainda pelo prato?
Procuram o ideal na pureza
Pra que emerja como se fosse divino
E entram em conflitos contínuos
Desprovidos de clareza
Perdidos em seus dogmas
E desígnios
Como a plebe de discurso falido
Voltando-se ao ar de nobreza
Pois, se posso opinar
Descarto a pureza imposta
Ao encontrar a verdadeira grandeza
Na mistura
Como ao poeta que é branco na crosta
Mas no núcleo de ser
Veste-se em pele escura
Escrevendo o que da alma brota
Inteligível só pela busca do ascender
Da língua
Mas mais belo pelas rasuras
Pela míngua de frieza, de pudor
E mais sábio por se deixar criticar
Que desfrutemos do nosso livre sonhar
Em sublime e apaixonada aspiração
Mas lembremos que o caminhar
Só será evolução
Quando nos propusermos a ouvir
E aprender com a dita outra visão
E que só pode ouvir quem espera o falar
E que dar atenção é querer progredir
E que progressão social é amar
A imperfeição do viver
Atentando-se à beleza do criar
E, enfatizo, do servir
Sem ser servo, nem barão
Sem presunção de antever
O que ainda não se sabe se será
Mas num aglomerado de respeito
E abertura
Pra se encontrar a união das conjunturas
E dos sujeitos
Construindo, a despeito do ultrapassado
A Revolução
Para o que há muito se tem lutado
E que sempre deve ser lembrado
Sendo acesso ilimitado e compaixão
Chega de querer liberdade
Pela segregação
Viva a individualidade sim!
Mas só se chega ao fim
Na concepção de Marx a Bakunin
Pela cooperação.
(Arthur Valente)
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Às Mudas Arrancadas
Vi o pútrido representado pela inocência
De quem perdeu, de cedo, a confiança
Vi os choros mudos de carência
Bradarem, em coro, a violência
Sofrida na infância
Não vi seus rostos, mas suas almas
Grandiosas como só as de criança
Diminuídas pela matança
De sua ingênua e livre calma
Prenderam-nas no mundo do cinza
Onde o choro não sai e o tempo não para
Onde uma vez só dor vem e não sara
E onde o exemplo de maldoso faz cara
Tão monstruosa e profanadora quanto ranzinza
Chorei por elas todas e pelo resto
Pois não tentem convencê-las do amor quando já crescidas!
Depois das marcas, tão profundas feridas
Que lhes deixaram o semblante indigesto
Nada lhe passou a ser mais nefasto do que nós
A voz do futuro se cala em traumática vergonha
Pois mostraram-lhe que anda, por aqui, só
Cercada de exceções regradas e medonhas
Como vai este futuro
Poder um dia desfrutar do dionisíaco
Se lhe mostraram o que chamamos, em geral, paradisíaco
Como a uma cela infernal de medos
Cercada de muros?
Peso-me por elas e por todos
Pois nosso lodo é mais espesso
E nossa moral concreta em gesso
Nossa não, perdão
A moral a qual somos avessos, por imposição
Prova a cada dia que não só passara da idade
Mas que não serve nem de rodo, nem de balde
E assim ganha o lodo mais densidade
E afoga-nos em desumanização.
(Arthur Valente)
De quem perdeu, de cedo, a confiança
Vi os choros mudos de carência
Bradarem, em coro, a violência
Sofrida na infância
Não vi seus rostos, mas suas almas
Grandiosas como só as de criança
Diminuídas pela matança
De sua ingênua e livre calma
Prenderam-nas no mundo do cinza
Onde o choro não sai e o tempo não para
Onde uma vez só dor vem e não sara
E onde o exemplo de maldoso faz cara
Tão monstruosa e profanadora quanto ranzinza
Chorei por elas todas e pelo resto
Pois não tentem convencê-las do amor quando já crescidas!
Depois das marcas, tão profundas feridas
Que lhes deixaram o semblante indigesto
Nada lhe passou a ser mais nefasto do que nós
A voz do futuro se cala em traumática vergonha
Pois mostraram-lhe que anda, por aqui, só
Cercada de exceções regradas e medonhas
Como vai este futuro
Poder um dia desfrutar do dionisíaco
Se lhe mostraram o que chamamos, em geral, paradisíaco
Como a uma cela infernal de medos
Cercada de muros?
Peso-me por elas e por todos
Pois nosso lodo é mais espesso
E nossa moral concreta em gesso
Nossa não, perdão
A moral a qual somos avessos, por imposição
Prova a cada dia que não só passara da idade
Mas que não serve nem de rodo, nem de balde
E assim ganha o lodo mais densidade
E afoga-nos em desumanização.
(Arthur Valente)
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